Nicarágua ‘chinesa’ antecede o Brasil?

Forte enfrentamento com camponeses obrigou governo a “engavetar” o projeto chinês do Canal da Nicarágua [fotos acima e abaixo]

Ao cobiçar a América Latina para seu comércio, a China seduz os governos esquerdistas para manter o velho sistema comunista. No momento, a Nicarágua é um paradigma.

  • Luis Dufaur

Pelo menos desde o ano 2000 a China tenta sujeitar a América Latina multiplicando mais de 20 vezes o seu comércio com a vasta e estratégica região. Simultaneamente forja um vínculo estratégico com os governos que adotam o “comunismo rosa”, uma mera reciclagem do velho comunismo.

Lula e Chávez criaram em 2011 a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) para afastar os EUA e o Canadá do convívio com os países latino-americanos. E no 1º Fórum China-CELAC, realizado em Pequim, o ditador maoísta Xi Jinping prometeu investir 250 bilhões de dólares ao longo de uma década.

Em troca, os países presentes omitiriam qualquer menção às violações dos direitos humanos e da democracia, observou El País1, falando do nascimento de uma ‘chino-américa’. Neste ano, o ministro da economia da Argentina, Sergio Massa, comemorou em Pequim os suspeitos empréstimos recebidos dos chineses, dizendo: “Nós deveríamos nos chamar Argenchina”.2

Pequim comprou parte da dívida externa da Costa Rica e instalou o Instituto Confúcio, fechado nos EUA por espionagem e proselitismo marxista. Fez um estádio de mais de 100 milhões de dólares — jamais sonhado pela Costa Rica , mas só depois de o país romper seus laços diplomáticos com Taiwan…

‘Chino-américa’

Em novembro de 2014, o Brasil e o Peru puseram-se de acordo para fazer uma conexão entre o Atlântico e o Pacífico com financiamento chinês. Nesse mesmo ano, Pequim fechou 20 acordos com a Argentina em troca da cessão, durante 50 anos, de um território de cuja soberania ela abre mão e onde funciona hoje uma estação espacial que segundo o consenso tem uso militar e na qual os argentinos não podem entrar.

Palavras do ministro da economia da Argentina, Sergio Massa: “Nós deveríamos nos chamar Argenchina

A China promete colossais investimentos enriquecedores, mas na realidade submete e arrasa as economias “beneficiadas”. Exemplo típico é o Brasil. Segundo recente estudo da FIESP, em uma década o País perdeu 11% de suas exportações à América do Sul (R$ 52 bilhões), surrupiadas por produtos chineses (Cfr. “O Estado de S. Paulo, 7-11-23). Produtos em geral baratinhos e de má qualidade.

A Universidade Cornell mostrou que a América Latina fornece apoio à política exterior chinesa nas Nações Unidas. Acontece que, para Pequim, quem descobriu a América não foi Colombo em 1492, mas sim Zheng He, um almirante chinês muçulmano eunuco, em 1421. Agora a China procura reparação por essa “ignorância” histórica (cfr. El Mundo).3

Canal chinês para superar o do Panamá?

Em vermelho, o percurso do falido canal chinês

A China tenta realizar o projeto faraônico de um canal transoceânico através da Nicarágua que supere o canal do Panamá. O Grande Canal da Nicarágua, ou Lago Cocibolca, prenuncia um outro canal que cortaria pelo meio a região amazônica e tornaria a China uma virtual dominadora da região a pretexto de estender a Nova Rota da Seda (em inglês: Belt and Road Initiative), projeto trilionário que realiza o sonho de Mao Tsé-tung da hegemonia mundial chinesa.

O projeto do Canal da Nicarágua é elucidativo. O lago homônimo contém a maior massa de água doce da América Central da América Central e ficaria nas mãos de um consórcio chinês que o transformaria em um canal para cargueiros de grande calado. O acordo original assinado pela ditadura sandinista de Daniel Ortega com o Grupo HKND foi anunciado em 2013, no dia do aniversário de nascimento do líder guerrilheiro Sandino.

Segundo Ortega, passariam navios tão grandes, “que não poderão fazê-lo pelo canal de Panamá”. O chinês Wang Jing — que a imprensa nicaraguense, quando havia liberdade, chamava de “o fantasma” — recebeu a concessão da obra durante 100 anos. A largura do canal seria de 230-520 metros e a profundidade variaria entre 27,6 e 30 metros ao longo de 105 quilômetros do lago. A profundidade média de 14 metros exigiria remover 310 milhões de metros cúbicos de rocha e outros 65 de lodo, quando o Canal do Panamá movimentou apenas 41 milhões.

