TFP Americana comemora meio século de luta pela civilização cristã

A primeira de muitas históricas lutas, janeiro de 1971, Nova York

Raymond Drake*

Há 50 anos, no dia 18 de maio de 1973, foram protocolados no Departamento de Estado de Nova York os artigos de incorporação estabelecendo a Foundation for a Christian Civilization, Inc. — razão social da American Society for the Defense of Tradition, Family and Property — como organização sem fins lucrativos. Alguns meses depois, o Internal Revenue Service reconheceu o status de organização beneficente da nova entidade.

Com esse processo legal de 1973, o então punhado de católicos americanos que se reuniam informalmente em torno da publicação Crusade for a Christian Civilization para defender os princípios da tradição, família e propriedade — pilares essenciais de uma ordem cristã — adotaram uma estrutura legal para fins de direito civil.

Os primeiros passos

No transcorrer dos anos, muitos se juntariam às fileiras dessa cruzada espiritual. No entanto, a primeira edição da revista Crusade, em janeiro de 1971, foi lançada por apenas dois membros, John B. Hart e Philip B. Calder, residentes na cidade de Nova York, que já se conheciam havia algum tempo.

No verão de 1970, John Hart assistiu a um audiovisual apresentado pelo Dr. José Lúcio de Araújo Corrêa, membro da TFP brasileira. Sua viagem a Nova York foi uma das várias que ele e outros representantes de Cruzada (Argentina) e das TFPs brasileira e argentina fizeram aos Estados Unidos a partir de 1966. Deram palestras e representaram suas organizações em congressos conservadores como o The Wanderer Forum.

Em dezembro de 1970 o Sr. Hart viajou ao Brasil, para conhecer melhor os princípios e métodos de ação da TFP brasileira e sua visão global, bem como sua longa história de luta bem organizada pelos valores da civilização cristã, iniciada em 1928 pelo seu fundador e presidente, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.

Apostolado da TFP

Jovem membro da TFP Student Action participa de campanha nas ruas de Nova York.

Em artigo para o primeiro número do Catolicismo, em janeiro de 1951, intitulado “A Cruzada do Século XX”,o Prof. Corrêa de Oliveira descortinou os objetivos que a publicação tinha em vista.

Tratava-se de uma nova fase de seu apostolado, iniciado em 1928 com o seu ingresso no movimento católico. Em 1933, o Prof. Plinio fora nomeado diretor de o Legionário, folha dominical que ele transformaria em prestigioso semanário católico de alcance nacional e para cuja equipe redatorial convidou seus seguidores mais próximos. Entretanto, em 1947, após a publicação de seu livro-bomba Em Defesa da Ação Católica, denunciando as tendências neomodernistas que surgiam na Igreja, Plinio Corrêa de Oliveira e seu grupo perderam o controle editorial do Legionário. Perseverando em seu apostolado, ele e seus amigos lançaram em 1951 o mensário Catolicismo, que se tornou seu novo porta-voz.

Em 1960, com a fundação da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade — a primeira TFP —, o Prof. Plinio adotou a estrutura legal que definiria seu apostolado nas décadas seguintes.

Em 1959, ele escreveu sua obra-prima, Revolução e Contra-Revolução, “com a intenção de torná-la o livro de cabeceira de uma centena de jovens brasileiros […] que seriam a semente da futura TFP”. Na primeira parte desse ensaio, ele expôs os “princípios, objetivos e normas” desse apostolado, que definiu, em 1976, como um “combate à Revolução, isto é, mais particularmente, o chamado esquerdismo católico no âmbito religioso e o comunismo no âmbito temporal”.

Essa luta sempre foi e continua sendo legal e pacífica. Em vez de armas físicas, ela emprega as do espírito: oração, exposição clara das leis morais divinas e do direito natural, desenvolvimento e apresentação de argumentos baseados na razão iluminada pela fé, pelo bom senso e pela lógica. Tudo é sempre fundamentado nos ensinamentos tradicionais do Supremo Magistério da Igreja Católica e se destina a influenciar e persuadir tanto indivíduos quanto a opinião pública a seguir tais ensinamentos.

O livro Revolução e Contra-Revolução e o combativo exemplo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e da TFP brasileira, inspiraram a fundação da TFP americana e de outras TFPs e entidades congêneres em diversas partes do mundo.

Juntas, as 25 TFPs irmãs e autônomas existentes na época do falecimento do Prof. Plinio, ocorrido em 3 de outubro de 1995, formavam a maior rede de organizações anticomunistas de inspiração católica do mundo.

Participação anual na Marcha Pró-vida

Atividades principais

Resumir as principais atividades da TFP americana exigiria muito espaço. Porém, ao longo desses 50 anos, a organização atuou em muitas frentes, cobrindo uma ampla gama de tópicos. Isso é compreensível, porque a TFP se preocupa com tudo que afeta a civilização cristã de uma forma ou de outra.

