
Como uma rosa que hoje floresce e amanhã murcha e seca, tudo na Terra é passageiro. Tudo na eternidade é… eterno… Tudo é para sempre! A Justiça Divina premiará com o Céu, em alegrias e felicidades supremas e eternas, ou castigará com os tormentos sem fim do Inferno — pior que prisão perpétua, pois esta um dia termina: quando o condenado morre. O fogo do Inferno nunca se apaga, queima, mas não mata.

- Paulo Roberto Campos
Conta-se que um Conde de Meaux, estando muito doente e praticamente desenganado pelos médicos, despediu-se de seus familiares e entrou para um mosteiro beneditino a fim de melhor se preparar para uma boa morte.
Certo dia, recebeu a visita de alguns parentes que insistiram com ele para voltar ao mundo, pois em casa recuperaria sua saúde. O conde lhes respondeu:
— Com gosto atenderia o vosso desejo, mas há quatro guardas na porta do mosteiro que não me permitiriam sair. Portanto, não me é possível voltar ao mundo! Eis os nomes dos guardas: Morte, Juízo, Céu e Inferno…
O que acontece imediatamente após a morte?
As celebrações litúrgicas do início deste mês (dias 1 e 2) nos levam a meditar sobre esses “guardas”: os “Novíssimos do homem” — as últimas coisas que nos acontecerão no final de nossa existência terrena —, a Morte, o Juízo, o Paraíso ou o Inferno.
Os “Novíssimos” (do latim “novíssima”, últimos acontecimentos) trazem-nos à memória o final de nossa vida na Terra com a morte, a qual ninguém sabe quando se dará, mas que poderá ser ainda hoje com um acidente, um infarto, um derrame, ou uma doença qualquer.
Esses “guardas” lembram-nos também o que nos sucede imediatamente após a morte: o justíssimo Juízo de Deus, que julgará todas as nossas boas e más ações e nos destinará eternamente para o Céu ou para o Inferno.
O grande Santo Agostinho, em seu tratado sobre a origem da alma humana, escreveu: “As almas são julgadas ao sair do corpo
[no Juízo Particular]
, sem esperarem aquele dia em que serão julgadas unidas a seus corpos [no Juízo Final], para serem atormentadas ou glorificadas com aquele mesmo corpo em que habitaram sobre a terra” [vide quadro à p. XX].
Ou seja, para a glória suprema e felicidade eterna com Deus, com a nossa Mãe Santíssima, com os Anjos e santos e com todos os bem-aventurados. Qualquer alegria terrena não é absolutamente nada se comparada com as alegrias celestiais que nunca cessarão, sendo incomparavelmente a maior delas a alegria de ver a Deus. “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus” (São Mateus 5,8).
Ou para o sofrimento eterno com os demônios, caso a pessoa morra em pecado mortal. A respeito, há numerosas advertências no Velho e no Novo Testamento, como, por exemplo, esta: “Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos” (Mt 25, 41).
Poderão transcorrer bilhões de séculos, e os tormentos infernais estarão apenas começando. Se ao menos os condenados soubessem que, depois desses quase infinitos séculos, um dia terminariam os suplícios demoníacos, seria um colossal alívio. Mas nem isso eles vão ter. Santo Afonso Maria de Ligório disse que os condenados poderão até perguntar aos demônios quando terminarão seus tormentos, e a resposta será: “Nunca! Nunca!” — Quanto tempo vão durar? — “Sempre! Sempre!”
No Apocalipse, São João adverte: “Há de beber [o réprobo] também o vinho da cólera divina, o vinho puro deitado no cálice da sua ira. Será atormentado pelo fogo e pelo enxofre diante dos seus santos anjos e do Cordeiro. A fumaça do seu tormento subirá pelos séculos dos séculos. Não terão descanso algum, dia e noite” (14, 10-11).

Passagem pelas chamas purificantes
Incontáveis pessoas se apegam à vida terrena como se esta fosse para sempre — sempre nas alegrias, sempre nos prazeres e glórias mundanas sem fim —, mas há uma outra vida post mortem. Esta, sim, é para sempre. É eterna juntamente com Deus no Paraíso ou com os demônios na Geena de tormentos sem fim.1 “E assim como se recolhe o joio para jogá-lo no fogo, assim será no fim do mundo. O Filho do Homem enviará seus anjos, que retirarão de seu Reino todos os escândalos e todos os que fazem o mal e os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 13, 40-42).
A pessoa julgada e destinada ao Céu, antes de sua entrada no Paraíso, poderá passar pelo Purgatório para um período de terríveis padecimentos em suas chamas — que, segundo diversos teólogos, são as mesmas do Inferno, com a diferença de não serem eternas —, a fim de ser purificada dos pecados veniais e imperfeições, pois no Céu nada de impuro entrará. Ainda que a pessoa morra arrependida de seus pecados e perdoada em suas confissões, no Purgatório ela poderá sofrer a pena temporal devida às transgressões aos Mandamentos da Lei Divina e às suas faltas leves que não foram inteiramente reparadas ao longo de sua vida.2
“Peço-lhes que pensem na eternidade!”
Estamos preparados para, em nosso último dia nesta Terra, comparecermos perante o Divino Juiz a fim de sermos julgados e entrarmos na glória da vida eterna? Quando e como foi nossa última confissão? Estamos sinceramente arrependidos por termos ofendido a Deus? Tivemos um firme propósito de não mais pecar?
Para refletirmos nestas verdades, por nós muitas vezes esquecidas — até mesmo por eclesiásticos que deveriam pregá-las em seus sermões e não o fazem —, publicamos os textos que seguem. Eles poderão auxiliar-nos a estarmos prontos para comparecer diante de Deus no dia do nosso Juízo.
Para isso, não poderíamos terminar sem mencionar o poderosíssimo auxílio da Santíssima Virgem, a Santa Mãe de Deus e Advogada nossa, diante da qual os demônios tremem. Peçamos a Ela que nos preserve do pecado, que poderá levar-nos ao Inferno, e nos conceda uma santa e boa morte, salvando-nos eternamente.

da Virgem Misericordiosa.
Uma religiosa, entusiasta da revista Catolicismo, a Madre Maria Letícia da Virgem Misericordiosa, OSSR. (1900-1974), Superiora do Mosteiro do Coração Doloroso e Imaculado de Maria, numa carta aos seus irmãos, em 27 de dezembro de 1973, escreveu:
“Peço-lhes que pensem na eternidade! Eu que sempre vivi na vida religiosa afirmo-lhes que é um momento único… Dar contas a Deus! Misericórdia, Senhor! Não fosse a confiança, chegaria ao desespero… Uma eternidade! Inferno ou Céu? Preparemos bem e peçamos a Nossa Senhora sua assistência contínua.”
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Notas:
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 899, Novembro/2025
1. Geena (Vale do Hinom, em Jerusalém) é usada como metáfora do Inferno. Na época de Jesus, era um “lixão” fora da cidade onde lixo, animais mortos e corpos de criminosos, consumidos por vermes, eram queimados continuamente.
2. Cfr. A Enciclopédia Católica, https://www.newadvent.org/cathen/