♦ Carlos Sodré Lanna
A bondade é uma virtude que permite a uma pessoa agir em benefício de outra a fim de oferecer-lhe diversas sensações como felicidade, proteção, amizade, amor, bem estar etc.
A bondade é um dos elementos mais importantes do catolicismo, que se baseia no amor e bondade de Deus e de seu filho único Nosso Senhor Jesus Cristo para com os seres humanos. A bondade consiste na qualidade das pessoas que tem inclinação para o bem e praticam boas ações.
Muito se tem dito sobre a bondade no trato do povo brasileiro e a contribuição do Brasil para a civilização será o de realçar o valor da cordialidade valorizando mais as virtudes do coração — a bondade civiliza a inteligência.
O historiador francês Fernand Braudel [foto ao lado] fez uma observação interessante a esse respeito na França , em outubro de 1985 pouco antes se sua morte falando em um simpósio sobre sua própria obra: “Tornei-me inteligente quando fui ao Brasil. O espetáculo que tive sob meus olhos foi um espetáculo de História, um raro espetáculo de gentileza social e a partir daí, passei a compreender a vida de outro modo. Os mais belos anos de minha vida passei no Brasil. O que provocou profundas consequências em mim e de alguma forma me expatriou” ( “O Estado de S. Paulo, 12-8-1989 ).
Braudel passou por aqui apenas dois anos (1935 a 1936) e não foi o único estrangeiro a explicitar sentimentos semelhantes em relação ao Brasil muitos outros se referiram ao nosso País de maneiras elogiosas.
Outro foi Stefan Zweig [foto ao lado], escritor, romancista, poeta, jornalista e biógrafo austríaco de origem judaica. A partir 1920 e até sua morte foi um dos escritores mais famosos e vendidos no mundo. Escreveu o livro “Brasil, um país do futuro” um sucesso de vendagem na época editado em português e vários outros idiomas.
Visitando o Brasil na década de 1930, Stefan Zweig ficou maravilhado com nosso País e considerou destinado a tornar-se “um dos fatores mais importantes do futuro desenvolvimento do mundo“.
Em épocas diversas, seus livros foram publicados na Europa e Estados Unidos somando milhões de exemplares e ele se tornou o autor mais traduzido do mundo. Ele escolheu o Brasil como refúgio das atrocidades que eram cometidas na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Aqui Stefan Zweig morou na cidade de Petrópolis morrendo em 22-2-1942, onde se suicidou com sua esposa ingerindo veneno por razões que nunca ficaram bem esclarecidas .
Guerras, batalhas e conflitos no Brasil
Tivemos desde o descobrimento um grande número de guerras, batalhas, revoluções, motins, golpes e quarteladas que ocuparam o brasileiro em lutas, matando e morrendo pelos ideais que moldaram a formação nacional. Tais combates foram travados por portugueses que aqui chegaram, por índios nativos, negros vindos da África e por outros imigrantes que mais tarde passaram a tomar parte na história do nosso País, o qual foi sendo moldado desde o início pelos ideais de uma Civilização Cristã Ocidental.
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Há seis meses redigi um artigo sobre as guerras e conflitos no Brasil, fazendo uma relação de acontecimentos bélicos em nossa história, mas que, devido à limitação do espaço, mencionei só os fatos mais conhecidos. Alguns leitores indicaram-me a falta de outros acontecimentos que achavam importantes. Assim, agora apresento uma relação das guerras e conflitos ainda não citados no primeiro artigo procurando ressaltar os mais expressivos na história do Brasil.
1516 – 1526 > Expedições Guarda costas
1556 – 1558 > Campanha contra os índios caetés
1575 > Ataques de franceses e ingleses contra o ES e RJ
1575 > Guerra de Aperipê ou da Conquista do Sergipe
1558 – 1559 > Guerras de Mem de Sá contra os indígenas (BA e ES)
1584 – 1587 > Campanha de incorporação da Paraíba
1597 > Campanha de Potengi contra os franceses e potiguares na conquista do Rio Grande do Norte
1603 – 1604 > Campanha contra franceses e indígenas seus aliados (CE)
1611 > Campanha de consolidação da conquista da Ceará
1665 – 1834 > Antilusitanismo
1723 – 1727 > Guerra de Ajuricaba na Amazônia
1725 > Colônia de Sacramento, terceira campanha
1736 – 1737 > Franceses em Fernando de Noronha
1740 – 1741 > Campanha contra os índios caiapós e tapirapés. Conquista de Goiás.
1754 – 1756 > Guerra Guaranítica (RS)
1763 – 1766 > Reconquista de Guaporé aos espanhóis.