Assim, a TFP americana tem combatido a contracepção; o aborto; a eutanásia; a clonagem humana; a aceitação social da prática homossexual; as leis antidiscriminatórias que dão status privilegiado a homossexuais; a política “Don’t Ask, Don’t Tell” (não pergunte, não diga) no recrutamento de nossas Forças Armadas; a adoção homossexual; as parcerias domésticas; as uniões civis e o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo; as políticas transgênero; os filmes homossexuais, as peças teatrais, os eventos e clubes pró-homossexuais em campi de universidades católicas; as blasfêmias públicas; o nudismo, as creches socialistas; a assistência médica socialista; a alocação socialista de águas federais para irrigação; os impostos excessivos sobre herança; o socialismo autogestionário e o comunismo internacional; a política de direitos humanos do Presidente Carter; a política de distensão com os regimes comunistas adotada pelo Vaticano (Ostpolitik) e pelos governos norte-americano e ocidentais; o progressismo; a teologia da libertação; a revogação retroativa dos prazos de prescrição de danos civis por abuso de crianças; a promulgação de leis estaduais obrigando o clero a violar o segredo de confissão em casos de abuso infantil; a remoção da beleza cerimonial e a democratização da Igreja Católica; a “intemperança frenética” na economia; o movimento ecológico; o pacifismo e o desarmamento nuclear imprudente; os movimentos Occupy Wall Street, Drag Queen Story Hours and After School Satan Clubs.

A TFP americana promoveu o amor por nossa herança cristã, pelo cavalheirismo, boas maneiras e pelo refinamento; o apreço pelas desigualdades sociais legítimas e proporcionais; o respeito pela bandeira e pela honra da nação; o patriotismo; a beleza na arte e na arquitetura; o direito de possuir armas de fogo para defesa pessoal; a mensagem de Fátima de oração, penitência e conversão; o amor à pureza e à fé nas universidades; a recitação do Rosário e a afirmação de nossa fé em via pública; a doutrina católica sobre “guerra justa”; a recusa da Sagrada Comunhão a políticos pró-aborto; os direitos dos pais a educar os filhos; a educação domiciliar (home schooling); a livre iniciativa, o direito de propriedade e uma economia sólida, baseada no direito natural como parte integrante de uma sociedade cristã orgânica.

Símbolos da TFP em ação

No decorrer dessas atividades, os símbolos da TFP americana se tornaram conhecidos do público em geral. Entre esses símbolos se encontra o característico estandarte vermelho com o leão rompante dourado, as capas vermelhas e o hábito cerimonial.

Até mesmo adversários ideológicos reconhecem o impacto desses símbolos e do ativismo pacífico, porém perseverante, da TFP — o que é atestado por inúmeras repercussões.

Influência nacional

Desde 1993, a sede central da American TFP está localizada em Spring Grove, na Pensilvânia. A entidade atualmente conta com escritórios em McLean, Virgínia; Park Ridge, Illinois; Milwaukee, Wisconsin; Hazleton, Pensilvânia; Rossville, Kansas; Orange e San Jose, Califórnia; Honolulu, Havaí; Houston e Arlington, Texas; Clermont e Hollywood, Flórida; Nova Orleans e Lafayette, na Louisiana (Lafayette é a sede da TFP-Louisiana). Nestes 50 anos, a TFP agiu em todos os 50 estados e no Distrito de Colúmbia, não apenas por mala direta e pela Internet, como também por contatos pessoais.

Os membros da TFP têm feito campanhas de rua em todos os estados, portando suas capas rubras e o estandarte vermelho com o leão rompante. Desde 2007, a TFP promoveu em todos os estados da União, no Distrito de Colúmbia e em Porto Rico, manifestações dando testemunho público da fé católica — a saber, a recitação anual do Rosário em praça pública. Tem promovido também, desde 1995, visitas domiciliares em que seus membros levam uma imagem de Nossa Senhora de Fátima para rezar o Rosário. Os Rosários de Praça Pública se estenderam às Ilhas Marianas do Norte, Guam, Samoa Americana e Ilhas Virgens Americanas.

Atividades internacionais

Fac-sílime, traduzido para o português, de carta enviada pelo Presidente Ronald Reagan para a TFP americana.

