O exorcista

Afresco do artista italiano Giotto (1267-1337) na Basílica Superior de São Francisco em Assis. Representa a expulsão dos demônios da cidade de Arrezzo (Toscana). Do lado oposto à catedral gótica, os demônios fogem com o exorcismo feito por São Francisco de Assis
Afresco do artista italiano Giotto (1267-1337) na Basílica Superior de São Francisco em Assis. Representa a expulsão dos demônios da cidade de Arrezzo (Toscana). Do lado oposto à catedral gótica, os demônios fogem com o exorcismo ordenado por São Francisco de Assis

As Sagradas Escrituras apresentam muitos casos de possessão diabólica, quando um ou mais demônios se apoderam das pessoas. No Novo Testamento, o evangelista São Mateus cita o mandado de Jesus Cristo: “Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios” (Mt 10,8).

Para São Boaventura, a argúcia e a espiritualidade dos demônios os levam a penetrar nos corpos e neles se fixarem; por sua força angélica, eles podem atormentá-los, a menos que o impeça um agente superior, ou seja, um padre exorcista. Adolphe Tanquerey, teólogo francês, assim explica a ação do demônio sobre os homens:

“Cioso de imitar a ação divina na alma dos santos, esforça-se o demônio por exercer também o seu império, ou antes, a sua tirania sobre os homens. Às vezes […] instala-se no corpo e move-o a seu talante, como se fosse senhor dele, a fim de lançar a perturbação na alma”. A este fenômeno se chama possessão.

O possuído às vezes se contorce, fala palavrões, movimenta-se como se fosse uma serpente, debate-se, quebra tudo ao seu redor, seus olhos se movimentam de modo desordenado, entende com perfeição a língua latina, exerce uma ação demasiadamente grande, faz uso de uma força de que o ser humano é incapaz, impõe a desordem e o desequilíbrio na residência onde vive.

A sua atuação, na cidade ou na região, é como se fosse uma cabeça de ponte para as influências malignas, em oposição à ação benfazeja da Eucaristia no sacrário. Ele exerce sem dúvida uma ação diametralmente oposta à influência sacralizante da Igreja na sociedade.

Isso explica por que as tendências, os humores, os pendores e as inclinações das pessoas da região onde vive o possesso fiquem mais vulneráveis às tentações e às infestações, bem como à aceitação de certas ideias, de chavões, mentiras, boatos e pecados. Trata-se de uma ação sobre a opinião pública, criando um clima psicológico favorável a atuação dos maus. O Ritual Romano – livro oficial do cerimonial eclesiástico – explica os sinais pelos quais se conhece a possessão.

O antídoto eficiente para combatê-la é o exorcismo, feito em nome de Deus e da Igreja. O exorcismo não apenas põe em fuga o demônio, devolvendo a paz à alma, mas abala todo o edifício satânico. A doutrina da “comunhão dos santos” ensina que há comunicação espiritual entre os membros da Igreja. Por que não haveria a “comunhão dos condenados”?

Uma figura adequada para retratar esta realidade é a dos vasos comunicantes. Na comunhão dos santos, uma alma que faça um ato de virtude potencializa todas as virtudes dos fiéis e dos santos. Na “comunhão dos demônios”, um demônio que se apodera de um corpo comunica a sua perfídia a todos os seus congêneres da Terra, dos ares e do Inferno.

A possessão de um corpo equivale, portanto, a uma torre de comando através da qual os demônios exercem a sua ação malfazeja para destruir a sociedade. Só o exorcista tem o poder de quebrar esta comunicação entre os demônios e os homens, pois não basta uma simples pregação, um conselho ou uma admoestação. Isto ajuda, mas não basta.

Pela “comunhão dos santos”, o exorcista enxota o demônio com essas palavras: “Conjuro-te diante de Deus e pela autoridade a mim concedida pela Igreja, retira-te espírito maligno desta pobre criatura, em nome de Deus Pai, em nome de Deus Filho, em nome de Deus Espírito Santo, em nome da Santíssima Virgem e de todos os anjos e santos da Corte Celestial, retira-te, espírito maligno, e não o apoderes mais”.

Esta ação do sacerdote, investido do poder divino e agindo em nome da Igreja, obriga o demônio a se retirar. Aparentemente ignorada, tal ação repercute na Corte celeste, na luta dos bons contra os maus. Pois se ao vicejar um vício todos os demais vícios ficam motivados e abalam as virtudes que se lhes são opostas, assim também se passa com a virtude: quando uma boa ação é praticada, todas as demais se revigoram.