1773 – 1774 > Invasão espanhola no Rio Grande do Sul, Vertiz e Salzedo.
1777 > Invasão espanhola na Ilha de Santa Catarina
1796 > Franceses contra Porto Seguro (BA)
1811 > Campanha Pacificadora do Uruguai
1820 – 1839 > Choques do Sebastianismo
1822 – 1823 > Guerra da Independência (BA, PI e MA), Cisplatina.
1824 > Confederação do Equador (PE, PB ,RN , CE e PI)
1831 – 8132 > Novembrada Abrilada (PE)
1832 – 1833 > Revolta dos Guanais ou Federalistas Baianos (BA)
1832 > Insurreição restauradora no Crato (CE)
1832 > Revolta restauradora de Santo Antão (PE)
1833 > Levante restaurador de Ouro Preto (MG)
1834 – 1835 > Carneiradas (PE)
1834 – 1840 > Cabanagem (PA e AM)
1837 – 1838 > Sabinada (BA)
1839 > Motim político na Paraíba
1842 > Revolta dos Liberais (SP e MG)
1843 – 1850 > “ Califórnias” de Chico Pedro (RS eUruguai)
1851 > Campanha de Pacificação do Uruguai, Uribe
1851 – 1852 > Campanha na Argentina contra Rosas
1864 > Campanha no Uruguai contra Aguirre
1874 – 1875 > Arruaças do Quebra (Quilo, AL, PB ePE)
1892 > República Transatlântica de Mato Grosso
1892 > Bombardeio de Porto Alegre
1895 > Invasão de franceses no Amapá
1896 > Levante do capitão Muzzi pela emancipação do sul do MT
1904 > Incidente na fronteira peruana (Nuevo Iquitos e AC)
1907 – 1911 > Levante de Bento Xavier pela emacipação de MS
1910 – 1921 > Movimentos autonomistas do Auto Purus / Alto Juruá
1912 – 1915 > Campanha do Contestado ou Guerra dos fanáticos (PR e SC)
1913 > Revolta político-popular contra o governo amazonense
1915 > Motim militar por direitos políticos (RS)
1916 – 1917 > Revolta dos Conservadores (MT)
1918 > Levante de anarquistas (RJ)
1923 > Revolta dos Libertadores (RS)
1924 – 1924 > Revoltas tenentistas em (SP, PR, MT, GO, RS, SE e AM)
1924 > Revolta do couraçado (SP e RJ)
1926 – 1927 > Revolta política (RS)
1936 > Guerrilha rural comunista (RN)
1957 – 1967 > Operação FENU – Batalhão de Suez (África)
1981 – 2008 > Choques da reforma agrária em vários estados do Brasil
1990 – 2018 > Choques da agitação urbana no Rio de Janeiro.
Vocação resumitiva da História
Entre todas as considerações sobre a importância do Brasil no mundo e na história e a que mais realce teve na análise do povo brasileiro é de autoria de Dr. Plinio Corrêa de Oliveira [foto], fundador da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), em uma conferência para sócios e cooperadores da entidade, realizada em 17 de abril de 1980. Transcrevemos a seguir alguns trechos de tal palestra:
“As grandes obras da Providência, no plano espiritual, realizam-se habitualmente mediante uma família religiosa nova. E quando elas são de ordem temporal, ocorrem geralmente pela atuação de um povo novo.
Poderíamos imaginar um povo — ou uma família de povos — que fosse receptivo à tarefa nova de unir tudo o que os povos fizeram de bom em sua história, a essa tarefa nova de compreender tudo, de destilar tudo, e de com isso fazer um certo ‘mel’ único, que seria o regalo supremo. Elaborar um cântico que seria o cântico último da humanidade antes que esta terminasse a sua História. Um povo ou família de povos suscitado com a vocação de apanhar todo o passado no seu conjunto, assumi-lo e compor o cântico definitivo que entoasse todas as etapas da vida da Igreja; que tivesse em sua alma o entusiasmo pelo Antigo e pelo Novo Testamento, por todos os ritos da Igreja, por todas as fases da vida da Igreja, por todas as nações que a Igreja gerou para a Cristandade, por todos os povos que fizeram coisas belas fora da Igreja (mas que seriam tão mais belas se fossem efetuadas no seio da Igreja, e que o batismo retificaria, purificaria e ordenaria). Uma família de almas ordenativa e resumitiva, que de tudo isso tirasse essa grande novidade que é o todo.
