COP30 E A AMEAÇA À SOBERANIA BRASILEIRA

Teme-se que a soberania brasileira sobre a Amazônia venha a ser amputada na COP30, reunião que se obstina em prosseguir a meta revolucionária da ECO-92

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  • Luis Dufaur

A COP30, Conferência da ONU em Belém do Pará, dissimula múltiplos venenos por trás da sua caótica (des)organização. E através de pretextos contra supostas mudanças climáticas, desmentidas por cientistas sérios, tenta induzir reformas socialistas radicais que abalarão a vida das nações.

A imensidade da transformação que a COP30 (Conferência das Partes) tentará concretizar, tem a seu lado uma imensa revolução religiosa na Igreja Católica, já iniciada com o Sínodo Amazônico e o Sínodo da Sinodalidade, que se quer continuar não sem muitas dificuldades.

A região amazônica foi escolhida para iniciar essa imensa mudança. Ela poderia ser erigida em reserva-santuário sob o governo de uma autoridade internacional. Ao mesmo tempo, se desenvolveria um novo rito católico “amazônico”, copiado de superstições diabólicas indígenas, com o estímulo das altas cúpulas eclesiásticas que estão subvertendo a Santa Igreja.

Soberania: a principal vítima

O Brasil e países vizinhos que detêm soberania sobre partes da floresta tropical úmida amazônica seriam as primeiras vítimas de uma experiência. A propaganda comuno-ecologista há muito propõe fazer dela um en saio ou modelo do mundo futuro.

Na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em 23 de setembro 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva salientou que a COP30 superará o mero palavreado e descerá à prática. Para isso postulou que “um Conselho vinculado à Assembleia Geral com força e legitimidade para monitorar compromissos dará coerência à ação climática”.1

A escolha de Belém, em território amazônico, visaria um passo transcendental que há tempos vem sendo excogitado para essa região. A de criar uma governança internacional sobre um dos “biomas” da Terra mais visados pelo ambientalismo e pelo comuno-indigenismo de teologia libertária. Conseguirão?

O conceito de “bioma”, criado em 1916 pelo ecólogo estadunidense Frederic Edward Clements, tem significados muito diferentes e se presta a qualquer abuso. A enciclopédia virtual Wikipedia assim o define com muita insegurança: “O bioma é um espaço geográfico ou unidade biológica com características específicas bem homogêneas, que são definidas por: macroclima, fitofisionomia, solo, altitude, dentre outros critérios. São tipos de ecossistemas, habitats ou comunidades biológicas com certo nível de homogeneidade.” Na rede há mapas da Terra dividida em “biomas” — aliás, imensamente discrepantes entre si.

Para o fanatismo ecologista, o planeta Terra só pode ser subdividido em “biomas”, únicas unidades em acordo com a natureza. As divisões políticas ou históricas — portanto, as nações —, resultado de qualquer civilização humana, seriam antinaturais, e para “salvar o planeta” seria premente extingui-las.

O Brasil e países vizinhos que detêm soberania sobre partes da floresta tropical úmida amazônica seriam as primeiras vítimas de uma experiência. A propaganda comuno-ecologista há muito propõe fazer dela um ensaio ou modelo do mundo futuro.

Aldo Rebelo, ex-ministro e ex-deputado pelo Partido Comunista, sem dúvida sabe o que se deseja dizer nos ambientes comuno-ambientalistas com a fraseologia do presidente. Ele interpretou suas palavras nestes termos: “O presidente Lula defendeu que um órgão da ONU tenha soberania para tratar sobre a questão do clima. Ou seja, um órgão da ONU terá soberania inclusive acima dos congressos nacionais, acima do Congresso brasileiro, para tratar de um tema de grande sensibilidade da soberania do Brasil, que é a Amazônia. […]. Parece um discurso […]para agradar a quem? Nós vamos renunciar à nossa soberania sobre a Amazônia”.2

Um avanço ambientalista nesse sentido será ovacionado pelosarautos da “teologia da libertação da Terra” com a encíclica Laudato si em punho. O Papa Leão XIV vem exortando as universidades católicas, as conferências episcopais e o vasto leque de movimentos sociais montado pelo anterior Pontífice a pressionar a COP30 nessa direção.

