
Carlos Sodré Lanna
Em todas as regiões brasileiras, mesmo nos mais remotos rincões, são realizadas anualmente festas religiosas fixas e móveis, nas quais, não raro, de forma até pitoresca, se manifesta a alma católica da Nação.
Certos pormenores desses festejos refletem costumes tradicionais de festividades análogas da Europa, sobretudo realizadas em nossa mãe-pátria, Portugal.
Assim, temos as festas do Divino Espírito Santo, de Corpus Christi com tapetes multicolores nas ruas [foto abaixo], e numerosíssimas celebrações em homenagem a Nossa Senhora e a grande número de Santos e Santas da Igreja Católica.
Quase todos esses festejos começam, dias antes, com tríduos ou novenas. Então, as ruas das cidades são ornamentadas com bandeiras, flores de papel de seda e crepom, arcos de bambus ou taquaras e ramos de palmeira.
Junto à igreja ou capela realiza-se a quermesse: algumas barraquinhas com comidas e bebidas típicas de cada região, além de jogos e diversões variadas.

Principalmente o dia do Santo que se comemora é marcado com alvorada de foguetes ou tiros de garrucha, repicar de sinos, bandas de música, balões e desfiles folclóricos.
Muito comum é o ritual do hasteamento do mastro com a bandeira, na qual figura o santo, a santa ou seus símbolos.
As fogueiras, os fogos de artifícios, rojões, morteiros e os tiros de trabuco carregados com pólvora seca podem ser também observados.

Há festas em que são realizadas cavalhadas, na forma de cortejos a cavalo, que acompanham os festeiros [fotos ao lado e abaixo]. Muitas vezes a cavalhada sai em busca do rei e da rainha da festa para conduzi-los à igreja. Há ainda irmandades que se apresentam a cavalo e outras que desfilam a toque de tambores.
Parte importante do programa de várias festas são os cortejos de carros de bois, carroças e outros veículos campestres, enfeitados com bandeiras ou flores. Os desfiles de veículos motorizados muito numerosos são manifestações características das festas em louvor a São Cristóvão.
Em certas comemorações, como a do Divino, São Jorge, São Sebastião e São Benedito, a organização fica sob responsabilidade das irmandades leigas, com mais autoridade, nessas ocasiões, que a dos próprios vigários ou sacerdotes.
Em muitas festas, são realizadas visitas aos presos, oferecendo-se-lhes almoço e obtendo-se, por vezes, a libertação de um ou dois deles. Em outras, fazem-se visitas aos doentes nos hospitais e santas casas, oferecem-se refeições aos pobres e, em muitas ocasiões, são distribuídos alimentos ao povo em geral, como carnes, pães, doces e salgados, além de bebidas não alcoólicas e café com leite.
Especialmente na véspera e no dia do Santo festejado, realizam-se danças folclóricas, diversas competições e até touradas. Para as crianças, outros jogos como o pau-de-sebo, quebra-pote e corrida de saco.
São numerosíssimas as procissões terrestres, fluviais e marítimas [foto abaixo], com andores ricamente ornamentados do Santo ou Santa homenageados. Cumpre destacar ainda as bênçãos dos animais, leilões de prendas, garrotes, bois, cavalos e aves.

Os personagens dirigentes dos festejos passam a ser chamados rei e rainha, imperador e imperatriz, festeiro e festeira, juiz ou juíza.