Ao longo de sua obra criadora, Deus foi criando os vários seres. A grande surpresa não consistiu em nenhum desses seres, ocorreu no dia em que Ele não criou nada, mas analisou o conjunto. Seria tão natural que a História do mundo fosse assim também. E que a humanidade, depois de ter caminhado durante milênios e milênios para realizar o que realizou, e, tendo chegado afinal ao aprisco da verdadeira Igreja Católica, ela inteira olhasse para trás, não digo cansada, mas já madura, e formasse uma ideia total de tudo, antes de se voltar para Deus.
Poderíamos nos perguntar se há povos assim. Nesse sentido, eu vejo perfeitamente que Deus criou a índole do povo brasileiro — e as circunstâncias geográficas para o povo brasileiro — de maneira a formar uma mentalidade idealmente própria a realizar essa obra resumitiva do futuro. E a grande originalidade do brasileiro está em conceber resumos assim. É a nossa missão na História!”.
(Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para sócios e cooperadores da TFP, em 17 de abril de 1980. Sem revisão do autor. Fonte: Revista Catolicismo, março/2002).
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Bibliografia :
– Hernani Donato, Dicionário das Batalhas Brasileiras, Ibrasa, São Paulo, 1996
– Stefan Zweig, Brasil um país do futuro, Editora Jose Olímpio, Rio de Janeiro, 2006
Na leitura desse excelente artigo fica mais claro — pela lei do contraste — o caráter antibrasileiro do petismo.
Se o Brasil, segundo o testemunho de estrangeiros que por aqui passaram, e nessa magnífica explicação do Prof. Plinio — somos um Pais-síntese — então, o petismo bolivarianista mostrou-se, nestes 13 anos de Poder, ser essencialmente antibrasileiro.
Lutemos pelo nosso futuro: Este ainda será um grande País! CostaMarques
Há um DVD sobre a vida de Stefan Zweig no Brasil. Pretendo comprá-lo. Mas, parece que existe o filme no Youtube também.
Quanto ao número de conflitos acontecidos no Brasil, a impressão que se tem é que foram poucos os dias de paz por aqui. Considerando a “guerra” travada pelo judiciário honesto, aquele que funciona corretamente, contra a corrupção generalizada e mais a bandidagem violenta que tira vidas e massacra, temos a verdade de que ainda estamos em constantes batalhas. Mas, ponderando bem, a corrupção também não mata?
Como bem escreve o autor deste artigo muito se tem dito sobre a bondade no trato do povo brasileiro. Isto é reconhecido pelo mundo inteiro a cordialidade com que são recebidos aqui os que visitam o Brasil. Por outro lado a imprensa estrangeira procura dar destaque à violência em várias áreas em nosso país mas
na realidade é o resultado de brigas entre facções e gangues entre si nas
disputas por vendas de várias drogas para os viciados neste terrível mal isto
sim que afeta nossa pátria um problema a ser resolvido com energia e urgência formando um quadro que ofusca a boa índole da nossa população.
Plínio Correa de Oliveira (palestras diversas), Gilberto Freyre (Casa Grande e Senzala), Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil), Caio Prado Junior (Formação do Brasil Contemporâneo), Limeira Tejo (Retrato Sincero do Brasil), entre outros, como Manoel Bandeira e Tarsila do Amaral, nomes tão distintos, o que poderiam eles ter em comum? De uma forma ou de outra, integraram a famosa “geração de 30”, prestaram alguma colaboração, deixando para a posteridade, ou seja, nós, um painel um tanto quanto abstrato, o esboço do caráter do “homo brasilis. E, colaborando com a matéria, posso ainda citar os nomes de Ribeiro Couto, Cassiano Ricardo e Alfonso Reyes (famoso mexicano que visitou o Brasil naquela década e se encantou com o espírito do brasileiro). Nomes de alguma forma entrelaçados. Todos têm algo em comum: o retrato do homem brasileiro (pelo menos nos anos 30): amistoso, bondoso, polido, generoso, hospitaleiro, “cordial”. Aí é que está o problema. Instaurada a discussão entre alguns deles, cordial também poderia tanto ser entendido como amistoso, como com hostil. Como alguns desses intelectuais colocaram, tais qualidades positivas nem sempre poderiam ser consideradas sinônimo de boas maneiras, ou de civilidade, ou de urbanidade, poder-se-ia dizer. Alguns deles observaram o emprego equivocado do termo “cordial”: etimologicamente falando, o coração tanto pode conter amor quanto ódio, pois ambos nascem do referido órgão, ou músculo. Dr. Plinio Correa de Oliveira (que viveu intensamente os anos 30), entre todos, merece destaque, por sua visão profundamente católica dessa espécie rara, que é o