O mistério das catedrais góticas segundo Roland Bechmann

Atílio Faoro

Na sua obra As Raízes das Catedrais, Roland Bechmann explora o enigma das catedrais góticas, revelando que estes monumentos são muito mais do que estruturas arquitetônicas: são símbolos vivos da fé, testemunhas da espiritualidade medieval e obras que desafiam até a compreensão moderna.

Mistério que transcende séculos

Bechmann indica que, apesar dos nossos avanços, recriar uma catedral gótica com ferramentas medievais continuaria a ser uma tarefa inviável. Mesmo com a tecnologia moderna, muitas das técnicas e cálculos necessários permanecem incompreensíveis. Isto leva a uma conclusão inevitável: as catedrais góticas são milagres da engenharia e da espiritualidade.

O autor compara essas maravilhas às pirâmides do Egito, tradicionalmente consideradas exemplos supremos de proezas de engenharia. No entanto, Bechmann insiste que as catedrais góticas vão muito além disso. Enquanto as pirâmides impressionam pela sua monumentalidade, as catedrais foram concebidas para elevar as almas ao céu, perseguindo um objetivo profundamente espiritual.

Sabedoria sobrenatural       

Bechmann introduz o conceito de “sabedoria sobrenatural” para explicar como os construtores medievais, muitas vezes homens simples e rudes, foram capazes de projetar obras de tamanha complexidade e beleza. Ele sugere que foram guiados pela inspiração divina, uma graça que lhes permitiu transformar pedra e vidro em templos de luz e oração.

Cada elemento de uma catedral gótica – arcos, torres, rosáceas – tem um propósito espiritual. Segundo Bechmann, tudo está orientado para Deus. Essas estruturas não impressionam apenas pela estética; convidam também os fiéis a meditar sobre a grandeza divina e sobre o seu próprio lugar no plano da criação.

Mistério dos vitrais

Um dos aspectos mais fascinantes que Bechmann examina é o dos vitrais góticos. As cores vibrantes que filtram a luz solar criam um efeito quase mágico. No entanto, os métodos exatos de produção dessas cores foram perdidos com o tempo. Hoje, os cientistas não conseguem reproduzi-los com precisão, o que acrescenta uma aura de mistério a estas obras-primas. Para Bechmann, os vitrais são um reflexo do céu, uma prova visível de que a fé pode transformar até os materiais mais humildes em algo sublime.

Testemunho para hoje

Em As Raízes das Catedrais, Bechmann não se limita a analisar o passado; também oferece reflexão para o presente. Ele argumenta que as catedrais emitem um apelo constante à humanidade: desafiam-nos a superar as nossas limitações materiais e espirituais, lembrando-nos que, com Deus, podemos realizar grandes coisas.

Notre-Dame de Paris, uma catedral ressuscitada

No contexto da restauração de Notre-Dame, a mensagem de Bechmann assume particular ressonância. A reconstrução da catedral após o incêndio de 2019 não é apenas um esforço humano, mas um testemunho de que a fé pode resistir às provações e tempestades mais difíceis. Cada pedra substituída, cada vitral restaurado, é um eco da “sabedoria sobrenatural” descrita por Bechmann.

Lição para a humanidade

A obra de Roland Bechmann convida-nos a olhar para além da pedra e do vidro, em direção ao espírito que animou os construtores das catedrais. Nossa Senhora, como símbolo de fé, lembra-nos que o divino habita não só nos grandes templos, mas também no esforço humano para glorificar a Deus.