“EM DEFESA DA AÇÃO CATÓLICA”

  • Frank Seidl

Tenho lido artigos sobre o lançamento, há 80 anos, da monumental obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Em Defesa da Ação Católica. O recuo histórico nos proporciona a análise da monumentalidade dos acontecimentos. O que se pode considerar História? Fatos acontecidos, dignos de memória. Se há um fato acontecido, digno de muita memória, foi esta batalha contra o Progressismo nascente.

Poucos viam a germinação da crise na Santa Igreja Católica, encriptada nos movimentos litúrgicos, no período entre-deux-guerres.

O grande líder católico discerniu o perigo e lançou-se no empreendimento de denunciá-lo, consciente do alto preço que pagaria por este ato de fidelidade à Santa Igreja. Foi uma verdadeira operação kamikaze, que lhe custou anos de ostracismo.

Durante os anos sucessivos, fomos colhendo os frutos desta epopeia. As repercussões vieram sobretudo do terreno inimigo, que atestava o acerto de golpe recebido.

Não resisto de relatar uma experiência pessoal.

Nos albores deste século, encontrava-me na Sardenha, acompanhando uma imagem peregrina da Virgem de Fátima, pertencente à associação italiana LUCI SUL’ EST. Essa imagem percorria os países do Leste Europeu, após a queda do Muro de Berlim. Quando não estava percorrendo aqueles países, oferecíamos uma visita dela aos colaboradores da entidade, a suas residências, aos hospitais, presídios e — quando requisitada por algum sacerdote ou bispo — às igrejas.

Um sacerdote idoso a tinha requisitado. Entretanto, não tinha feito os devidos acertos com o pároco. E por ser emérito, não imaginava que o titular pudesse interpor qualquer impedimento a um ato de piedade mariana, sobretudo à mensagem de Fátima.

Na véspera da peregrinação à sua paróquia, fomos fazer os acertos finais. Deparamos com um sacerdote septuagenário, em estado de forte tensão emocional. Tentamos saber a razão e ele logo foi dizendo: “Conheço bem o movimento TFP então quero saber”. Explicamos que Luci Sul´Est não é TFP, embora tenha sido igualmente fundada por orientação do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.

— Pois é! PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA! Aí está o problema. Vivi no Brasil muitos anos, chegando a Vigário Paroquial de “X”. Eu era ainda jovem, mas lembro perfeitamente daquelas polêmicas de Dr. Plinio com Tristão de Ataíde!

E o sacerdote punha as mãos na cabeça. Já tinham decorrido mais de 50 anos e ele não podia esquecer nem perdoar.

Em seguida nos disse: “Por isto não sou favorável a essa ação de vocês. Se quiserem, levem a imagem à casa das irmãs de caridade aqui próxima”. E assim o fizemos.

No dia seguinte, a superiora veio pedir-me alguns esclarecimentos, dizendo que o referido sacerdote reunira o conselho paroquial e comentara sobre a TFP: “Aqui na Itália eles promovem a devoção mariana, no Brasil, andam com a bandeira vermelha na rua”.

“Então ele insinuou que somos comunistas?”. A religiosa respondeu afirmativamente. Expliquei que o estandarte vermelho das TFPs representava exatamente o oposto do comunismo. E acrescentei: Vou lhe dizer porque Don Mimo não gosta de nós:

A senhora sabe que o grande Papa São Pio X combateu valentemente o Modernismo. Eles se esconderam e infiltraram-se nos movimentos litúrgicos, notadamente na Ação Católica brasileira. Dr. Plinio os denunciou. Daí a inimizade.

Ela ficou pensativa e comentou: Dom Mimo é um sessantotino. Isso quer dizer que era um adepto da Revolução da Sorbonne de 1968, ou seja da IV Revolução, segundo a análise feita na obra Revolução e Contra-Revolução.

Tive uma demonstração clara do nexo entre Comunismo/Liturgicismo/IV Revolução, reunidos na mesma pessoa do religioso pouco devoto da Santíssima Virgem.