Jaime Incer Barquero, presidente da Fundação Nicaraguense para o Desenvolvimento Sustentável, estimou que requereria uma dragagem gigantesca, sendo “difícil pensar em qualquer tipo de vida de água doce que possa sobreviver nessas condições”.

A grande maioria dos camponeses e pescadores vizinhos do futuro canal foi contra o projeto. “Quando os chineses vierem, vamos recebê-los com facões. Eles estão começando a expropriar propriedades. Eles oferecem um preço catastrófico. Não sai nada na imprensa porque está comprada”. Até o ex-padre, ex-guerrilheiro e ex-ministro da Cultura sandinista Ernesto Cardenal criticou: “Querem roubar o país”.

Os protestos foram reprimidos com violência inaudita, matando entre 325 e 560 populares, deixando centenas de desaparecidos, milhares de feridos e dezenas de milhares de exilados. A pena máxima na Nicarágua é de 30 anos, mas os líderes camponeses foram condenados a mais de 200 anos de prisão, segundo a BBC News.4

Em 2018, o projeto inicial foi declarado oficialmente cancelado. Mas a atual onda do “comunismo rosa” está fazendo uma nova tentativa.

A ditadura de Ortega não poupa qualquer tipo de violência para reprimir os contínuos protestos, que deixaram até agora centenas de mortos, desaparecidos, milhares de feridos e dezenas de milhares de exilados.

Repressão a médicos

Entre o primeiro projeto falido e a atual tentativa, a ditadura radicalizou a repressão exercendo um comando de terror sobre os médicos que lutavam contra o coronavírus, citou “La Nación”5 de Buenos Aires.

O sandinismo encheu os hospitais públicos com fotos dos “heróis e mártires” guerrilheiros, de Ortega e de sua mulher Rosario Murillo, consagrada à bruxaria. O regime proibiu medidas anti-epidêmicas e contou apenas 83 mortes, quando o Observatório Cidadão, de médicos independentes, registrava 2.087 óbitos. Em “enterros express”, a polícia sumia com os corpos. Os médicos não podiam usar equipamentos de proteção pessoal “para não alarmar” os doentes. Dezenas de especialistas foram demitidos por criticar esses erros.

O bispo católico de Matagalpa, Rolando Álvarez, sendo preso.

As expulsões obedeciam a “ordens de cima”, ditadas pelo sindicalista presidente do Parlamento cognominado “doutor morteiro”, pelo uso de bombas artesanais. Os jornalistas que iam aos centros de saúde eram presos, e os opositores feridos pela polícia não eram atendidos. A Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH) contabilizou 328 mortos e mais de 2000 feridos a esse título.

De 800 funcionários do hospital Bertha Calderón, por volta de 250 foram mandados de volta para suas casas com sintomas de coronavírus, como repressão e vingança. Nenhum deles foi julgado doente e as mortes foram atribuídas à “pneumonia atípica, infarto ou parada respiratória”.

A Nicarágua virou um portal de entrada na América Latina do terrorismo internacional. Mohsen Rezai, iraniano procurado pela Interpol e envolvido no atentado terrorista contra a associação de saúde judaica AMIA em Buenos Aires, assistiu a mais de uma posse presidencial de Ortega. Em Manágua, ele se confraternizou com o presidente argentino e os ditadores de Cuba e Venezuela, noticiou La Nación.6

Até o clero sandinista ficou horrorizado

Católicos saem às ruas para pedir o fim da perseguição religiosa e a liberdade dos membros do clero encarcerados pela ditadura

Infelizmente, a hierarquia eclesiástica e o clero local cooperaram com a revolução comuno-sandinista. No Brasil, houve no Instituto Paulo VI, da Arquidiocese de São Paulo, uma “Noite Sandinista”, na qual o bispo de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, vestiu o uniforme de guerrilheiro sandinista como “sacramento de libertação”, dizendo: “Eu me sinto, vestido de guerrilheiro, como me poderia sentir paramentado de padre”.

A hierarquia eclesiástica foi o motor da Teologia da Libertação e das revoluções que esta promoveu na América Latina e, como é bem conhecido, está na raiz do PT brasileiro (Catolicismo, jul-ago/19807). Leigos católicos integraram o primeiro gabinete guerrilheiro nicaraguense juntamente com quatro sacerdotes: o ex-ministro das Relações Exteriores Miguel D’Escoto (1979-1990), o ministro da Previdência Social, Pe. Edgard Parrales (1980-1982), o Pe. Ernesto Cardenal (1979-1982), ministro da Cultura (1987), e seu irmão, Pe. Fernando Cardenal, ministro da Educação (1984-1990).

