ILUSÕES DOS PADRES ESQUERDISTAS

Três sócios da aventura nefasta da esquerda latinoamericana: o clérigo, o presidente metalúrgico e o “eterno” ditador (Frei Betto, Lula e Fidel Castro).
  • Paulo Henrique Américo de Araújo

Foi um encontro fortuito no centro da capital paranaense, Curitiba. Estava eu ali em fins de julho de 2024, acompanhando os caravanistas do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira que empreendiam, com grande acolhida da população, uma campanha contra o aborto.

Dois homens, um dos quais se declarava padre católico, começaram a discutir com um dos jovens voluntários. Diziam que nossa campanha era totalmente fora de propósito; que ninguém nos apoiava, pois o povo tinha votado em Lula, o grande defensor dos movimentos de esquerda, como as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), o MST etc. E Lula não era comunista!

Contra-argumentei dizendo que era uma ilusão achar que a parcela da população votante de Lula seguia as ideias clássicas da esquerda. A preferência por Lula se dava por questões temperamentais e pessoais, não por ideologia. Quando já iam embora, eu disse ao padre e ao seu colega para verificarem as declarações de Lula sobre ter orgulho de ser chamado de comunista1 e sobre como ele se alegrava pelo fato de um comunista, Flávio Dino, ter chegado ao STF2.

Povo contrário à infiltração comunista no clero

A conversa narrada acima voltou-me à mente quando li perplexo um artigo recente escrito por outro religioso adepto da esquerda: Frei Betto, o frade dominicano prócere, de velha guarda, da Teologia da Libertação (TL) e das CEBs. Constatei no artigo o mesmo tipo de ilusões esquerdistas.

Na sua “Carta aos Bispos do Brasil”, publicada em 31 de março de 2025, Frei Betto discorre sobre a queda do número de católicos no País nas últimas décadas: “Enquanto os católicos declinam 1 ponto percentual ao ano, os evangélicos crescem na mesma proporção”.3

Nisso ele acerta. Contudo, quando fornece as razões para explicar esse triste declínio do catolicismo brasileiro, o frade marxista lança-se numa torrente de equívocos. Apenas alguém com as vistas embaçadas pelos desatinos da TL poderia sair a público com afirmações tão deslocadas da realidade. Segundo Frei Betto, um dos motivos para a diminuição dos católicos no Brasil seria este: “A hierarquia católica […] fragilizou o apoio às CEBs — o movimento eclesial mais expressivo da história da Igreja no Brasil e de maior capilaridade nacional”.

Ora, a verdade é justamente o oposto. A partir da década de 1960, tendo as CEBs como um dos seus propugnadores, a infiltração esquerdista/comunista nos meios católicos brasileiros fez com que a população católica, o “povinho de Deus”, começasse a se distanciar do catolicismo.

Frei Betto, pasme-se, inverte a história! O povinho se afastou da Igreja Católica porque a TL e as CEBs — marxismo com disfarce católico — perderam o apoio dos bispos! A massa dos católicos brasileiros estaria plenamente engajada nas ondas da esquerda durante as décadas de 60 e 70. Todos queriam guerrilha, invasões de terras, Cuba comunista, e por aí vai! Como seus pastores — isto é, os bispos — desautorizaram todo esse “grandioso” movimento, os católicos debandaram-se para o protestantismo. Eis a tese de Frei Betto.

Fácil é demonstrar que o frade se ilude. Em 1968, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, a TFP brasileira, dirigida por Plinio Corrêa de Oliveira, coletou 1.600.368 assinaturas entre o “povinho católico”, pedindo ao Papa Paulo VI medidas contra a infiltração comunista no clero4.

A não ser que Frei Betto diga que tantas assinaturas não representam uma tendência geral na opinião pública brasileira contra a esquerda católica, fica difícil justificar sua tese. Como é possível, diante de tantas assinaturas, que a maioria do povo estivesse seguindo o tal “movimento eclesial mais expressivo” e de “maior capilaridade nacional” a que se refere o frade?

Esquerda católica não é o povo católico

Se a tal “capilaridade” realmente existiu, ela teve como efeito apenas desagradar a maior parte do povo católico brasileiro: sempre pacato e tendente a uma simples, porém sincera piedade. Após ficar desagradado, esse católico comum afastou-se da Santa Igreja, ou melhor, do marxismo que dela se aproveitava.

