Medita nos Novíssimos e não pecarás eternamente

Plinio Maria Solimeo

O Divino Espírito Santo, pela boca do autor inspirado do livro sagrado do Eclesiástico, afirma: “Em todas as tuas obras, lembra-te dos teus novíssimos, e não pecarás eternamente” (7, 40).

Em uma reunião para jovens da TFP, no dia 23 de julho de 1983, o fundador da entidade, Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, trata exatamente desse assunto. Dela extraímos alguns pontos, adaptando-os à linguagem escrita.

Em sua exposição, o conhecido pensador e líder católico faz a pergunta: “O que quer dizer Novíssimo?”. Como fala a adolescentes, é muito didático. Por isso comenta que “a expressão desconcerta um pouco” o seu auditório, pelo que passa a explicá-la em câmara-lenta: “Diz-se que uma coisa é nova quando começa a existir. Tanto mais ela é nova, quanto menos tempo a separa do momento em que começou a existir. Assim, uma criança é novíssima no primeiro instante em que nasceu. Ela pode, ao longo de sua vida, aprimorar toda espécie de qualidades, viver cento e tantos anos, tornar-se santa, sábia etc. Uma coisa ela nunca mais será: tão nova quanto no primeiro momento em que nasceu”.

Dado esse conceito, o Prof. Plinio explica aos jovens discípulos: “Novíssimo aqui é tomado não no sentido português da palavra ou das línguas vivas de hoje que os senhores falam, mas no sentido latino da palavra. Em latim, novissimus quer dizer ‘as ultimíssimas coisas’. Novus é último. É o contrário de como se usa essa palavra na nossa língua. E novíssima diaes significa ‘o último dia’. Novíssimos são assim as últimas coisas que nos acontecerão. Daí, ‘medita nas últimas coisas que te acontecerão, e não pecarás eternamente’”.

Descendo mais ao fato concreto, diz Dr. Plinio: “A Igreja, Mãe sábia e infalível, nos ensina que os Novíssimos são as últimas coisas que acontecerão ao homem, e das quais não tem por onde escapar, aquelas coisas que encerram a sua existência terrena, que são o fim de sua história, e que são quatro: — Morte: Todos os homens morrerão. — Juízo: Ato contínuo depois da morte, todos serão julgados. — Inferno: Para os que morrerem impenitentes, em estado de pecado mortal, ou: — Paraíso: Para os que morrerem na graça de Deus”.

Pois, explica ele, com a morte se encerra a vida do homem. Todos, seja mendigo ou rei, milionário ou potentado, o homem mais deslumbrante ou o mais miserável da Terra, pouco importa. Sua vida se encerrará no momento em que ele fechar os olhos. Depois que o homem comparece diante do Supremo Juiz que ditará sua sentença para a eternidade, encerra-se sua história. Ele irá ocupar um lugar no Céu ou no Inferno. Porque na Eternidade não há mais história: há apenas, para os bem-aventurados, amor e deleite, e para os que forem para o inferno, horror, fogo e maldição. Não há por onde escapar.

Dr. Plinio continua explicando que “Deus dispôs as coisas de tal maneira em relação ao homem, que se nós quisermos olhar de frente as coisas, estamos o tempo inteiro andando em cima de um fio de navalha, podendo a qualquer momento ir para o Céu ou cair no Inferno”, se tivermos a infelicidade de ter uma morte repentina. “Porque o homem, enquanto está vivo nesta Terra, está entre a virtude e o pecado. A graça de Deus opera em seu interior; Nossa Senhora reza por ele; os anjos, os santos rezam por ele; ele sente as solicitações da graça. E, nas solicitações da graça, ele sente um apelo para ser bom. Aí está o papel da graça e de Nossa Senhora. Aí está a possibilidade de ele ir para o Céu de um momento para outro. Porque a morte a todos nos espreita e, a qualquer momento, pode nos colher”.

Isso pode ocorrer a todo momento: “Os senhores já imaginaram a que decadência chegaria a humanidade se não houvesse mortes repentinas? Se todo homem tivesse certeza de que a morte só o colherá depois dos 80 anos, quantos pecados ele cometeria antes dos 80? Incontáveis! Quer dizer, é efeito da bondade de Deus colocar essa espada sobre a cabeça de todos nós, para nos dar juízo, nos convidar a pensar na morte e compreender que todas as coisas dessa vida só valem alguma coisa na medida em que elas contribuírem para morrermos bem. Porque, morrendo bem, temos a eternidade; morrendo mal, nós temos também a eternidade, mas que eternidade!”

Concluímos com palavras de Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja, sobre o assunto: “Meu irmão, nós cremos ou não cremos. Se crermos que há uma eternidade, que se tem que morrer, e que se morre uma só vez, de sorte que, se então não tomamos a resolução de nos afastar de todo o perigo de perdição e de tomar todas as providências para nos assegurar uma boa morte, nenhuma cautela será demasiada para nos garantir a vida eterna. Os dias de nossa vida são outras tantas graças que Deus nos concede a fim de ajustarmos as nossas contas para a hora da morte. Apressemo-nos, pois não há tempo a perder. A morte é o momento do qual depende nossa eternidade. A sua sorte depende do último suspiro, do qual, no mesmo instante, a alma ou está salva, ou condenada para sempre”.