O NATAL DO SOLSTÍCIO

  • Evaristo de Miranda

O 21 de dezembro é o dia mais longo do ano e, por consequência, tem a noite mais curta. Neste, como sói acontecer todo ano, o sol, em seu deslocamento aparente para o Sul, atinge seu maior distanciamento da linha do Equador. Neste dia, o sol estaciona em sua aparente migração. Daí o termo solstício, sol estaciona.

No dia seguinte, o sol começa se deslocar em direção oposta, para o hemisfério Norte. Começa o verão por aqui e o inverno por lá. Ao meio dia, em S. Paulo ou no Mato Grosso do Sul, nestes dias é possível avistar o disco solar no fundo de um poço. Postes e casas não apresentam sombras. O solstício de verão sempre foi visto como um sinal cósmico da vitória da luz sobre as trevas. É um tempo de Iluminação.

Em seu caminhar, no dia do solstício, o sol passa a pino pelo Queensland no norte da Austrália, percorre o Sul do Oceano Indico, corta Madagascar e Moçambique, passa ao norte da Cidade do Cabo na África do Sul e transita a pino ao norte da cidade de São Paulo. O rastro no solo da marcha do sol neste dia define ou traça chamado de Trópico de Capricórnio. Essa linha imaginária tem sua passagem sinalizada em diversas rodovias paulistas, como a SP 75, a SP 255 e a SP 348. Poucos atentam para essas placas e entendem seu significado.

Solstício e Natal estão associados. A Igreja Católica nunca disse: – Jesus nasceu no dia 24 de dezembro. Ele nasceu um dia. Certeza. Os cristãos festejavam essa Natividade em diversas datas. Coube à Igreja definir um dia para celebrar seu nascimento. E a data foi associada ao solstício, nove meses depois da Festa da Concepção ou da Anunciação de Maria, associada ao equinócio, no 25 de março.

Os relatos evangélicos e a tradição retratam o nascimento de Jesus num ambiente rural, num estábulo. Ali descansavam, após a labuta diária, um boi e um burrinho (Is 1,3-5). Em meio ao feno e à palha, o recém-nascido foi colocado numa manjedoura. Anjos anunciaram o evento aos pecuaristas. Chegaram pastores, com ovelhas, cabras e cães. E depois até magos do Oriente com camelos. Foi quase uma feira de pecuária.

No Brasil, o solstício de verão marca do tempo de colheitas e da grande produção agropecuária. Uma safra recorde de mais de 320 milhões de toneladas de grãos, prevê a CONAB para 2024/25. A agricultura segue ciclos cósmicos e deles tira proveito. É tempo de abundância e riqueza.

O solstício natalino ilumina não apenas a Terra, o hemisfério Sul, o espaço em suas três dimensões. Ele também ilumina o Tempo, essa quarta dimensão da existência (chronos), muito observada e vivida no mundo rural. O Natal ilumina os corações humanos e anuncia a proximidade de um ano novo e a possibilidade, renovada, de um novo Tempo (kairós).

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Miranda, E. E. de. O Natal do Solstício. Rev. Agron Online. Dourados – MS, 23 de dezembro de 2020. https://www.agron.com.br/publicacoes/mundo-agron/cultura-e-variedades/2020/12/23/065471/o-natal-do-solstcio.html