
John Horvat II
Após a Cúpula do Alasca, o caminho para a paz na Ucrânia tem sido uma montanha-russa. Um dia, líderes ocidentais traçam algumas linhas vermelhas na areia e, no dia seguinte, os ventos do caos as apagam. Alguns pedem um cessar-fogo, enquanto outros afirmam que não é necessário.
Líderes europeus se reúnem em Washington para discutir garantias de segurança, mas ainda não há tropas aliadas, especialmente americanas, em Donbass e Sumy. Nenhuma outra mensagem é levada a sério pela Rússia. Há tanta confusão em torno dessas negociações de paz. Nenhuma paz vem delas. Tudo está mudando o tempo todo. Apenas duas coisas permanecem as mesmas: as duas partes mais importantes desta guerra. Elas envolvem as posições da Rússia e da Ucrânia.
O conjunto imutável de exigências de Putin
A primeira coisa que permanece inalterada e imutável é o conjunto de exigências de Putin à Ucrânia. Ele insiste que a Ucrânia ceda toda a região de Donetsk, incluindo 8.800 quilômetros quadrados que a nação invadida ainda detém. A Rússia também deseja que a Ucrânia se desarme e não se junte à OTAN. Putin exige ainda uma mudança de governo em Kiev.
Em suma, o governante russo está pedindo ao mundo que concorde em deixar a Ucrânia se tornar seu estado vassalo. Ele não faz concessões. Tal posição é consistente com sua crença de que a “causa raiz” do conflito é que a Ucrânia não é uma nação de verdade. Ela pertence ao domínio russo. Não há espaço para concessões nesta perspectiva de guerra de conquista.
O que não está sendo discutido
O que agrava essas demandas é que, enquanto fala de paz, Putin continua bombardeando cidades, alvos civis e infraestrutura ucranianas. As nações ocidentais continuam negociando enquanto ucranianos continuam morrendo.
Muito poderia e deveria ser discutido com a Rússia
Eis uma lista inicial:
* Violações flagrantes dos direitos humanos fundamentais e crimes de guerra cometidos pela Rússia;
* seu sequestro criminoso de dezenas de milhares de crianças ucranianas;
* sua supressão da Igreja Católica nos territórios que ocupava no Leste da Ucrânia;
* sua violação desonrosa da palavra prometida no Memorando de Budapeste de 5 de dezembro de 1994, onde prometeu à Ucrânia, aos EUA e ao Reino Unido que se absteria do “uso da força contra a integridade territorial ou a independência política da [Ucrânia] e… que nenhuma das armas [da Rússia] jamais seria usada contra a [Ucrânia]”.
Essas questões precisam ser totalmente abordadas e resolvidas antes que haja paz. No entanto, elas parecem fora de cogitação, visto que são obstáculos para se chegar a um acordo com Putin.
Talvez a melhor maneira de resumir a mentalidade de negociadores sem princípios seria: “Trair a Ucrânia, dar à Rússia tudo o que ela quer e simplesmente chamar isso de paz”.
Abandono da Ucrânia
A segunda coisa que não mudou ao longo das negociações de paz foi o abandono dos ucranianos. Normalmente, quando se discute o destino das nações, essas nações têm alguma voz ativa sobre como serão governadas.
A atitude russa em relação ao governo e ao povo ucranianos é de desdém. A Rússia quer um acordo sem a participação ucraniana, consistente com sua crença de que a Ucrânia não é uma nação. Felizmente, a reunião na Casa Branca pós-Cúpula do Alasca, com os presidentes Trump e Zelensky e sete líderes europeus e da OTAN, não impôs imediatamente esse destino à Ucrânia.
Apesar disso, a Rússia continua insistindo em excluir a Ucrânia de acordos futuros.
A verdadeira natureza da paz e da ordem
A paz não é apenas um acordo que põe fim às hostilidades. A verdadeira paz deve fluir de um exercício de justiça em que cada nação receba o que lhe é devido.
A definição correta de paz é a tranquilidade da ordem. Ordem é aquele estado de coisas em que tudo funciona de acordo com sua natureza e finalidade. Assim, pela natureza de um Estado soberano, ordem significa que as nações podem desfrutar da integridade de suas fronteiras.
Ordem significa que as nações não devem invadir outras nações que não lhes causaram nenhum dano. Ordem significa que uma guerra justa só pode ser iniciada e travada de acordo com critérios específicos. Ordem significa que aqueles afetados pela guerra devem ter alguma influência em seu resultado.
Qualquer coisa, menos uma paz verdadeira e justa, essa Cúpula do Alasca lembra o espectro trágico de Munique em 1938, onde um “grande acordo” não garantiu “paz em nosso tempo”. Lembra a grande traição de Yalta em 1945, onde as nações cativas da Europa Oriental foram entregues à Rússia soviética contra a sua vontade.
Que as negociações no Alasca não levem à vergonhosa traição da heroica Ucrânia, sem lhe dar nada, enquanto recompensam a Rússia por sua agressão injusta. Que elas não mereçam o desprezo da História.