Fim de ano, ano novo! Hora de pensar um pouco nos acontecimentos e na História. Sobretudo, não podemos nos engajar na massa enorme daqueles que só pensam no presente, e para os quais o passado e o futuro não existem!
As perguntas afluem em bando. Uma primeira: até há pouco falava-se muito em massas humanas. Hoje, é um tanto raro ouvir falar sobre elas. Que aconteceu? Elas desapareceram?
Antigamente, aquela chama de idealismo cavalheiresco que se vislumbrava de cá e de lá, não morrera de todo. Era necessário extinguir esses restos de sociedade orgânica da Civilização Cristã, que ainda incomodavam a Revolução universal.
A arma usada — nós do século XXI já sabemos o que é isso! — foi a confusão. Para atender aos anseios das populações sedentas de civilização cristã, apareceu o nazifascismo, que propunha implantar um novo mundo. Por detrás dessa fachada, uma “ideologia confusa, impregnada de evolucionismo e materialismo histórico, saturada de influências filosóficas e ideológicas pagãs, programa político e econômico radical e caracteristicamente socialista, intoleráveis preconceitos racistas”.(1)
Sobre o nazifascismo muito se escreveu. Nesta breve resenha, limito-me a mostrar um aspecto frequentemente passado sob silêncio: seu igualitarismo.
Esse simulacro de cristianismo ostentado pelo nazifascismo provocou uma confusão tão grande, que os católicos adversários do Eixo foram hostilizados no próprio ambiente da Igreja. Por exemplo, Plinio Corrêa de Oliveira chegou a escrever nada menos que 477 artigos contra o nazifascismo, e sofreu por isso ingentes pressões e até ameaças de simpatizantes do Eixo.
Muito significativamente, assim se exprimiu ao término da guerra: “De 1933 a 1942, a vida do ‘Legionário’ — jornal católico do qual era o diretor — foi, a este respeito, uma verdadeira via crucis, ao longo da qual não houve provação que nos fosse poupada. São muitos e impressionantes os pontos de coincidência doutrinários entre o nazifascismo e o socialismo, fato que infelizmente não é de domínio comum”.
A desigualdade é correlata à ideia de gradação. É o que ensina o mesmo líder católico brasileiro — considerado pelo destacado intelectual italiano Giovanni Cantoni como “o teólogo das desigualdades sociais” — “Na hierarquia, a variedade se assegura pela multiplicidade dos graus intermediários, ao passo que a unidade se assegura pela suavidade da transição entre esses graus”.
Ora, as gradações faltavam aos regimes totalitários. Havia no topo um Fuehrer ou um Duce e lá, muito em baixo, a planície. Portanto, esses regimes tiveram fundo igualitário. Parece diferente, mas é o mesmo velho igualitarismo!
Ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Eixo é derrotado e as luzes vão se apagando sobre as massas nazifascistas. Inaugura-se uma etapa bipolar, com a implantação de zonas de influência planetárias para cada uma das superpotências: Estados Unidos e Rússia. Com isso, a ascendência desses dois polos sobre suas áreas tornou-se extremamente forte. Essa circunstância é de grande importância para se compreender o Século XX e o presente.
Respondendo à pergunta do início, as massas ainda existem, e até onde alcança a vista é quase a única coisa que se vê, olhando com atenção. Piorou muito e o que era massa, hoje se tornou um verdadeiro pirão pardacento, cinza, sem gosto, sem forma e sem sabor, pelo menos neste lado da Humanidade que se chama Ocidente (nem falemos do outro lado…)
Como afirmou Dr. Plinio: “Massa, infeliz massa anorgânica, que vive do movimento que lhe vem de fora, vai para onde não sabe, não tem chefes naturais, nem hierarquia própria, nem qualquer espécie de diferenciação interna. Não é um organismo. É uma justaposição física de homens, no fundo isolados uns dos outros como os grãos de areia da praia, que se justapõem uns aos outros, mas que não tem entre si qualquer interpenetração de vida espiritual — ‘o convívio’ no sentido exato do termo”.(2)
Não quero dizer que, na realidade, as massas tenham desaparecido, mas a massificação se generalizou tanto que quase não se fala nela: virou rotina.
Se quisermos ser homens de nosso tempo, saibamos fazer a crítica desse fenômeno! Por cima das cores variadas e diferenciadas dos pavilhões dos países atuais, saibamos ver uma hipotética bandeira de nosso tempo, exibindo uma única cor: o cinza para uma massa cinza.
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1. Plinio Corrêa de Oliveira, Um Homem, uma Obra, uma Gesta, Artpress, São Paulo, 1989, p. 39).
2. Catolicismo, n.º 14, fevereiro/1952.
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(*) Leo Daniele é colaborador da Agência Boa Imprensa (ABIM)