Cinco canonizações simultâneas que mudaram o rumo da História

  • Plinio Maria Solimeo

Cinco canonizações que mudaram o rumo da história da Igreja e do mundo. Em 1622, foram declarados santos pelo Papa Gregório XV os beatos: Izidro o Lavrador, Teresa de Jesus, Inácio de Loyola, Francisco Xavier e Felipe Neri. Ou seja, quatro espanhóis e um italiano que, com exceção de Santo Izidro, são todos contemporâneos.

         É interessante notar que esse Papa, nascido em janeiro de 1554, subiu ao Sólio Pontifício no dia 14 de fevereiro de 1621 e, praticamente um ano depois, em março de 1622 fez essas canonizações. E, no mês seguinte, beatificou os veneráveis Pedro de Alcântara e Alberto Magno, futuro Doutor da Igreja. Um ano depois, no dia 8 de julho de 1623 entregava sua alma ao Criador com apenas dois anos de Pontificado.

         Assim esse Pontífice, em tão curto espaço de tempo, concorreu com essas canonizações que deram um tão grande impulso à Contra-Reforma, revigorando na Igreja o espírito do Concílio de Trento. Pois quatro desses santos mais o então beato Pedro de Alcântara foram peças-mestras para contrarrestar os efeitos funestos do protestantismo na Europa, e reconquistar para a Igreja grande parte desse continente pervertida pela heresia.

         Apresentaremos um breve sumário desses santos canonizados por Gregório XV:

Começando pelo único dos cinco que não pertenceu ao século XVI, mas à Idade Média, Santo Isidro, o Lavrador (1082-1172).

Esse santo foi o primeiro leigo casado elevado à honra dos altares depois de ser instituído o processo de canonização pela Congregação dos Ritos. Humilde camponês, benfeitor dos mais pobres que ele, por seus inúmeros milagres começou a ser venerado apenas 40 anos depois de seu falecimento. Casado com Maria Toribia (Santa Maria da Cabeça), segundo antiga tradição tiveram um filho, Santo Illan.

         Desde o século XV seu corpo incorrupto era levado em procissões rogativas para se obter chuva. Embora não tivesse ainda sido canonizado, os madrilenhos lhe rendiam culto desde o século XII, e este foi se incrementando nos séculos posteriores. Pelo que as autoridades eclesiásticas, municipais e a aristocracia da cidade, apoiados pela Coroa Real espanhola, encabeçaram o pedido de sua canonização no século XVI.

         João XXIII, por uma bula de 1960 o declarou santo patrono dos agricultores espanhóis. Consta que seu corpo está incorrupto, se bem que mumificado.

Santa Teresa de Jesus (1515-1582) – Doutora da Igreja, foi das maiores figuras da Contra-Reforma pelo seu empenhou em combater a perniciosa doutrina protestante que se espalhava pela Europa. Ela foi sobretudo um dos mais excepcionais gênios que apareceram na humanidade, sendo admirada ou pelo menos respeitada até nos campos mais alheios e hostis à Religião.

         Reformadora do Carmelo, fundou 17 conventos de Carmelitas Descalças e, com São João da Cruz, dois de Frades reformados. Mestra e doutora da vida espiritual e grande mística, escreveu obras que se tornaram patrimônio universal da Igreja e que até hoje edificam e orientam seus devotos.

         A grande santa faleceu no dia 4 de outubro de 1582 pelo calendário Justiniano, ou nas primeiras horas do dia 15 desse mês segundo o novo calendário gregoriano.      

         Tal era sua fama de santidade em vida que, cinco anos antes de sua canonização as Cortes Gerais já a haviam escolhido para padroeira da Espanha, e a célebre Universidade de Salamanca lhe conferiu o diploma de Doctor Ecclesiae, que foi como que ratificado por Paulo VI em dezembro de 1970 ao lhe conferir o título de “Doutora da Igreja” ao lado de Santa Catarina de Siena.

Santo Inácio de Loyola (1491-1556) – Fundador da Companhia de Jesus e autor dos Exercícios Espirituais, o meio “mais sábio e mais universal para dirigir as almas no caminho da perfeição” (Pio XI).