homem. Em sua palestra, transcrita em parte no didático artigo ora publicado, imagina “um povo… receptivo à tarefa nova de unir tudo o que os povos fizeram de bom em sua história … um certo “mel” único, que seria “o regalo supremo.” Ora, quem sabe em algum futuro a longo prazo, conforme possa estar ou não nos planos de Deus. O brasileiro dos anos 30 não contava com tantos imigrantes do pós-guerra, nem ansiava por alguma miscigenação. Vieram os imigrantes, vieram os anos 60, vieram as ideologias soviéticas, as fascistas, as marxistas-leninistas, vieram os partidos políticos, vieram o politicamente correto e a ideologia de gênero. Aparentemente o brasileiro se tornou o lobo do brasileiro. O brasileiro vem mostrando a sua cara: embora negue (oficialmente), é racista e preconceituoso, egoísta e frívolo. O ansiado caldeirão de cultura continua tentando oferecer pratos que são poucos os que os digerem: feijoada, “strogonoff”, “ratatouille” e “paella”. Ingredientes heterogêneos que se misturam forçadamente, graças à magia de temperos e especiarias. Pretos, japoneses, judeus, árabes, gregos, ucranianos, italianos, chineses, portugueses, alemães, poloneses, entre os mais votados… é como se cada um desses tipos humanos tivesse escolhido um local neste país continental para armar sua barraca e fincar sua bandeira. E assim poder-se-ia considerar outros subgrupos de brasileiros: esquerdistas, direitistas, honestos, corruptos, ateus, religiosos, católicos, espíritas, protestantes, sulistas, nordestinos e etc. Cada um com sua barraquinha individual, e aí daquele que ousar ultrapassar os limites territoriais, políticos ou ideológicos. A miscigenação é discreta é apoiada pela mídia oficial. No mais, é uma colônia alemã aqui, uma italiana ali, uma holandesa acolá, uma comemoração japonesa por ali, uma cultura chinesa por aí, um grupo folclórico por aí. Vizinhos de porta em edifícios que jamais se cumprimentam, uma indiferença, disfarçada em cordialidade, em público que não se vê no particular. Resumindo a ópera: os portugueses, índios, africanos, franceses e holandeses, do início de nossa História, que sobreviveram para sugerir uma nação “stricto sensu” (conjunto de pessoas, mesmo grupo étnico, mesmos hábitos, costumes, idioma, religião, idioma, consciência) naqueles anos 30 do século XX, formando um povo, um “mel único”, acabou por se transformar em uma figura mitológica, como um grifo, ou uma hárpia: animais formados de vários outros. Cabeça de águia, corpo de leão, ou de cabra, cauda de dragão ou serpente, enfim, a própria quimera. Para um país que ainda engatinha na História da humanidade, seus quinhentos anos permeados de revoltas mais assemelhadas a pirraças pueris, Contestado aqui, Farrapos ali, Canudos lá, Inconfidência pra lá, Araguaia acolá, racismos e preconceitos para cá e as outras tantas guerrinhas tão precisamente elencadas pelo ilustre articulista, é bom que a gente se acalme, trate de estudar mais, rezar bastante.
Esplendorosa, espetacular e de altíssima visão de Deus e da história esses trechos da conferência do Professor Plínio Corrêa de Oliveira.Não é porque se referiu ao Brasil mas fazer uma análise dessas sobre qualquer país da terra é preciso ter uma grande cultura e conhecimento das realidades em que vivemos e ser mesmo um profeta com muita visão do futuro.No meu ponto de vista o ápice deste artigo é quando o Dr. Plínio escreve ” Imaginar um povo que fosse receptivo à tarefa nova de unir tudo o que os povos fizeram em sua história, a essa tarefa nova de compreender , de destilar tudo, e de com isso fazer um certo “mel” único que seria o regalo supremo. Elaborar um cântico que seria o cântico último da humanidade antes que esta terminasse a sua história”.
Muito se fala a respeito de como se formou o Brasil de que a independência tenha custado não mais que um brado. É comum a afirmação de que “Deus é brasileiro” que somos um país de gente cordial e pacífica inclinada a tornar as lutas civis menos cruéis e ferozes do que as travadas em outras terras. Um povo que resolve os problemas mais pela ênfase das palavras do que pela força bruta e que as conquistas nacionais, pequenas ou grande são alcançadas por consenso sem derramamento de sangue.No entanto a história estudada mais a fundo apresenta panoramas diferentes.Pesquisando o passado podemos verificar que dos 365 dias do ano em somente dois deixaram de haver batalhas em nosso território : 25 de fevereiro e 26 de março fato demonstrado por vários autores em seus estudos desde o descobrimento em 1500.