
- Roberto de Mattei
Em sua primeira saída de Roma, o Papa Leão XIV foi a um lugar pouco conhecido pela maioria, mas muito querido por alguns devotos de Nossa Senhora: o Santuário da Mãe do Bom Conselho em Genazzano [foto acima].
Genazzano é uma vila medieval, que foi feudo da família Colonna, situada nas encostas das montanhas Prenestini, a cerca de 45 km de Roma. No coração desta vila de ruas estreitas ergue-se um santuário, gerido pelos religiosos da Ordem de Santo Agostinho, onde se venera uma imagem da Virgem, cuja história merece ser conhecida.

No século XV, o povo albanês, liderado pela figura lendária do príncipe George Castriota, conhecido como Scanderberg (1405-1468), defendeu-se com todas as suas forças contra os invasores muçulmanos. Mas depois de vinte anos de resistência heróica contra Mehmed II, o defensor do cristianismo albanês, desgastado pelas batalhas, morreu em 17 de janeiro de 1468. Scanderberg era um grande devoto de um antigo ícone de Nossa Senhora com o Menino Jesus, conhecido como “Santa Maria de Shkodra”. Shkodra é uma das cidades mais antigas da Albânia, perto da fronteira com Montenegro. Seu santuário era um centro de devoção para o qual todos se voltavam e, graças à ajuda de Nossa Senhora de Shkodra, Scanderberg conseguiu triunfar sobre exércitos muito mais fortes que os seus. Na véspera de sua morte, antes de Shkodra e a Albânia caírem nas mãos dos turcos, um milagre extraordinário aconteceu. Nossa Senhora apareceu em sonho a dois de seus soldados devotos, em nome de Sclavis e Georgis, a quem anunciou que sua imagem deixaria Shkodra antes que o país perdesse a fé, pedindo-lhes que a seguissem. Enquanto de Sclavis e Georgis oravam diante da imagem, ela se desprendeu da parede e, envolta em uma nuvem branca, ergueu-se no ar e se dirigiu para o mar. Os dois soldados, apoiados por mãos angelicais, cruzaram o Mar Adriático com ela [representação abaixo].

Algum tempo antes, Nossa Senhora havia aparecido a uma piedosa senhora de Genazzano, Petruccia di Nocera, uma terciária da ordem agostiniana, e ordenou-lhe que construísse um templo que abrigasse uma imagem d´Ela, no momento apropriado. Petruccia, que agora é venerada como beata, usou seus modestos recursos para restaurar uma pequena igreja, dedicada à Mãe do Bom Conselho, que estava em condições precárias.
Em 25 de abril de 1467, durante a festa de São Marcos, na época das Vésperas, enquanto as ruas fervilhavam de gente, o sino da igreja em construção começou a tocar, sem motivo aparente. Todos correram para o local e viram uma nuvem branca descer do céu e colocar a pintura de Nossa Senhora de Scutari em uma parede da igreja em construção. Pouco depois, chegaram os dois soldados albaneses, que disseram ter seguido Nossa Senhora até aquele ponto. A população ficou maravilhada, não só com o prodigioso acontecimento que presenciou, mas também com os numerosos milagres realizados pela Bem-Aventurada Virgem Maria, que se seguiram no espaço de alguns anos. Todos foram registrados por um notário e confirmados pelo Papa Paulo II, que enviou seus legados e inspetores ao local. Nos atos notariais de Genazzano, também são preservados os nomes de seis albaneses que, entre 1468 e 1500, foram para a cidade do Lácio atestando que era a Madona de Shkodra, que milagrosamente desapareceu alguns anos antes.

A antiga capela foi ampliada e um Santuário foi construído, dedicado ao que foi chamado de Mãe do Bom Conselho. O ícone milagroso ainda hoje pode ser encontrado na capela do lado esquerdo, protegida por um portão de ferro forjado do século XVII. É uma pintura sobre uma fina camada de gesso, medindo 31 cm de largura e 42,5 cm de altura. Além da trasladação, um segundo milagre, ainda verificável, o caracteriza. A pintura é como se estivesse suspensa um dedo na parede, sem ser fixada nela (Raffaele Buonanno, Memorie Storiche della Immagine de Maria, SS. Del Buon Consiglio Che si venera in Genezzano, Tipografia dell’Immacolata, Nápoles 1880, 20 ed., p. 44).

Ao longo dos séculos, os Papas, de São Pio V a Leão XIII — que incluiu a invocação Mãe do Bom Conselho na Ladainha Lauretana — até João XXIII e João Paulo II, confirmaram esta devoção, e com eles foi venerada por numerosos santos como São Paulo da Cruz, São João Bosco, Santo Afonso Maria de Ligório, São Luís Orione. Um dos maiores devotos de Nossa Senhora do Bom Conselho, no século XX, foi o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira [foto ao lado], que recebeu dela uma graça muito especial: a certeza íntima de cumprir sua missão contra-revolucionária. Nossa Senhora de Genazzano ajuda de modo especial aqueles que precisam de certeza e orientação nos momentos críticos da sua vida. A Mãe do Bom Conselho é a Conselheira por excelência, através da qual podemos obter ajuda nas provações, incertezas e dificuldades de nossas vidas. Rezando a ela, sentimo-nos envolvidos por seu olhar e a concessão de suas graças nos é assegurada pelas mudanças singulares de cor e fisionomia de seu rosto.

O Papa Leão XIV, que como cardeal, em 25 de abril de 2024, celebrou a Missa no Santuário por ocasião da Festa da “Vinda” da Mãe do Bom Conselho, foi a Genazzano na tarde de sábado, 10 de maio de 2025 e lembrou que esteve lá várias vezes, por quase 50 anos. A presença de Nossa Senhora, acrescentou, “é um dom tão grande” para o povo da cidade do Lácio, que dela “deriva também uma grande responsabilidad’: “como a Mãe nunca abandona seus filhos, vocês também devem ser fiéis à Mãe”.
O seu apelo aplica-se a todos os católicos que, nestas difíceis conjunturas da história do mundo e da vida da Igreja, se dirigem com confiança à Bem-Aventurada Virgem Maria, venerando-a como Mãe do Bom Conselho.