
Evaristo de Miranda
Dos livros escritos sobre agricultura na Antiguidade, um dos mais bonitos, são as Geórgicas do poeta romano Virgílio. Nele, Virgílio usou uma expressão, viva até hoje: o tempo voa, inexoravelmente (fugit irreparabile tempus). O tempo voa. Já estamos na metade do Ano da Graça de 2025. Em 24 de junho, duas festas, uma menor e outra maior, são comemoradas.

24 de junho é o Dia Nacional da Araucária (decreto presidencial de 2005). A data coincide com a época de pinhão, a semente da araucária, e destaca uma árvore extraordinária para indústria madeireira, a biodiversidade, a gastronomia e a cultura. É a árvore símbolo do Paraná e do Sul do Brasil.
E é a festa de João Batista. Primo de Jesus, filho de Zacarias e Isabel, de estirpe sacerdotal, São João foi concedido aos dois cônjuges já em idade avançada. Foi um verdadeiro líder religioso judeu do início do século I, citado por historiadores. Batizou Jesus e outros. Introduziu o batismo de gentios no ritual de conversão judaico, prática adotada pelo Cristianismo.
Seu nascimento foi fixado pela Igreja três meses após a anunciação de Maria e seis antes do Natal (Lc 1,36). A celebração de São João é a única festa da Igreja dedicada ao nascimento de um santo. Ele é o único santo festejado no dia do seu nascimento! Por ter sido purificado no ventre materno pelas palavras da Virgem Maria, em visita à sua mãe, dizem.
São João é venerado na Igreja desde datas antiquíssimas. Já era festejado a 24 de junho lá pelo ano 400, conforme relatou Santo Agostinho. Quando ele morreu? Ninguém sabe. Em 29 de agosto, no mês do desgosto, a Igreja o relembra com uma segunda comemoração litúrgica: a do martírio de São João Batista, degolado, protótipo de monge e missionário.
Depois de José, João é um dos nomes masculinos mais comuns. Em português, sua sonoridade evoca um aumentativo. É nome de reis: D. João III, D. João VI. Todos conhecem um João, um Joãozinho ou uma Joana. Tem João Valentão, João Ninguém, João Bobo, João Pequeno… Nomes de aves começam por João (João de Barro, João Teneném, João Liso, João Corta-Pau, João Porca, Joãozinho, João Folheiro…). Além de insetos (joaninhas), nomeia plantas (cipó-de-são-joão; erva-de-são-joão; joão-bolão…) e pratos como João-deitado, João-trançado, João-sujo etc.
Segundo a lenda, o santo dorme durante seu dia. Daí a tradição de soltar fogos para acordá-lo na alvorada do dia 24. Se não fosse despertado pelo foguetório, desceria encantado dos Céus… e a Terra se consumiria em fogo, numa imensa fogueira de São João. A razão de sempre cair uma chuvinha no São João é São Pedro. Para sua festa não ficar muito ofuscada pelo brilho joanino, Pedro sempre manda uma chuvinha para calmar os ânimos.

Seu nome, em hebraico Yohanan, significa “Deus (Ya) perdoa, agracia (hanan)”. João denunciou sem medo: erros, adultérios e esbanjamento de recursos pelos poderosos em seus palácios. Pregador intransigente e ético, foi decapitado por um capricho de Salomé (Mc 6,17-29; Mt 14,1-12). O episódio inspirou artistas, escritores e cineastas por sua volúpia, violência, sensualidade e poder. Lembra tempos atuais em Brasília.
O historiador Flávio Josefo relacionou a derrota do exército de Herodes frente a Aretas IV, rei da Nabateia, a prisão e morte de João. Segundo Josefo, o povo se reunia em grande número para ouvir João. Herodes temeu uma rebelião, prendeu-o na prisão de Maqueronte e decapitou-o.
São João não vendeu barato a sua fé, nem sua doutrina, como pedem muitos à Igreja Católica e a outras igrejas nos dias de hoje, para atender costumes atuais, tendências modernas, cultura woke etc. Dele, disse Jesus: não há maior entre os nascidos de mulher (Mt 11,11; Lc 7,28).
Pinhão, vinho quente, comidas típicas, entrada do inverno, festanças joaninas… aproveitem e Viva São João!