
- Frank Seidl
Sem sombra de dúvida, o centro do Natal é o Divino Salvador, depois Sua Mãe Santíssima e o castíssimo São José. Mas as figuras circunjacentes têm seu papel. Bem soube compreender isso São Francisco, o Poverello de Assis, há exatamente 800 anos, quando idealizou o primeiro presépio.
Não foi por acaso que ele quis adornar a pobre manjedoura com dois singelos animais domésticos: a vaca e o burro.
Mais de uma vez me pus a refletir sobre o simpático equino: simples e prestativo, é o símbolo vivo do pouco inteligente. Dir-se-ia que possui a beatitude incompreensibilitatis. Ele aceita benevolamente, sem entender. Muitas vezes o maltratam, não sabendo distinguir o burro de carga do burro de presépio e os limites de sua capacidade. Tantas vezes ele aceita a carga até cair extenuado. Esse é o burro de carga. Quem não se encantou com a leitura de “Memórias de um burro”, da Condessa de Ségur? (https://www.lumencatolica.com.br/livros/memorias-de-um-burro)
Mas o burro de presépio,
mesmo no seu curto entendimento, parece sentir no ar que uma ameaça paira sobre
o Inocente Menino e que o malvado Herodes ronda por perto. Assim, ele está
pronto para, a qualquer momento, empreender uma longa viagem ao Egito.
Nunca fui burro de carga, mas tantas vezes me senti consoante com o burro do
presépio. Não terei a falsa humildade de me julgar o mais burro dos seres
humanos. Existem milhões que me levam a dianteira no mundo dos inteligentes.
Outros milhões ficam para trás.
Fica aqui uma singela reflexão aos pés do presépio, que desejo compartilhar com todos os homens de boa vontade, recordando que a glória de Deus no mais alto dos Céus precede incomparavelmente a paz na Terra.