Estas festas fixas e móveis representam, na vida nacional, fator de consolidação dos laços sociais das coletividades-sede. Tais festividades, com efeito, constituem ocasiões para encontros de parentes, amigos e conhecidos, muitos residentes em lugares longínquos, bem como para novos relacionamentos com estranhos, que poderão vir a frequentar e prestar seu concurso às comunidades promotoras dos festejos.
Embora com pouca cobertura da grande imprensa nacional, tais comemorações constituem importantes e autênticas expressões da religiosidade católica brasileira, merecedora de apoio, incentivo e divulgação.
____________
BIBLIOGRAFIA :
- Rossini Tavares de Lima, Folclore das Festas Cívicas, Irmãos Vitale Editores. São Paulo, 1980.
- Luís da Câmara Cascudo. Dicionário do Folclore Brasileiro. Inst. Nacional do Livro. Rio. 1954.
- Maria do Rosário de Souza T. de Lima. Mitos que fizeram História, D.O. Leitura (IMESP). São Paulo. março/93.
Excelente artigo!
Publiquei-o na íntegra no http://blogdonavarro2010.blogspot.com.br/2018/05/a-cultura-brasileira-e-muito-rica-de.html
Edson Navarro Tasso
Belo trabalho do autor do artigo. Parabéns. É inquestionável que a alma do Brasil (pura metonímia)é católica. O brasileiro é essencialmente um povo católico. Há tempos o país foi considerado “a maior nação católica do mundo”). Apesar das mil manobras – morais, religiosas, políticas e ou sociais – para se alterar esse estado de espírito, na tentativa de nos transformar em um país ateu, materialista e miserável, percebe-se claramente um quê de proteção divina, sobrenatural, impedindo essas investidas. Com um pouco mais de luta, de fé, de garra, enfim, esse subjacente espírito católico acabará por extirpar em definitivo esses resquícios deletérios que nos assombram momentaneamente. Creio, mais até do que creio em mim mesmo, levando em consideração toda essa religiosidade popular que, em breve, Aquele Imaculado Coração há de triunfar. E este será, na verdadeira acepção do termo, um país católico por excelência.
Temos no Brasil atual 5570 municípios em cada um deles na maioria de religião católica onde se comemora em determinado dia do ano uma das festas enumeradas neste artigo o que daria nos 365 dias do ano 15 comemorações por dia em cidades diferentes. Nas maiores é grande a presença de público as vezes com feriados municipais assim em todos os dias do ano temos celebrações religiosas de cunho popular o que demonstra o espírito de piedade do povo brasileiro.
Interessante ressaltar que na maioria das vezes as iniciativas são de pessoas das comunidades e associações civis sem participação direta do clero na organização que só toma parte em seu papel próprio na esfera religiosa.
As cavalhadas são festas populares de origem portuguesa realizadas em cidades de Goiás, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e alguns estados do nordeste. Tem origem nos torneios de cavaleiros da idade média e vieram para o Brasil no século XVI. Consiste em cenas ao ar livre de uma batalha entre cristãos e mouros e os primeiros vitoriosos convertem os mouros aos cristianismo.Existem várias etapas nas cavalhadas : corrida de cavaleiros, jogo de argolas, várias provas e desfiles dos participantes. As cavalhadas fazem referencias ao período da reconquista e expulsão dos muçulmanos da península ibérica. Os cavaleiros usam máscaras e roupas coloridas e seus cavalos também são ornamentados os cristãos com vestimentas azuis e os mouros de vermelho.
MUITO BOAS AS ESCOLHAS DAS FESTIVIDADES QUE DEMONSTRAM A RELIGIOSIDADE POPULAR NO BRASIL COSTUMES COM ORIGENS EM PORTUGAL E VEM DE LÁ APÓS O DESCOBRIMENTO.
DARIA PARA SE ESCREVER LONGAS REPORTAGENS E SERIA QUASE IMPOSSÍVEL ACOMPANHAR
TODAS AS COMEMORAÇÕES REALIZADAS NO PAÍS INTEIRO. ESSAS INICIATIVAS PARTEM DE PESSOAS LEIGAS NA MAIORIA DAS VEZES NEM LIGADAS AO CLERO O QUE TORNA MAIS AUTÊNTICA A RELIGIOSIDADE POPULAR EM NOSSO PAÍS, E CAUSA SATISFAÇÃO VER UM RESENHA DESSAS DANDO REALCE AO CATOLICISMO BRASILEIRO.