
Roma, 24 de outubro de 2015 – Um grande espanto sobre o primeiro parágrafo do terceiro relatório do grupo de língua alemã.
Nele se diz: “Com grande preocupação e tristeza, tomamos conhecimento das declarações públicas de padres sinodais a respeito de pessoas individuais, do conteúdo e do desenrolar do Sínodo. Isso contradiz o espírito do caminhar junto, o espírito do Sínodo e suas regras elementares. Os quadros e as comparações empregados não são apenas carentes de matizes e falsidades, mas também causadores de feridas. Nós nos distanciamos decididamente deles”.
O segredo sobre quem estaria concernido no texto acima foi desvendado na conferência de imprensa de 21 de outubro: o cardeal George Pell, que teria apontado a existência no Sínodo de dois partidos, o dos “kasperianos” e o dos “ratzingerianos”.
O ocorrido na sala de imprensa do Vaticano é verdadeiramente novo. Pela primeira vez um cardeal ataca outro com toda acrimônia.
O que levou o cardeal Marx a esse ataque não é muito fácil de entender. Há meses que se discute em que medida ele poderia ter sucesso em sua proposta de admissão dos divorciados recasados à comunhão. Entrementes, 17 cardeais e um número ainda maior de bispos e teólogos tomaram posição contra as suas teses.
Estas, aliás, não têm nada de novo. Já em 1963 o cardeal Kasper se exprimia no mesmo sentido, em uma carta pastoral escrita em conjunto com os bispos Karl Lehmann e Oskar Saier.
A esse propósito, ele recebeu uma carta do Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fe, cardeal Joseph Ratzinger, apontando para os erros dessa carta pastoral. O cardeal Kasper teve então de retirar suas propostas a respeito do trato pastoral com divorciados recasados.
Contudo, no início de 2014 ele repetiu em termos similares a mesma tese de 1993. Não é de admirar que muitos lhe tenham atribuído uma obstinação incorrigível.
O cardeal Kasper não respondeu às objeções que logo em seguida apareceram.
A mesma censura de obstinação é agora transferida para o cardeal Reinhard Marx. Este se comporta como um discípulo do cardeal Kasper. Também para ele as objeções de cardeais, bispos e teólogos parecem não ter importância.
Os argumentos do grupo dos antikasperianos são no fundo os mesmos apresentados pelo cardeal Ratzinger em 1993.
Nessas circunstâncias será realmente impróprio falar de “kasperianos” e “ratzingerianos”?
Na realidade o cardeal Pell foi até moderado. Em certa media poder-se-ia falar de uma verdadeira campanha de vingança do cardeal Kasper & Cia contra a teologia do cardeal Ratzinger.
O ataque colérico ao cardeal Pell é por isso mesmo quase infantil. Será que o cardeal Marx pensava seriamente que todos iriam seguir a sua estratégia de harmonia?
Há um ano que o cardeal Marx faz uma propaganda mundial para introduzir as teses do cardeal Kasper na Igreja. Essas teses contradizem a doutrina católica sobre matrimônio e sexualidade e encontram forte resistência, sobretudo na Europa Oriental e na África.
Assim, o cardeal Marx vem há meses provocando os bispos do mundo inteiro e arruinando com isso a fama da Igreja Católica na Alemanha.
Agora ele se enfurece de público, quando alguém indiretamente chama a atenção para esta situação.
Caso depois do Sínodo o cardeal Marx queira fazer triunfar suas ideias kasperianas a ferro e a fogo, ele vai suscitar certamente ainda mais resistências e recusas. E se continuar lançando xingamentos, muitos se lembrarão de seus ataques ao cardeal Pell.
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(Tradução do original alemão por Renato Murta de Vasconcelos)