“Renascimento” do quê?

Agencia Boa Imprensa

Assim como o raio de sol entra por uma fresta da janela para formar um pequeno cenário de luzes e de sombras, assim também a mãe católica deve criar em torno de si, pelo seu modo de ser, um ambiente propício à formação do subconsciente dos filhos, fazendo com que as primeiras noções de moralidade e de bom comportamento deitem nele suas raízes.

À medida que consegue fazer desabrochar nos filhos o encanto por tudo aquilo que é belo, nobre e elevado, a mãe desperta neles o horror ao feio, ao imoral, à cacofonia, e desta antítese nascerá a ideia de moralidade. Esta noção fundamental fará aflorar em seus corações a necessidade da luta como um imperativo contra tudo o que lhes for contrário. Trabalho de ourivesaria que só pode ser levado a cabo dentro da família e do lar.

A criança assim formada passará a amar o que é verdadeiro e sério, a ter uma ideia exata de Deus, pois seus pais compreendem a necessidade do vínculo conjugal indissolúvel como condição normal e ideal para a formação e educação da prole.  E com a concorrência mais próxima da mãe, devem saber despertar nos filhos o senso do ser, de responsabilidade e do dever.

É no sadio ambiente familiar que se destila o espírito que deve dar sentido à vida. As cerimônias de nascimento, por exemplo, feitas com o carinho e o desvelo da mãe, incutem nos filhos a ideia de um lar cristão. Ou ainda, o reencontro diário do pai e da mãe diante de uma imagem de Jesus Crucificado ou de Maria Santíssima, na recitação do terço em família, vinca neles a ideia de Deus e da eternidade.

As mães, pelo simples fato de cuidarem da higiene dos filhos, vão deixando claro para eles que nem tudo pode ser feito diante dos outros, como o banho, a troca de roupa, etc. Isso os remete para a noção do bem e do mal, do belo e do feio, da verdade e do erro, em suma, a noção de pecado, que é a desobediência às leis impressas naturalmente por Deus em seus pequenos corações.

Aos domingos, a mãe conduz os filhos à Missa, onde eles devem comportar-se bem. Vêm as aulas de catecismo, já iniciado no recinto do lar. As celebrações religiosas passam a ser assíduas. Não será a babá eletrônica quem cuidará dos filhos, mas a mãe, que lhes contará belas histórias que elas mesmas, quando crianças, ouviram de seus pais. Sua entonação de voz e sua fisionomia tocam fundo no coração dos filhos, carnes de sua carne.

Nas horas difíceis, as histórias poderão versar sobre o heroísmo e a confiança, que devem pautar seu modo de ser, de pensar e de agir. O esmero e a solicitude maternos chegam até às roupas: o corte, as dobras, a composição de suas cores, e até mesmo seu comprimento parecem incutir nas crianças a ideia de príncipes e princesas, pois Deus as criou para reinarem sobre as paixões desordenadas, e não para se deixarem subjugar por elas.

Tal mãe, tal filho. A temperança na conduta diária se forma na família cristã. A atitude dos pais diante dos filhos será a que estes adotarão diante dos outros. Como o sol lança os primeiros raios para inaugurar um novo dia, assim também os primeiros dias da criança marcarão o que ela será pelo resto da vida.

Desde o Renascimento o mundo vem se descristianizando… Renascimento do quê? — Do paganismo! De lá para cá, o povo outrora cristão foi abandonando a fé católica. Chegamos ao ponto de as crianças de hoje sequer aprenderem as orações mais elementares e trilharem depois caminhos opostos à razão: prazeres infrenes, drogas e prostituição. Querem viver sem lei, e os frutos todos conhecem: a droga, a violência, o crime…

A miséria e a pobreza são hoje sobretudo de ordem espiritual e moral. Cumpre reorganizar a sociedade — a começar pela família — a partir da ideia de Deus e da eternidade.  A noção de bem e de mal, consignada nos Mandamentos, é essencial para a sociedade. Não basta ter a noção, é preciso criar condições para que a virtude do recato e do pudor vicejem.

As autoridades abdicaram de seus deveres. Aplicam-se leis atentatórias à moral cristã. Alastra-se a desordem social. A família está dilacerada. Hoje tudo se reivindica: cobram-se dos políticos bens materiais como saúde, emprego, transportes, lazer, mas nunca se ouve uma voz autorizada ensinar que a moralidade é o fundamento da ordem social ou que o Decálogo deve ser cumprido. Quem semeia ventos!…

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 (*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ)

2 comentários para "“Renascimento” do quê?"

  1. Maria das Graças Dourado Pimenta   9 de julho de 2014 at 20:42

    Como os demais artigos escritos pelo Padre David,esse diz toda a verdade sobre o papel da família e principalmente, das mães em relação à formação moral dos filhos. Não é preciso que os psicólogos digam: a influência das mães em nossa vida é única. Portanto, educar um menino é educar um cidadão. Educar uma menina é educar uma família. Bom seria se tivéssemos boa formação religiosa e acabasse no mundo a nefasta influência dos meios de comunicação.

  2. ZLCracco   9 de julho de 2014 at 23:30

    Vendo a gravura acima e lendo tão bela descrição do papel da família, especialmente da mãe, descrita pelo Pe David, temos saudades de um tempo em que a presença da Igreja Católica tudo cobria com suas verdades perenes. Que tristeza o mundo de hoje! Mas confiamos na Mãe de todas as mães que há de trazer o verdadeiro RENASCIMENTO com Ela e seu Divino Filho tudo regendo!