Mathias von Gersdorff
O Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, Arcebispo-emérito de Hong Kong, reiterou em recente viagem à Alemanha sua forte crítica ao planejado acordo entre o Vaticano e a República Popular da China. Esse acordo entregaria a Igreja Clandestina chinesa, que foi sempre fiel à Santa Sé, à Associação Patriótica, criada pelo regime comunista chinês em 1957.
O Cardeal Zen recebeu no dia 7 de abril último em Bonn, antiga capital da Alemanha, um prêmio concedido pela Fundação Stephanus aos cristãos perseguidos — Stephanus Stiftung für verfolgte Christen. [foto ao lado]
Em seu discurso de agradecimento, ele explicou que a Secretaria de Estado do Vaticano, liderada pelo Cardeal Pietro Parolin, está disposta a fazer concessões absurdas ao governo comunista. O acordo contemplaria a nomeação de bispos pelo governo chinês. O Papa só teria direito de veto. Devido às distâncias geográficas e às complicações da realidade chinesa, isso significaria que o Papa praticamente não teria influência.
Escandaloso também é o fato de os católicos clandestinos de numerosas dioceses, que vêm sendo perseguidos há várias décadas, terem de aceitar bispos cismáticos de obediência ao regime comunista, que tomariam o lugar dos bispos clandestinos fiéis a Roma. De que serviu então resistir às perseguições durante tantos anos?
As dioceses chinesas são governadas por bispos “patrióticos” e clandestinos. No início de janeiro de 2018, uma delegação do Vaticano enviada pelo Cardeal Parolin e liderada por Dom Cláudio Maria Celli tentou remover dois bispos clandestinos para que os “patrióticos” aumentassem o número de suas dioceses.
Os bispos legítimos felizmente não cederam à pressão do Vaticano. Mas essa singular intervenção foi para o Cardeal Zen a gota que transbordou a taça. Ele foi a Roma externar sua perplexidade ao Papa Francisco, que se manifestou surpreso e desconhecedor dos pormenores.
É por isso que o Cardeal Zen acusa o Cardeal Parolin e o Secretário de Estado de informarem mal, ou inclusive erroneamente, o Papa Francisco.
A viagem à Alemanha para receber o prêmio da Fundação Stephanus constituiu a última etapa da turnê do Cardeal Zen para alertar os católicos de todo o mundo sobre a projetada traição aos católicos chineses.
O Cardeal deu muitos detalhes sobre a intensificação da perseguição aos católicos nos últimos meses. Uma nova lei das religiões limita severamente a liberdade da Igreja. Há grandes dificuldades em administrar os sacramentos. Por exemplo, é proibido batizar menores de 18 anos de idade. Durante a Semana Santa, os comunistas prenderam os bispos clandestinos para impedi-los de celebrar as cerimônias litúrgicas daquele período. No início deste mês, uma nova lei limitou fortemente a venda de Bíblias.
É com pessoas dessa natureza que o Secretário de Estado quer encontrar um acordo? Para o Cardeal Zen, isso só pode resultar em catástrofe, numa completa capitulação aos governantes comunistas na China.
Nenhum acordo é melhor que um péssimo acordo, resume o Cardeal Zen.
Realmente lamentável o acordo entre o governo comunista chinês e o Vaticano.