Com efeito, nenhuma ação do homem é indiferente. Ao deixar o possuído, o demônio se contorce, estertora, lança-se de um lado para outro; a estrutura dos demônios fica abalada pelas consequências daquela derrota. Em contrapartida, os fiéis se sentem fortalecidos nas suas virtudes, e Deus, Nossa Senhora e a Santa Igreja são glorificados.

_______________
(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria (Cardoso Moreira – RJ) é colaborador da Agência Boa Imprensa (ABIM).

10 comentários para "O exorcista"

  1. Jorge Roriz   5 de fevereiro de 2015 at 16:10

    Diz o texto: O possuído as vezes……. “entende com perfeição a língua latina”
    Todo demônio entende latim?

  2. Jorge Roriz   5 de fevereiro de 2015 at 16:15

    Diz o texto:”O possuído às vezes se contorce, fala palavrões, movimenta-se como se fosse uma serpente, debate-se, quebra tudo ao seu redor, seus olhos se movimentam de modo desordenado, entende com perfeição a língua latina”

    Todo possuído entende latim com perfeição?

    • Paulo Roberto Campos   6 de fevereiro de 2015 at 23:39

      Prezado Sr. Jorge Roriz
      Enviei a questão levantada pelo senhor (comentário acima) para o autor do artigo “O Exorcista”, o Pe. David Francisquini, e ele remeteu a seguinte resposta:

      À pergunta sobre se todos os demônios entendem perfeitamente a língua latina, respondo que não só entendem, mas conhecem o que o exorcista reza em latim, no ritual romano. Eles podem até conversar e dizer coisas em latim clássico.

      Um dos sinais de que a pessoa está possuída é o fato de falar línguas desconhecidas e até mortas, sem antes tê-las conhecido. Como também se expressar na própria língua latina. Chegam até a corrigir o latim do padre quando este não o pronuncia bem ou não coloca os casos certos, por exemplo, sendo acusativo emprega o dativo ou o genitivo. Ele faz isso para humilhar o exorcista. Fala também outras línguas desconhecidas para confundir o exorcista. Quando este faz a pergunta em latim, ele pode responder em outras línguas, como em polonês, alemão etc.

      Ao consultar um padre exorcista de Cracóvia a respeito de exorcismo, ele me disse que havia no meio de uma multidão um ou dois possessos falando caldeu (língua morta).

      O conhecimento do demônio faz parte de sua natureza angélica (ele é um anjo decaído), e ultrapassa portanto o conhecimento humano. Coloquei no artigo a língua latina a título de exemplo, a fim de que o leitor possa compreender que o demônio é poliglota porque sua natureza supera em perfeição e capacidade a natureza humana. Ele possui conhecimentos que o homem não tem e fala línguas, mesmos as desconhecidas hoje em dia.

      Deus não suprimiu ou retirou dos demônios essa perfeição da natureza angélica. O conhecimento que eles têm das leis que regem o universo, da natureza humana, das leis físicas, químicas e biológicas, ultrapassa qualquer conhecimento humano. Normalmente Deus não permite que eles façam uso de sua capacidade cognitiva em detrimento dos homens. E, quando permite, é para castigar a humanidade por algum pecado coletivo ou castigar alguma pessoa por alguma ação má. Em alguns casos pode ser também para provação de um justo, como no caso de Jó, relatado na Sagrada Escritura. Ou então os prodígios que o demônio fez para tentar a Nosso Senhor no deserto (Mt 4,8).

      Pe David Francisquini

  3. Rosangela M L Penno   11 de fevereiro de 2015 at 17:02

    Todas as dioceses tem um padre exorcista? Como o padre exorcista atua em uma diocese? Quais os compromissos que ele cumpre e como ele é chamado a intervir em alguma suspeita de possessão?