Durante esses 50 anos, a TFP americana participou de várias campanhas internacionais conjuntas com outras TFPs e entidades autônomas do mundo todo. As mais notáveis foram:

• “A Política de Distensão do Vaticano com os governos comunistas: Para as TFPs: Omitir-se? Ou resistir?” (1974);

• “O socialismo autogestionário em vista do comunismo: barreira ou cabeça de ponte? Mensagem das Treze TFPs” (1981-1982);

• “A influência russa na crise das Malvinas” (1982);

• “Morto o comunismo? E o anticomunismo também? Conversando com o ‘homem da rua’” (1989);

• “Comunismo e anticomunismo na orla da última década deste milênio” (1990);

• “Não a Fidel Castro na reunião de chefes de estado no México” (1991);

• Campanha de assinaturas pela libertação da Lituânia (1991);

• Campanha promovendo a obra Nobreza e Elites Tradicionais Análogas nas Alocuções de Pio XII (1993-1994);

• “As Américas no alvorecer do terceiro milênio: Convicções, apreensões e esperanças das TFPs do Hemisfério” (1994).

• “Filial apelo a Sua Santidade o Papa Francisco sobre o futuro da família” (2015)

Difusão do livro “Return to order” por todo o País

Escritórios em Washington e Chicago

O Bureau de Washington da TFP americana tem-se relacionado com personalidades e organizações conservadoras na capital do país desde 1981. A mesma atividade exerce o Chicago Bureau na Windy City desde 1995, participando de conferências e reuniões, e fornecendo informações sobre as atividades da TFP.

2018: protesto diante do Metropolitam Museu contra a exposição sacrílega “Corpos Celestiais”

Eis uma das muitas cartas que ilustram a eficácia desse trabalho:

CASA BRANCA

WASHINGTON

13 de fevereiro de 1984

Prezado Sr. Spann:

Obrigado por sua carta de apoio e por fornecer-me um relato atualizado das atividades da American Society for the Defense of Tradition, Family and Property.

Estou muito satisfeito com o apoio que sua sociedade tem me dado em muitas ocasiões e, portanto, gostaria de manifestar a todos os seus membros meus melhores votos de contínuo crescimento e prosperidade para a TFP. O momento atual oferece aos Estados Unidos muitas possibilidades de fazer o bem, mas também impõe grandes responsabilidades. Com sua ajuda e a ajuda de todos os patriotas americanos, sei que nossa nação pode superar todos os desafios que temos pela frente.

Com cordiais cumprimentos,

Atenciosamente,

Ronald Reagan

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Recitação anual do “Rosário em praça pública” (Nova York).

Sr. John R. Spann

Presidente

Sociedade Americana de Defesa

de Tradição, Família e Propriedade

Caixa Postal 121

Pleasantville, New York 10570

TFP americana e autoridade eclesiástica

Estruturada do ponto de vista legal como entidade civil sem fins lucrativos, do ponto de vista do Direito Canônico a TFP americana é uma associação de fato, não canônica e independente, de fiéis leigos sujeitos à vigilância da hierarquia da Igreja em questões de fé, moral e disciplina como todo e qualquer membro do laicato católico. Portanto, seu status canônico é o mesmo dos Cavaleiros de Colombo.

Não obstante esse status independente e não canônico, durante estes 50 anos a TFP americana tem-se relacionado com numerosos bispos, sacerdotes e religiosos, recebendo centenas de cartas de elogio e incentivo para suas atividades. A título de exemplo, eis uma carta do Cardeal Justin Rigali, Arcebispo da Filadélfia:

“Asseguro minhas orações e solidariedade extensivas a todos os que participarão dos Rosários Públicos no País inteiro no dia 13 de outubro deste ano, patrocinados pela Sociedade Americana de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.

Por favor, transmita aos participantes minha mensagem de encorajamento ao darem esse público testemunho de sua fé em Jesus Cristo e de seu amor e devoção à sua Mãe Santíssima. Rezo para que esse testemunho possa inculcar nos corações de todos os participantes um verdadeiro espírito de arrependimento e conversão.

Que Maria, Nossa Senhora de Fátima, os proteja.

 Cardeal Justin Rigali

Arcebispo da Filadélfia

No Memorial de Guerra do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA (Iwo Jima), em Washington.

Não poderíamos encerrar sem manifestar nossa gratidão a todos os nossos colaboradores — como ao saudoso Dr. Luiz Antonio Fragelli, que, sem hesitar, mudou-se com a esposa e a jovem família para os Estados Unidos, e dedicou 47 anos à TFP americana. Especialmente agradecemos ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que iniciou essa cruzada espiritual no Brasil. Com ele os membros da TFP aprenderam o valor da resistência organizada e tiveram a imensa e imerecida honra de lutar pela Santíssima Virgem Maria. Moralmente certos de que ele se encontra no Céu, pedimos que interceda por nós aos pés de Nossa Senhora, de quem foi devotíssimo e por cuja causa lutou tão valorosamente.

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*O autor é Presidente da American Society for the Defense of Tradition, Family and Property — TFP.