
Missionário popular e fundador de duas ordens religiosas, exerceu gigantesco apostolado, distinguindo-se na luta contra o protestantismo na primeira metade do século XVI. Sua festividade é celebrada no dia 5 de julho.
- Plinio Maria Solimeo
Antônio Maria nasceu em Cremona, na Itália, no ano de 1502, numa família abastada. Seu pai faleceu quando ele ainda estava no berço, e sua mãe, viúva aos 18 anos, o educou no santo temor de Deus. Muito esmoler, desde cedo ela encarregava o filho de distribuir esmolas entre os pobres.
Ajoelhado a seu lado, o pequeno Antônio fazia as orações da manhã e da noite. Crescendo, começou a fazer outras orações por sua conta, retirando-se para um canto da casa onde havia uma imagem da Bem-aventurada Virgem Maria.
Iniciando seus estudos, sobressaiu-se pela inteligência precoce, assiduidade nos trabalhos, e sobretudo pela pureza de costumes. Terminando seus estudos em Cremona, dirigiu-se a Pavia para o curso colegial, e depois, em 1520, a Pádua, a fim de cursar Medicina. Se bem que vivesse sozinho nessa cidade estudantil, soube conservar sua inocência pela freqüência aos sacramentos e prática da mortificação. Em 1524, aos 22 anos de idade, graduando-se em Medicina, voltou à cidade natal para exercer a profissão.
Médico do corpo, mas especialmente da alma

Entretanto, o novo médico preocupava-se ainda mais com as almas do que com os corpos de seus pacientes. Na igrejinha de São Vital, perto de sua casa, reunia crianças, às quais ensinava o catecismo. Aos pais, que começaram também a afluir, esse médico das almas fazia homilias simples e impressionantes sobre as verdades da fé, criava diálogos engenhosos e convincentes sobre essas mesmas verdades, tornando assim acessível àquela gente simples os rudimentos da fé.
Em Cremona, teve como guia espiritual o dominicano Frei Batista de Crema, que também tinha exercido grande influência sobre São Caetano de Thiene. É curioso que só então se manifestou nele a vocação religiosa. Completando os estudos, foi ordenado sacerdote aos 26 anos.
Quando celebrou a Missa pela primeira vez em Cremona, os fiéis o viram circundado por uma luz celeste e por uma multidão de anjos, que assistiam respeitosamente ao augusto sacrifício. O fato empolgou os habitantes da cidade, crescendo ainda mais a reputação de santidade do Pe. Antônio, o que contribuiu para angariar-lhe o epíteto de homem Angélico, ou Anjo de Deus, que passaram a dar-lhe desde então.
Seu lema no apostolado: ser “tudo para todos”

Tomando São Paulo como modelo, ele quis também ser “tudo para todos”, e assim conquistar para Cristo as almas. Porém, querendo ainda mais aprofundar-se no estudo da santa Religião, todo o tempo que lhe sobrava do exercício do ministério pastoral e da oração era dedicado ao estudo da teologia.
O jovem sacerdote visitava os doentes nos hospitais e os detidos nos cárceres, levando a uns e outros o conforto da Religião e uma ajuda material, exortando-os sobretudo a sofrer pacientemente a provação em punição dos pecados cometidos. Sua casa tornou-se o asilo dos pobres, albergue dos peregrinos, ponto de encontro de todos aqueles que, atraídos por sua santidade, viam nele um pai e benfeitor.
Entretanto, sua arma predileta era a pregação. Deus lhe deu um talento especial para o ministério da palavra e o dom de penetrar as almas. Por causa do tipo de guerras e dissensões intestinas próprio daqueles tempos, Cremona encontrava-se num estado de decadência muito acentuado, tanto moral quanto espiritual. Certamente menor do que em nossa época, mas muito grande. Não só Cremona, como diz um autor: “Nessa época, o relaxamento da disciplina e as graves desordens que ele traz consigo tinham se introduzido no clero e nos claustros. Daí a ignorância, a superstição e a licença de costumes no povo, que não tinha senão desprezo por esses pastores infiéis, quando não se serviam de seus escândalos públicos para justificar sua conduta e dar um ar de conveniência e de honestidade à sua própria corrupção”.(1) Isso era generalizado em todo o norte da Itália, onde os exércitos mercenários protestantes, mostrando desprezo pela Religião, contagiavam o povo com seu mau exemplo. A fome e a praga seguiam de perto o passo dos soldados, o que tornava ainda mais lamentável a situação.
Para enfrentar esse quadro desolador, o Pe. Antônio Maria concebeu a idéia de instituir uma congregação de sacerdotes para a reforma dos costumes. Seus membros deveriam se distinguir pela humildade, pobreza de espírito, abnegação e prática da oração. Ora, tal plano visava um campo maior que Cremona, por isso mudou-se para a grande e populosa Milão. Lá encontrou dois sacerdotes de uma Confraternidade da Sabedoria Eterna, Tiago Morigia e Batolomeu Ferrari, que logo se prontificaram a formar a sociedade de clérigos regulares com regras e votos, sem serem monges nem frades, situação que Antônio Zaccaria visava. Surgiu então a Congregação dos Clérigos Regulares de São Paulo.
Em 1533, o Papa Clemente VII assinou o breve de aprovação do novo instituto. Suas regras visavam apresentar como objetivo a seus membros: “Regenerar e reavivar o amor ao culto divino, num modo de vida verdadeiramente cristão, pela pregação freqüente e fiel administração dos Sacramentos”.
Desde 1530 a condessa de Guastalla, Luísa Torelli, tinha reunido em Milão um grupo de senhoras e jovens para viverem uma vida simples e penitente. Elas prontificaram-se a ajudar o santo na autêntica reforma religiosa que ele havia empreendido para se opor à maléfica ação da pseudo-reforma de Lutero. O que resultou no Instituto das Angélicas de São Paulo, que consistia numa grande ajuda à atuação de Santo Antônio Maria Zaccaria.
Depois de ter estabelecido seu mosteiro perto da igreja de Santa Eufêmia, o santo se mudou com seus sacerdotes para uma casa junto à igreja de Santo Ambrósio, que a condessa de Guastalla lhe havia dado.
Reformador da sociedade civil e eclesiástica