Porém, quando o governo de Ortega foi desvendando seu cruel rosto comunista, a posição dos bispos nicaraguenses mudou parcialmente. O arcebispo de Manágua, Cardeal Miguel Obando y Bravo (1926-2018), criticado por sua inércia cúmplice, passou a comparar o regime a uma “cobra venenosa e traiçoeira”.

A ditadura da Nicarágua determinou a expulsão de freiras estrangeiras pertencentes à congregação das Filhas de Santa Luísa de Marillac no Espírito Santo, fundada em 1992

Perseguição declarada à Igreja

Em julho de 2022 Ortega expulsa Missionárias da Caridade, pertencentes à congregação do mesmo nome fundada pela Madre Teresa de Calcutá.

Em agosto de 2022, após duas semanas de cerco à sede episcopal, por ordem do governo Ortega, os sandinistas invadiram a cúria de Matagalpa e sequestraram o bispo Dom Rolando José Álvarez e mais sete dos seus oito colaboradores, conforme publicado por La Nación.8

Em março de 2021, Ortega expulsou o núncio apostólico Waldemar Sommertag, pondo fim a um vínculo diplomático de 115 anos. E em 21 de setembro do mesmo ano, o país desistiu de ter embaixador ante a Santa Sé. Duas universidades ligadas à Igreja foram fechadas e terão que entregar ao governo todas as informações sobre alunos, professores, planos de estudos, matrículas e habilitações, informou O Estado de S. Paulo (12-3-2023).

Logo depois da Semana Santa a tirania mandou para o exílio as religiosas dominicanas que cuidavam de um asilo de anciãos, além de confiscar o mosteiro das irmãs trapistas de São Pedro de Lóvago. Em julho foi a vez das Missionárias da Caridade, acusadas de atividades “terroristas”, noticiou Infocatólica.9

Irmãs dos Pobres de Jesus Cristo foram levadas por policiais de Ortega “para rumo desconhecido”.

Ainda em julho, a polícia da ditadura sequestrou quatro freiras brasileiras da congregação Irmãs dos Pobres de Jesus Cristo, na cidade de León. Elas foram expulsas da Nicarágua. A congregação estava no país há sete anos, atuando junto aos pobres mediante a distribuição de alimentos e rezando com eles. Oficialmente 40 freiras e 44 religiosos foram expulsos pelo governo Ortega nos últimos cinco anos, mas o número real é muito maior, informou o site Aleteia 10.

Dezenas de estações de rádio e televisão católicas e mais de mil organizações não-governamentais foram fechadas, igrejas profanadas com bombas incendiárias, padres presos e os paroquianos proibidos de entrar na igreja de Ciudad Darío, também no município de Matagalpa. Cabe mencionar que o regime comunista de Ortega — misturado com bruxaria praticada por sua mulher, Rosario Murillo [foto abaixo], elevada a “copresidente” — ainda tem bispos identificados com eles, como o diocesano de León, Dom René Sandino, que instalou a insígnia da Frente Sandinista na catedral.

A diocese de Matagalpa foi indiciada sem nenhuma prova por “organizar grupos violentos” e incitar o “ódio” para “desestabilizar o Estado”. O ditador acusou os bispos de “conspiradores golpistas” por apoiarem os protestos da oposição que pediram sua renúncia em 2018, e em cerimônia pública em 28-9-2022, deblaterou: “Tudo se impõe na Igreja Católica, é uma ditadura perfeita”.

Em Matagalpa, Dom Oscar Escoto e os padres que o acompanhavam, depois de 14 dias de sequestrados e presos, não recebiam comida, remédios, roupas ou material de higiene, noticiou Infocatólica.11

O cardeal nicaraguense Leopoldo Brenes abençoou nove imagens de Nossa Senhora de Fátima para todas as dioceses do país. Mas o governo proibiu a diocese de Matagalpa de recebê-la, e centenas de fiéis que se dirigiam à catedral para venerá-la foram enviados de volta para suas casas, pois Ortega mandou tratar a Igreja Católica como inimiga do Estado, conforme informa o site da Unisinos,12 que apesar de ser a central da Teologia da Libertação no Brasil, viu-se obrigado a informar sobre os crimes anticatólicos de seus ex-companheiros de viagem.