Dita encíclica já foi recebida em seu tempo entusiasticamente por teólogos como o ex-frade Leonardo Boff, agora teólogo da Libertação da Mãe Terra, para quem “nem a ONU produziu um texto desta natureza”, porque prega uma “ecologia integral […] que supõe uma visão evolucionista do universo”.3 E o frade dominicano frei Betto afirmou que “o Papa faz eco à produção da Teologia da Libertação sobre a questão ambiental […] enfatiza que, em definitivo, a Igreja Católica abraça a teoria evolucionista do Universo”.4

O Prof. Denis Lerrer Rosenfield observou que na governança mundial propiciada por essa encíclica,“organismos e ONGs nacionais e internacionais, ambientalistas e indigenistas, passariam a ditar o que pode ou não ser feito neste enorme território nacional. […] O Brasil deveria, realmente, abdicar de sua soberania. […] As ONGs ambientalistas e indigenistas são, então, erigidas em novo poder mundial. A decisão última seria transferida do Estado nacional para elas, contando, internamente, com a participação ativa — e decisiva — da CNBB e de seus órgãos, como a CPT e a Cimi”.

Uma previsão sobre a ameaça à soberania

Compreendemos que para muitos leitores pareça sumamente difícil imaginar tal demolição do Brasil — e, conjuntamente, da Igreja Católica. Entretanto, olhares perspicazes há muito advertem contra essa perigosa manobra. Por exemplo, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira há décadas alertava que “a soberania é plena ou não é soberania. Não existe soberania parcial, ou condicionada […].

“Se um outro país, ou um conjunto de países, vem dizer o que o Brasil tem que fazer em mais de 60% de seu território, não adianta que eles apresentem distinções jurídicas ou científicas sofisticadas. Eles atentam contra a soberania brasileira. Se eles conseguirem essa meta, vão amputar o Brasil. E isso é totalmente inadmissível.”5

E numa outra ocasião:

“O assunto da Amazônia é impedir os brasileiros de a usarem, porque é o ‘pulmão verde do mundo’. Uma lorota. Se o pulmão do mundo é nosso, então o mundo é nosso! Eu não acredito nessa lorota. Mas, se existe, vamos tirar as consequências. Não, os efeitos que tiram é de que a Amazônia não é nossa.”6

A pretexto de “salvar o planeta”, pede-se também a liquidação dos produtores agropecuários no Brasil e no mundo, porque seu gado estaria aquecendo clima. Exemplo característico foi fornecido pelo site Brasil de Fato, ligado à luta planetária comuno-ambientalista contra a propriedade privada e o bem-estar alimentar da humanidade. A respeito da COP30, foi bem claro: “o inimigo é o agronegócio”, escreveu o historiador Luiz Marques .7

Acrescente-se também que os mesmos ideólogos ecologistas declaram que o planeta não pode sustentar sua atual população, devendo essa ser drasticamente reduzida.

E, por incrível que pareça, estão promovendo o que o Gatestone Institute definiu como “Guerra Tirânica contra os Alimentos”.8 Para “zerar as emissões”, a pecuária e a agricultura devem ser reduzidas ou extintas e a humanidade parar de comer carne. Em seu lugar, como os estados membros da União Europeia já aprovaram, impor a aceitação de larvas, gafanhotos migratórios e grilos domésticos como alimento.

O então secretário de Estado dos EUA, John Kerry, foi claro: “Não se pode continuar aquecendo o planeta, e ao mesmo tempo esperar que ele nos alimente. Assim não dá. De modo que temos de reduzir as emissões do sistema alimentar.” Os projetos governamentais na Europa para atingir esse objetivo são tão numerosos que não cabem neste artigo.

Fica assim patente a clarividência com que Plinio Corrêa de Oliveira denunciou a imensa revolução que agora vai revelando seu rosto a propósito da COP30, ainda que seu objetivo pareça inverossímil e condenado ao fracasso.

Estou persuadido — disse ele — de que a causa católica está empenhada a fundo em que nenhum poder estrangeiro exerça nenhuma forma de soberania em território do Brasil. Portanto, no território do Amazonas não pode exercer! Mas, não pode de não poder mesmo!”9

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Notas:

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 899, Novembro/2025

1.Cfr.: Confira a íntegra do discurso de Lula na abertura da Assembleia da ONU https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2025-09/confira-integra-do-discurso-de-lula-na-abertura-da-assembleia-da-onu

2.Cfr.:Youtube, canal Radio Bandeirante #Jornal Gente, https://www.youtube.com/watch?v=VUOEEvEnnDg

3.UNISINOS, 18-07-15,http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/543662-ecologia-integral-a-grande-novidade-da-laudato-si-qnem-a-onu-produziu-um-texto-desta-natureza-entrevista-especial-com-leonardo-boff

4.Adital, 16-07-15,http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=85546

5.Cfr. “O futuro do Brasil se joga na Amazônia” https://ecologia-clima-aquecimento.blogspot.com/p/amazonia.html

6. Excertos da palestra de 10-06-91.

7.https://www.brasildefato.com.br/2025/09/22/crise-climatica-o-inimigo-do-brasil-e-o-agronegocio-diz-historiador/

8.https://pt.gatestoneinstitute.org/21649/a-guerra-tiranica-contra-os-alimentos

9.Excerto da palestra de 10-08-91.