
Afonso de Sousa
Uma das mais preciosas e espetaculares relíquias da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo para os católicos é o Santo Sudário de Turim, alvo lençol no qual envolveram piedosamente o corpo do Salvador depois de o descerem da Cruz.

Esse lençol é tão intrigante, que se tornou a peça mais estudada de toda a história humana. No século passado, como veremos, a ciência moderna completou centenas de milhares de horas no detalhado estudo sobre o Sudário, e a grande maioria dos cientistas nele envolvidos foram praticamente unânimes em afirmar sua autenticidade, o que levou a uma boa parte deles a se converter à fé católica ou a praticá-la mais seriamente.
Apesar do discordante e suspeito teste do Carbono-14 com o qual quiseram provar que essa santa relíquia é apenas uma peça pintada na Idade Média, cientistas rejeitaram tal teste e continuam afirmando que ficou comprovado que o Sudário teve origem na Palestina, no tempo de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O que muito impressiona e impressionou grande parte dos cientistas que se puseram a analisar o Santo Sudário é sua majestade e fisionomia de paz em meio às maiores aflições. Feito por pessoas de diversas orientações — protestantes, agnósticos, ateus —, o estudo dessa impressionante relíquia levou vários deles à Igreja Católica, como veremos adiante.
“Diante das evidências, como permanecer agnóstico?”
Artigo no National Catholic Register relata: “Em 1994, após anos de intenso estudo, o médico californiano Augusto Accept chegou a uma conclusão sobre o Sudário de Turim. Em sua mente, a evidência científica [de sua autenticidade] era esmagadora. [Concluiu:] O Sudário, de fato, é a mortalha de Jesus Cristo. Ao contemplar a imagem do rosto crucificado de Cristo milagrosamente impresso no Sudário e preservado ao longo dos séculos, ele sabia que teria de enfrentar uma questão pessoal sobre a qual vinha ponderando nos dois anos anteriores de seu estudo: como ele poderia permanecer agnóstico?”.
Augusto Accept cresceu no sul da Califórnia e foi muito ligado à Igreja em sua juventude. Contudo, na faculdade se deixou influenciar pelos agnósticos que afirmavam que religião e ciência eram incompatíveis, e acabou abandonando a prática da fé.
Depois de formado casou-se com uma protestante fundamentalista, teve dois filhos e se uniu à igreja dela.
Seu primeiro encontro com o Sudário foi na sua adolescência, em leituras sobre ele. Na faculdade de medicina tornou-se amigo de Allan Wanger, proeminente cientista do Sudário de Turim. Isso o levou a se interessar pelo assunto do ponto de vista de suas áreas de interesse, isto é, medicina, química e física.
Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim
Entretanto, o interesse pelo Santo Sudário nos meios científicos já atraíra a atenção de muitos estudiosos. Em 1977, um grupo de cientistas formados ao acaso, adeptos de diferentes confissões religiosas — católicos, agnósticos, mórmons, judeus e protestantes de diversas denominações —, atraídos pelo enigma do Santo Sudário, fundaram o STURP – Shroudof Turin Research Project (Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim).
Esse grupo de tal maneira foi envolvido pelo tema, que seus membros chegaram a dispor até mesmo dos próprios recursos pessoais para levar adiante suas pesquisas, empregando horas e horas de suas obrigações diárias em um projeto inteiramente alheio à suas necessidades profissionais.
Às suas expensas, eles foram a Turim, onde durante cinco dias (120 horas seguidas), auxiliados por uma equipe italiana, submeteram o Santo Lençol a todo tipo de provas e análises, utilizando os mais sofisticados meios da tecnologia.
Ao terminar a análise, o Dr. Thomas D’Humala, coordenador do projeto, testemunhou: “Todos nós pensávamos que o que íamos descobrir era apenas uma falsificação, e que antes de se passar meia hora, teríamos de fazer as malas e voltar. Mas não foi assim. Todos os que fomos lá, pelo menos todos aqueles com quem falei a respeito, estamos convencidos de que o acúmulo de provas nos fez mudar de rumo. Agora, as provas são contra os céticos”.1