    • Paulo Roberto Campos   13 de fevereiro de 2015 at 4:27

      Prezada Sra. Rosangela M. L. Penno
      Enviei a questão levantada pela senhora (comentário acima) para o autor do artigo “O Exorcista”, o Pe. David Francisquini, e ele remeteu a seguinte resposta:

      Nem toda diocese tem seu exorcista. Quem é o exorcista oficial, e tem a jurisdição para exorcizar é o bispo, que encarrega e providencia, conferindo a jurisdição aos sacerdotes que ele escolher.
      Na diocese de Roma há dois exorcistas, um oficial que é o padre Miguel Amorth, e um auxiliar que é o padre Francisco Belmonte. O padre Miguel Amorth chegou a censurar ou lastimar que os bispos não providenciam exorcistas em cada diocese. Chegou até a dizer que é muito difundida no meio eclesiástico a descrença da possessão, atribuindo-a a causas puramente patológicas.

      Aqui na diocese de Campos há três padres encarregados para o atendimento do ministério do exorcistado. O Sr. bispo fica contente e até dignificado por ter três padres que estão dispostos a atender os compromissos que impõe tão alto e sagrado ministério da Igreja. Foram investidos da autoridade sagrada de lutar contra o maligno. Eles agem em nome de Deus e da Igreja. Jesus, nosso Divino Mestre deu este poder à Igreja, a luta renhida contra o poder das trevas, conferindo à Igreja um caráter militante.

      Nem sempre em uma só sessão de exorcismo o demônio está disposto a bater em retirada, entregando os pontos. Depende muito da origem e causa pelas quais o demônio se apoderou do corpo de um pobre infeliz. Normalmente o possesso já em casa ou em algumas repartições começa a dar sinais estranhos, pertubando a tranquilidade interna do ambiente. A família ou vizinhos e mesmo os médicos aconselham a procurar um padre, porque a questão não é apenas psíquica, há uma pertubação mais alta, inconfundível com a doença. Daí, então, procuram um padre da paróquia, ou notícias sobre o ministério do exorcistato, e a vítima vem parar nas mãos caridosas do sacerdote exorcista. A partir daí o padre entra em contato pessoal com a família para desvendar o mistério, pede para trazer o paciente, passa a dar uma simples bênção, e face ao uso de medalhas, água benta, crucifixo e as orações, o demônio passa a se manifestar, o possesso se contorce e até mesmo perde os sentidos. O padre então passa a usar o exorcismo maior ou solene, dirigindo-se em nome da Igreja ou da autoridade de que foi investido.

      Muitas vezes a família leva ao psiquiatra ou psicólogo sem contudo ter melhoras. Os remédios aplicados não produzem os efeitos. Com isto também a família resolve apenas pedir uma bênção e com isto dá-se o contato com o exorcista, e verifica-se muitas vezes que a doença tem um caráter mais sério pelo fato de o paciente estar possuído de um ou mais espíritos infernais. Também neste caso o exorcismo vai eliminar a causa ou a raiz da doença, que é espiritual, como já me afirmou um médico amigo.

      Sendo o que tenho a dizer, me despeço pedindo orações e envio-lhe a bênção sacerdotal

      in Jesu et Maria
      Pe. David Francisquini

      • Rosangela M L Penno   13 de fevereiro de 2015 at 13:36

        Caríssimos,

        Agradeço a presteza da resposta, e agradeço ao Pe. David Francisquini pela explanação.

        Minha pergunta teve origem em uma homilia numa missa no domingo em que o celebrante afirmou categoricamente a não existência da possessão, atribuindo a desvios e ou fenômenos psico emocionais o comportamento estranho, diferente, depressões e outras condutas não consideradas normais.
        Esta afirmação do celebrante gerou várias opiniões contraditórias entre os fiéis e principalmente entre aqueles que sempre confiaram na palavra da Bíblia Sagrada.

        Obrigada mais uma vez,

        Rosangela M L Penno

  4. candida maria soares borges   13 de fevereiro de 2015 at 13:15

    tenho uma FILHA QUE DEPOIS DOS 20 ANOS COMEÇOU A FREQUANTAR UM CENTRO DE UMBANDA E CERTO DIA SAIU DE LA COM A CABEÇA ERGUIDA OLHANDO PORO CEU CAMINHOU POR MNAIS DE 30 MINUTOS com a cabeça esguida e dali pra frente nunca ais melhorou ja faz 5 anos que os pusiquiatras tratam ela de esquezonefrenia toma varios tipos de remedios os mais sofisticados para combate a doensa mas nao resolve nada ela fica agreciva para o olhar pra gente e se transforma fala muitos palavroens fala no diabo fala que quer matar um ouve voses tudo o que e de ruim ela dis fica internada 2 3b meses e sai no mesmo ja nao sei mais o que fazeere quando ela se transforma eu fasso oraçoens com muita fe dai ela vai se acalmando da impresao que baixa uma coisa satanica nela entao eu me pergunto sera da doensa mesmo tudo isso ……eu sou a mae dela

  5. Paulo Roberto Campos   16 de fevereiro de 2015 at 0:23

    Estimada Sra. Candida Maria Soares Borges. Encaminhei sua pergunta para o autor do artigo O EXORCISTA, o Padre David Francisquini, e hoje ele me remeteu a resposta, que segue abaixo:
    __________________
    Prezada senhora

    Casos como o que a senhora relata são comuns em pessoas que frequentam centros espíritas, de umbanda ou terreiros de macumba. Adotam comportamentos estranhos, tornam-se agressivas com os familiares, dizem palavrões, mencionam o diabo. Não é de estranhar que sejam possuídas por um espírito maligno.

    Um médico prudente não restringiria sua atuação aos cuidados médicos que julgue necessários, principalmente verificando que eles não resolvem o problema, e mesmo se agravam. Ele faria bem em enviar a paciente para o aconselhamento espiritual de um sacerdote versado nesse tipo de problemas. O que, aliás, faria também o sacerdote diante de caso análogo, aconselhando a pessoa a procurar um médico competente, para tratar das doenças do corpo e do espírito que surgem nesses casos.

    Nas dioceses católicas há sempre pelo menos um padre encarregado pelo Bispo de atender esse tipo de pessoas. O pároco de sua igreja certamente sabe quem é o padre especializado nesse gênero de atendimento em sua cidade ou numa cidade próxima. Chama-se “exorcista” e tem poderes especiais delegados pelo Bispo para atender a pessoa afetada por qualquer influência diabólica.

    Enquanto a senhora faz as pesquisas necessárias para saber a quem encaminhar sua filha, peça desde já a Nossa Senhora que a livre desse mal o quanto antes. A Santíssima Virgem Maria tem um poder especial de nos livrar dos assaltos do diabo, e por isso é chamada “Terror dos Demônios”.

    Aconselho especialmente a reza do Terço, o uso da água benta, do sal exorcizado, de medalhas religiosas (como a Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças, a medalha de São Bento e outras) e o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo. E peça também a seus amigos e parentes para fazerem o mesmo, a fim de libertar a sua filha de qualquer influência do demônio.

    Se a senhora tiver um manual católico de orações, nele encontrará preces especiais para nos protegermos contra o demônio. O papa Leão XIII compôs uma oração chamada “Exorcismo Breve” que a senhora pode rezar nessa intenção.
    Para sua facilidade, transcrevo no fim desta carta o mencionado texto.

    Convém saber que o sacerdote tem um poder especial para esse combate contra Satanás, mas todo fiel católico também recebe no Batismo as forças necessárias para essa mesma luta, que nos acompanha durante toda a vida, pois o demônio não perde nenhuma oportunidade para tentar nos levar para o caminho do mal. Em compensação, desde que nascemos, Deus colocou ao nosso lado um Anjo da Guarda pessoal, encarregado de nos proteger, nos livrar dos perigos e, sobretudo, proteger-nos contra os embustes do demônio. Ele é o nosso companheiro de todos os instantes, do nascimento até à morte. Reze para o Anjo da Guarda de sua filha para que ele expulse esse demônio que está fazendo mal a ela.

    Envio-lhe uma bênção sacerdotal para que a senhora tenha as forças e a coragem de lutar pela salvação de sua filha.
    Em Jesus e Maria,
    Pe. David Francisquini
    15 de fevereiro de 2015

    ORAÇÃO A SÃO MIGUEL ARCANJO
    São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate; cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos e Vós, Príncipe da milícia celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém!

  6. Mileny F.S   8 de abril de 2016 at 23:31

    Pessoas que vem,escuta vozes,sonho com entes mandando mensagens para os vivos tem alguma coisa de especial ou é unção demoníaca?

  7. Mileny F.S   13 de abril de 2016 at 16:06

    Por favor poderiam me responder a seguinte pergunta que eu questionei dia 8 de abril, é que eu tenho algumas duvidas sobre esse assunto e gostaria que um exocista me respondesse de seu modo de ver sobre esse assunto que tanto me abrangem nesse momento…