Pajem na Corte espanhola, capitão ferido no cerco de Pamplona, convertendo-se durante a convalescença em cavaleiro de Deus e de sua Mãe Santíssima.

Recebeu de Nossa Senhora a inspiração de escrever os Exercícios Espirituais, estudou nas Universidades de Salamanca, Alcalá e Paris, sempre muito perseguido e denunciado à Inquisição como pregador de novidades. No Colégio de Santa Bárbara em Paris, atraiu a si seis discípulos, e com eles fundou no ano de 1534 a Companhia de Jesus.

         É impossível abranger num limitado espaço toda a odisseia dos jesuítas no mundo. Basta dizer que a Companhia de Jesus teve um papel insubstituível na Contra Reforma católica, conquistando ou reconquistando almas em todo o mundo conhecido – sobretudo na Alemanha com São Pedro Canísio – para preencher a lacuna deixada pela heresia protestante em quase metade da Europa. Santo Inácio morreu em Roma no dia 31 de julho de 1556 e foi beatificado por Paulo V em 1609.

         A Companhia de Jesus se gloria com razão, de contar entre seus fundadores São Francisco Xavier (1506-1552), o maior missionário do século XVI. Convertido por Santo Inácio e seu discípulo, como jesuíta foi enviado ao Oriente, tornando-se o grande apóstolo da Índia e do Japão. Segundo afirma a Igreja, converteu mais pagãos à verdadeira religião que qualquer outro missionário desde São Paulo.

         De uma das famílias mais aristocráticas da Navarra, aos catorze anos ingressou no Colégio Santa Bárbara onde conhecerá Inácio de Loyola e se tornará seu discípulo e um dos fundadores da Companhia de Jesus.

         Depois de evangelizar a Índia, o Japão e várias possessões portuguesas do Oriente, acalentado pelo sonho de ir conquistar para Deus a China onde era então proibida a entrada de estrangeiros, desembarcou na ilha de Sanchoão, não longe das costas do Celeste Império, esperando uma oportunidade de nele penetrar. Lá, doente e abandonado pelo seu próprio criado, morreu no dia 3 de dezembro de 1552 deitado numa humilde esteira de palha e abraçado ao crucifixo.

         Bento XIV o declarou patrono de todas as missões do Oriente. São Pio X escolheu-o para “celestial patrono da Congregação e da Obra de Propagação da Fé”, e Pio XI o proclamou padroeiro universal das missões, juntamente com Santa Teresinha do Menino Jesus.

No processo de canonização do grande Apóstolo do Oriente a Santa Sé reconheceu 24 ressurreições juridicamente provadas e 88 milagres admiráveis por ele operados em vida. Seu corpo permaneceu incorrupto por séculos, são venerados mumificados em Goa, na Índia.

São Felipe Néri (1515-1595), o único santo não espanhol canonizado pelo Papa Gregório XV, fundador dos padres do Oratório, pelo seu caráter amável já de pequeno era conhecido pelos seus como “Pippoil Buono” (o bom Felipinho). Mais tarde seria chamado de “o santo da alegria” ou “o jogral de Deus” devido à sua famosa frase: “Longe de mim o pecado e a tristeza!”.

Estudou humanidades em Florença e aos 18 anos sentiu-se movido pela graça a se dedicar ao serviço de Deus, indo para Roma onde começou a tratar dos pobres e necessitados. Lá, sem pensar no sacerdócio, viveu como leigo por 17 anos, ligando-se de amizade a Inácio de Loyola.

Ordenado sacerdote, começou o movimento que viria a dar na Congregação do Oratório. O célebre compositor Giovanni Palestrina foi um dos seus seguidores, e compunha músicas para seus serviços.

Como diz o Martirológio Romano Monástico, “Seu comportamento paradoxal e alegre lhe permitia fazer refletir àqueles que abordava, e revelar a sorridente liberdade dos filhos de Deus aos jovens, que gostavam de se reunir perto dele em suas orações, ou ‘oratórios’, para rezar e cantar. A congregação do Oratório continuou, depois dele, esta forma de apostolado”.

         O santo entregou sua bela alma a Deus no dia 26 de maio de 1595, sendo beatificado em 1615 pelo Papa Paulo V, e canonizado por Gregório XV em 1622.