O público aprecia uma réplica do Santo Sudário numa das muitas exposições já realizadas pelo mundo todo. |
“Um processo de crescimento na fé”
Aos poucos, ao analisar a figura do Sudário, o Dr. Accept começou a considerar que a imagem nele impressa era a de um corpo em estado de rigor mortis que ainda não tinha sofrido corrupção, o que se daria cinco dias após sua morte. Ora, isso era condizente com as Sagradas Escrituras, que narram a Ressurreição de Cristo no terceiro dia após sua crucificação.
Além disso, a húngara Isabel Piczek, sua amiga e especialista em história da arte, fizera um estudo em que chegara à conclusão de que a imagem do Sudário não podia ter sido, como afirmavam os agnósticos, pintada por um artista medieval que não tinha as técnicas necessárias para isso, e que sua aparência no tecido continua inexplicável pela ciência.
Tudo isso fez com que o Dr. Accept se dedicasse intensamente entre 1992-1994 ao estudo do Sudário de Turim. À medida que se aprofundava no estudo de sua autenticidade, suas dúvidas iam sendo respondidas uma a uma. Ele diz que esse período foi para ele simultaneamente “um processo de crescimento” em sua fé, de modo que em 1994 convenceu-se de que era hora de dedicar novamente sua vida a Cristo. Pelo que conclui: “Em contraste com muitos [estudiosos] no século XX, a ciência me trouxe de volta a Deus”.

Cientistas do STURP – Shroudof Turin Research Pro ject (Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim) fazem aprofundados estudos de cada detalhe do Sudário. |
“A que Igreja foi o Sudário confiado?”
Uma vez convencido de que o Sudário trazia o corpo de Cristo, Accept queria saber qual das milhares de denominações cristãs do mundo foi a que Jesus Cristo fundou. Sendo por natureza um estudioso, ele se pôs a estudar teologia e história eclesiástica. Quando começou a ler as obras dos primeiros Padres da Igreja e viu a doutrina católica em seus ensinamentos e práticas, encontrou a resposta: “Fiquei emocionado ao encontrar Cristo na Igreja Católica. Quando comecei meu estudo, nunca pretendi voltar a ela. Mas foi para lá que meu processo de busca pela verdade me levou”. E comentou que “não é coincidência” que o Sudário lhe seja confiado.
Coerente consigo mesmo, o Dr. Accept quis que sua experiência fosse compartilhada por outros. Por isso, em 1996 ele fundou em Silverado, no condado de Orange, o “Centro do Sudário do sul da Califórnia”, onde faz uma apresentação ilustrada de todo o roteiro histórico do Santo Sudário. Isso atraiu muitos guias turísticos como voluntários ao longo dos anos.
Uma das pessoas que ele dirigiu em um tour foi o cientista Stephen Sheyn, que recentemente havia voltado à Igreja Católica. Ao terminar o tour, Stephen caiu em lágrimas e disse: “Senti que estava na presença de Nosso Senhor, experimentando sua humanidade e divindade”.

“As palavras não podem descrevê-lo”
O Santo Sudário é exposto periodicamente na sua basílica em Turim, para ser venerado pelos fiéis. Em 1998, o Papa João Paulo II, após rezar diante dele, comentou que ele é “um desafio à nossa inteligência […] uma imagem que todos podem ver, mas ninguém ainda pôde explicar”.
O Dr. Augusto Accept fez sua primeira viagem a Turim para essa mesma exposição. Depois de permanecer em profundo e reverente silêncio, por quase duas horas, diante do Santo Sudário, ao lado de outros peregrinos, ele afirmou: “Foi impressionante! As palavras não podem descrevê-lo”.
Evidentemente houve e há muitos cientistas agnósticos, hereges ou simplesmente ateus que não se dobram às evidências e continuam a afirmar que o Santo Sudário de Turim é uma falsificação que não tem valor.
Cremos que a ele se pode aplicar, com propriedade ainda maior, aquilo que o grande Papa São Pio X afirmou da Santa Casa de Loreto: para o espírito católico, ainda que não se tivessem todas as provas históricas e científicas que seriam de desejar, o fato de aquela relíquia ter, ao longo das gerações, despertado a piedade de tantos fiéis e edificado a numerosos Santos que a contemplaram, já ofereceria garantia suficiente de sua autenticidade.2
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Notas
1. Cfr. Plinio Maria Solimeo, O SANTO SUDÁRIO – Testemunho da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, Artpress, São Paulo, 2014.
2. Outras fontes: