
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 888, dezembro/2024
Confortado pelos sacramentos da Igreja, faleceu no Rio de Janeiro em 8 de novembro último Sua Alteza Imperial e Real o Príncipe Dom Antônio de Orleans e Bragança. Deixa esposa, a Princesa Imperial Viúva do Brasil, Dona Christine de Ligne de Orleans e Bragança; filhos, o Príncipe Imperial do Brasil, Dom Rafael de Orleans e Bragança, e as Princesas Dona Maria Gabriela e Dona Amélia de Orleans e Bragança; genro, James Spearman; e netos, Joaquim e Nicholas Spearman.
Dom Antônio expirou na Casa de Saúde São José, o velório aconteceu na igreja da Imperial Irmandade de Nossa Senhora do Outeiro da Glória, e o sepultamento se deu em Vassouras, no jazigo da família.

Dom Antônio foi sempre marido e pai exemplar. A todos os enlutados, a diretoria, a redação, os amigos e colaboradores de Catolicismo estendem suas condolências e orações.
Sétimo dos filhos de Dom Pedro Henrique, então Chefe da Casa Imperial, nasceu Dom Antônio no Rio de Janeiro em 24 de junho de 1950. Bisneto da Princesa Isabel e trineto de Dom Pedro II, era o imediato sucessor dinástico de seu irmão — o Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil —, condição que passa agora a seu filho Dom Rafael, já que o primogênito de Dom Antônio, o Príncipe Dom Pedro Luís, foi uma das vítimas do trágico acidente com o voo 447 da Air France que caiu no Atlântico em 31 de maio de 2009.
Algumas palavras saudosas, nossas primeiras homenagens, para o Príncipe que há pouco nos deixou. Por onde passava, Dom Antônio era envolto por discreto aroma moral, característica notável que já se sentia à primeira vista. Dele bastava um olhar, um sorriso, um aperto de mão, um aceno de adeus, leve inclinação de cabeça, quanto mais as conversas, e já se percebia a aragem perfumada, composta de fragrâncias várias, algumas talvez inexprimíveis. Em Dom Antônio se discerniam modéstia, benevolência, retidão moral, circunspecção, delicadeza, senso da própria dignidade, finura, como também uma altivez despretensiosa que atraía.
No mais alto significado da expressão, o pranteado Príncipe teve enorme presença civilizatória. Sua influência, por menor e passageira que fosse, tendia de algum modo a elevar as pessoas. Isso acontecia sempre por onde transitava, mesmo quando silente ou engolfado em algum assunto que de momento o tomava e impedia comunicação normal com os presentes. A quem com ele se relacionava, Dom Antônio elevava pela palavra, pelos gestos, pela presença. Vinha daí em grande parte sua particular relevância nos meios monarquistas, em círculos da nobreza europeia, no exercício de sua profissão de engenheiro civil. E ainda, a convite, nas visitas a cidades, escolas, exposições de arte, como visitante ou expositor, já que cultivou profícua carreira artística, em especial como aquarelista autor de mais de 600 telas, pintando paisagens e arquitetura tradicional brasileira e europeia.
Catolicismo tem especial motivo para relembrar, em notas fúnebres saudosas, tão notável Príncipe. O primeiro e, sob muitos aspectos, mais importante artigo (de fato, ensaio de valor) da revista, publicado em janeiro de 1951, da lavra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, foi intitulado “A cruzada do século XX”. Expôs com clareza o ideal do Grupo de Catolicismo: batalhar pelo Reino de Cristo, nas almas e nas sociedades. De outro modo, proclamava seu ideal de militar pela ordem temporal cristã, da qual a Cristandade, como historicamente se deu, foi de valor inestimável, ainda que apresentando lacunas em muitos pontos.
O mencionado ensaio colocava a pergunta: “Mas o que é o Reino de Cristo, ideal supremo dos católicos, e, pois, meta constante desta folha? [É] marco luminar de nossa atividade”. E concluía: “Se nossos maiores souberam morrer para reconquistar o sepulcro de Cristo, como não queremos nós, […] lutar e morrer […] para restaurar algo que vale infinitamente mais que o preciosíssimo Sepulcro do Salvador, isto é, seu reinado sobre as almas e as sociedades?”
Catolicismo continua com o mesmo ideal. São ainda comuns posições que propugnam pelo reinado de Cristo no interior das consciências. Infelizmente, é cada vez mais raro encontrá-las pugnando (e até defendendo em doutrina) por seu reino nas sociedades. Dom Antônio, comungando com Catolicismo de tal posição basilar, desde muito jovem foi claro defensor da ordem temporal cristã. Aqui está uma das razões eminentes de sua irradiação pessoal: Dom Antônio lembrava a Cristandade.