Para a reforma do clero, ele convidava os eclesiásticos a conferências espirituais em que, com palavras de fogo, mostrava a dignidade do sacerdócio, o bem que seus membros podem fazer para a regeneração dos costumes, a responsabilidade que terão diante de Deus pela salvação das almas que lhes foram confiadas.
O bem que produziu no clero milanês foi extraordinário. Fazia também conferências para o povo sobre as verdades da fé, os novíssimos e os sacramentos. Além disso, ardendo em zelo pela glória de Deus e pela salvação das almas ameaçadas pelos erros do protestantismo nascente, Santo Antônio Maria saía à rua com um crucifixo na mão, pregando nos logradouros públicos, com grande fruto, a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo e a necessidade de penitência pelos próprios pecados.
Além de pregar, ele continuou a visitar, com seus sacerdotes, os doentes nos hospitais e os pobres em suas casas.
Vendo o bem que a nova congregação realizava, o cardeal Nicolau Ridolfi, que administrava a diocese de Vicenza, pediu a Santo Antônio Maria que fosse à sua cidade com alguns dos seus melhores auxiliares, a fim de ajudá-lo na reforma de dois conventos de religiosas que lhe causavam muita preocupação. Santo Antônio levou consigo alguns sacerdotes e Angélicas a Vicenza.
O primeiro convento a ser reformado era o denominado das Convertidas, constituído por mulheres que tinham levado no mundo má vida, e que ali deveriam praticar penitência por suas desordens passadas. Graças a muita oração, exortações e esforços perseverantes, além do grande auxílio das Angélicas, Santo Antônio conseguiu a muito custo mudar completamente essas ovelhas tresmalhadas. Para perseverarem no propósito de reforma religiosa que tinham feito, colocou-as sob a direção das Angélicas.

Reformou também um convento de freiras chamadas Religiosas de São Silvestre, que negligenciavam completamente a observância das regras e se tinham entregue a toda sorte de vaidades e licenças contrárias a seu estado religioso. As virtudes e o zelo do santo triunfaram, e as religiosas fizeram o propósito de emenda.
Mas o zelo de Santo Antônio não se limitou aos conventos. Pregou também na sociedade civil, estabelecendo em Vicenza todos os exercícios de piedade que havia introduzido em Milão, principalmente as conferências espirituais, que contribuíram para o reafervoramento de muitos fiéis, levando-os a uma exímia prática da piedade.
Uma das práticas que mais falava ao coração do santo era a das Quarenta Horas. Dizem alguns que foi ele próprio quem instituiu essa prática. Entretanto ela já era conhecida, de alguma forma, desde a Idade Média.
Tendo vivido apenas 36 anos, Santo Antônio Maria Zaccaria faleceu no dia 5 de julho de 1539, sendo seu corpo encontrado incorrupto 27 anos depois.
1. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud e Parral, Paris, 1882, tomo XV, p. 466.
2. Outras obras consultadas:
- Patrick H. Kelly, Saint Antônio Maria Zaccaria, The Catholic Encyclopedia, online edition www.NewAdvent.org
- Dom Prospero Guéranger, San Antônio Maria Zaccaria, El Año Liturgico, Editorial Aldecoa, Burgos, 1955, tomo IV.
- Pe. José Leite S.J., Santo Antônio Maria Zaccaria, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1987, tomo II.