“Democracia” que enforca a liberdade

Os ex-presidentes que compõem a Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (IDEA) denunciaram “agravadas perseguições à liberdade de religião”, manifestaram-se preocupados com “o incêndio de igrejas e a destruição selvagem de imagens do culto católico”, além de exigir a intervenção do Papa Francisco, aliás muito criticado por sua inexplicável inércia, que mais parece cumplicidade (cfr. Clarín).13

O jornal espanhol El País14 apontou um despótico tripé legislativo do governo para afogar a liberdade de expressão. Uma Lei contra Discurso de Ódio pune os opositores com prisão perpetua. Outra Lei, a de Agentes Estrangeiros, proíbe doações internacionais a sociedades civis, ONGs, jornalistas e grupos opositores. Por fim, a Lei Especial de Delitos Cibernéticos, ou Lei da Mordaça, pune com 1 a 10 anos de prisão os críticos de Ortega nas redes sociais.

Em novembro de 2021 — prendendo candidatos opositores e enchendo as cadeias de inimigos políticos —, Ortega se fez eleger presidente mais uma vez, e se arvorou em campeão da democracia. A comunidade nacional e a internacional viram a escandalosa farsa; os EUA, a União Europeia, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e dezenas de países democráticos recusaram o resultado. Os ditadores de Cuba e da Venezuela participaram da posse de seu homólogo nicaraguense, China, Rússia, Coreia do Norte, México, Argentina e Irã se fizeram representar, esse último por um chefe terrorista.

A posse preludiou a prisão de jornalistas, a fuga de empresas de comunicação e o encarceramento de familiares de exilados políticos que criticavam a tirania. 317 pessoas foram declaradas apátridas, tiveram seus registros civis apagados e seus bens confiscados. “É a morte civil, como se a gente nunca tivesse existido”, deplorou o jornalista Héctor Mairena, refugiado na Costa Rica.

Segundo a instituição Transparência Internacional, a Nicarágua, irmanada ao lulo-chavismo, tornou-se o país mais corrompido da América Central e o terceiro mais corrupto de toda a América.

Uma imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, Padroeira da Nicarágua, reina sobre as barricadas em Masaya, conhecida como “a Cidade Heroica”

Papa rompe mutismo incompreensível

Após anos de horrores despóticos, com a colaboração de altos eclesiásticos e o mutismo muito criticado do Papa Francisco, este finalmente deplorou a tirania em março passado: “Não tenho escolha a não ser pensar em um desequilíbrio na pessoa que lidera [Ortega]. […] É como se estivesse trazendo a ditadura comunista de 1917 ou a hitlerista de 1935. São ditaduras grosseiras”, registrou a Folha de S. Paulo.15

Ortega treplicou com gestos brutais, mas não mudou e reforçou as violências na Semana Santa. No Domingo de Ramos, em San José de Cusmapa, oeste do país, fiéis se revoltaram após a polícia prender o Pe. Donaciano Alarcón quando este saiu da igreja para benzer os ramos. Ainda revestido dos paramentos da missa, foi expulso pela fronteira com a Costa Rica, acusado de organizar procissões e sublevar a população.

Segundo ele, informantes presentes em todas as missas denunciaram sua menção ao Papa Francisco e ao bispo de Matagalpa, Mons. Rolando Álvarez, acusado de “traição à pátria”, crime usado contra qualquer opositor, acrescentou a Folha de S. Paulo.16 Informou o site nicaraguense “100% Noticias” (10-2-23) que Daniel Ortega “puniu monsenhor Rolando Álvarez com 26 anos de prisão e a perda da nacionalidade”, além de ser obrigado a pagar uma multa. Pouco depois, o ditador fechou três universidades católicas que contavam com pelo menos onze unidades de ensino, e dissolveu as organizações caritativas católicas ligadas à Caritas, informou o site Vatican News 17 e O Globo.18

Poucas semanas antes, o ditador havia esbravejado: “Se vamos falar de democracia, que se eleja também o papa por voto direto do povo. Que seja o povo quem decida, não a máfia que está organizada no Vaticano”. Grosserias que poderiam ter sido recebidas com aplausos nas assembleias do famigerado Sínodo Alemão.