O movimento do qual Frei Betto é veterano porta-voz só causou o repúdio do católico médio que queria ir à paróquia ouvir a doutrina católica límpida e coerente sobre oração, piedade, amor a Deus e devoção a Nossa Senhora. Tudo isso está muito distante do engajamento social e político, da decrépita luta de classes marxista apregoada pela esquerda católica.

Essa esquerda dita “católica” sempre se configurou como um movimento de poucos radicais que conseguiam por vezes embair alguns pobres brasileiros sob a bandeira de falsa justiça social. Sua “força” ou “capilaridade” se encontrava tão-somente na propaganda e nos sermões proferidos nos púlpitos pelos padres “engajados contra os opressores do capital”.

Curiosamente, o frade dominicano acerta outro ponto ao dizer que as paróquias passaram a atrair apenas “os ricos”: “… em nossas missas dominicais em paróquias de classe média, os patrões comparecem, mas seus empregados (cozinheiras, faxineiras, porteiros de prédios etc.) vão para a Igreja evangélica”.

Realmente, as ideias da esquerda sempre convenceram mais a burguesia decadente, a chamada “esquerda caviar”, essa “elite progressista” que se encontrava — e se encontra — ainda em boa medida dominando as universidades e os grandes aparatos midiáticos. Tal esquerda católica nunca ocupou lugar de estima nos corações do povo católico simples.

O Papa Leão XIII condenou o marxismo

Papa Leão XIII

Outro disparate dito por Frei Betto: a Igreja Católica perde fiéis por causa do “clericalismo”. Ora, o distanciamento de muitos dos fiéis se efetivou justamente porque o clero verdadeiro, representado pelo bom padre da paróquia, foi substituído pelo “clero vermelho”, cuja imagem é a do sacerdote guerrilheiro, agressivo, invasor de terra.

Para Frei Betto deve ser difícil deparar-se com essa realidade: a tendência atual, sobretudo entre os jovens, é o desejo cada vez maior de padres verdadeiros, vestindo batina bem composta, celebrando a missa de maneira solene e sacral, ministrando os sacramentos, fontes da graça, de forma séria e enlevada. Bem longe dos devaneios e dos delírios mundanos do “clericarismo progressista”. Este sim, afasta os católicos!

Escrevo estas linhas no dia seguinte em que o mundo inteiro recebeu a notícia da escolha do novo Papa, que assumiu o nome de Leão XIV. A propósito da novidade, Frei Betto voltou à carga. Lembrou que o último papa a governar a Igreja com o mesmo nome foi Leão XIII (1878 a 1903) e que este pontífice teria sido “o papa da classe trabalhadora” e grande opositor do “capitalismo”5

Frei Betto pode iludir-se quanto quiser, mas não há como evitar esta realidade: ao mesmo tempo que Leão XIII repudiou os exageros do capitalismo, também condenou o marxismo, expresso nas teses socialistas: “[…] o homem deve aceitar com paciência a sua condição: é impossível que na sociedade civil todos sejam elevados ao mesmo nível. É, sem dúvida, isto o que desejam os Socialistas; mas contra a natureza todos os esforços são vãos”6.

Que Deus e a Santíssima Virgem nos livrem dos desatinos progressistas e esquerdistas.7

__________

Notas

  1. Cfr.https://www.cnnbrasil.com.br/politica/na-abertura-do-foro-de-sao-paulo-lula-diz-que-ser-chamado-de-comunista-e-motivo-de-orgulho/
  2. Cfr.https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/12/14/lula-brinca-sobre-dino-e-diz-que-esta-feliz-com-ministro-comunista-no-stf.ghtml
  3. Todas as referências ao artigo encontram-se em: https://www.freibetto.org/carta-aos-bispos-catolicos-do-brasil/
  4. Dos 2 milhões de assinaturas, 1 milhão e 600 mil foram diretamente coletadas no Brasil. As demais vieram da Argentina, Chile e Uruguai. Cfr. https://www.pliniocorreadeoliveira.info/Gesta_020201.htm
  5. Cfr. https://youtu.be/0InlOs81a9A?t=178
  6. Papa Leão XIII, Encíclica RerumNovarum: https://www.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum.html
  7. Fonte: Revista Catolicismo, edição de junho/2025.