O silêncio cúmplice do PT

Mas o silêncio, afinal quebrado, do Papa, foi acompanhado de outro: o do PT e de Lula, autoproclamado herói da democracia, mas que persevera como velho amigo e companheiro de viagem do déspota comunista nicaraguense. O jornalista Mairena pede mais ação do Brasil: “Lamentamos que o governo do presidente Lula não tenha tomado uma atitude firme”.

No Brasil, entre outros, Celso Rocha de Barros, autor de “PT uma história”, partilhou a perplexidade da omissão petista diante do regime de crimes ao afirmar no artigo: “PT faria bem em adotar uma postura abertamente crítica à ditadura de Ortega”, Folha de S. Paulo19:

“A revolução nicaraguense de 1979 foi a revolução da geração em que o PT foi fundado. Nos anos 1980, o PT mandou médicos para a Nicarágua […]. Jovens petistas se tornaram voluntários para ajudar os sandinistas, tinham várias semelhanças de família com o PT, como a forte presença de católicos progressistas em seu meio. Na Nicarágua, houve padres-guerrilheiros […]. Enquanto isso, o petista Frei Beto tentava aproximar católicos e comunistas em Cuba”.

11 bases espaciais e 40 portos na América do Sul

Logo após a viagem a Xangai do Ministro da Economia argentino, Sergio Massa, e do filho de Cristina Kirchner, Máximo Kirchner, o governador da Terra do Fogo aprovou a construção de um porto multivalente por uma empresa de fachada do Exército Vermelho. Ele seria como um polo agroquímico, mas esconderia uma base naval para controlar os canais do Sul e serviria de porta de entrada à Antártica. “Abrir as portas a uma potência totalitária como a China pode vulnerar a nossa soberania”, denunciou o legislador Pablo Daniel Blanco, que abriu, juntamente com outros, um processo na Justiça.

Os EUA temem pelas sucessivas concessões do regime peronista e lulo-chavista do presidente Fernández. Este também quereria rearmar a Argentina com armas chinesas. The Wall Street Journal revelou que a China também montou há anos em Cuba uma base de espionagem das comunicações nos EUA, como outrora fazia a URSS.

Ela está instalada num prédio de antiga URSS, na aldeia de Bejucal. “Os EUA só despertaram há quatro ou cinco anos para esta questão de segurança militar para o mundo”, disse Jonathan Ward, especialista na oposição China-EUA. “A América Latina corre o risco da dependência econômica e da influência militar e diplomática chinesa”, que Ward comparou à expansão do Império Britânico no século XIX, citando o jornal La Nación.20 Altos comandos militares insistem que as instalações de empresas chinesas na América Latina e no Caribe visam um “duplo uso”: na aparência são civis, na prática são dirigidas pelo exército comunista.

O Center for Strategic and International Studies (CSIS), enumerou onze instalações espaciais na América do Sul. “Estas instalações constituem um segmento de uma rede mundial que pode mirar os EUA e interceptar informação sensível”, afirma num relatório. Exemplo preocupante é a estação Espaço Remoto, em Neuquén (Patagonia), controlada pela Força de Apoio Estratégico do Exército Popular de Libertação, onde a Argentina não pode exercer sua soberania (cfr. La Nación).21

Outras são as de El Sombrero, na Venezuela, de La Guardia, na Bolívia, e mais dois projetos em San Juan, Argentina. Além desses, a China procura instalar-se em 40 portos, do México ao Peru, visando neste último o porto de Chancay, o complexo portuário mais importante no sul do Pacífico.

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Há 440 anos, no porto de El Realejo, na Nicarágua, uma nau que deveria partir para o Peru não conseguia zarpar. Nela, Don Lorenzo de Cepeda, irmão de Santa Teresa de Ávila, levava uma imagem da Imaculada Conceição. Enquanto não se conseguia mover o barco do porto, ele se instalou na cidade de El Viejo com a imagem, que os mestiços cultuavam como a “Menina Branca”, que fazia milagres. Formou-se a ideia de que a Imaculada Conceição queria ficar ali. O irmão de Santa Teresa então doou a imagem à cidade e as velas do barco se enfunaram com vento muito favorável.

Em 2018, quando soldados da ditadura matavam centenas de cidadãos opostos à tentativa chinesa de construir o canal na Nicarágua, a imagem da Padroeira reinava sobre as barricadas salpicadas pelo sangue dos resistentes anticomunistas. A iniciativa de Ortega a favor da China acabou fracassando. Foi um sinal de que Nossa Senhora, que esmaga a serpente infernal e seus sequazes, acabará vencendo na Nicarágua e no “Continente da Esperança”.