Dia de Todos os Santos e Finados — oposição ao Halloween

Finados, pintura de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)

Paulo Roberto Campos

No primeiro dia de novembro comemoram-se Todos os Santos — todos homens e mulheres que morreram, se salvaram e cujas almas estão no Céu na felicidade eterna. Conforme o Apóstolo São Paulo: “Se morremos com Cristo, temos fé de que também viveremos com Ele” (Rom. 6,8).

O segundo dia deste mês é dedicado aos fiéis defuntos, ou Dia de Finados. Com o desvelo de Mãe, a Igreja, depois de festejar a glória de todos que se encontram no Céu, volta seu olhar misericordioso para as almas que estão sofrendo no Purgatório (lugar de purificação).

Santa Catarina de Gênova, em seu “Tratado do Purgatório”, escreve:

“A alma do justo, ao sair de seu corpo, vendo em si mesma alguma coisa que empana sua inocência primitiva e opõe-se à sua união com Deus, experimenta uma aflição incomparável; e como sabe muito bem que este impedimento não pode ser destruído senão pelo fogo do Purgatório, desce ali de repente e com plena vontade”.
Isto porque a alma deseja apresentar-se diante de Deus purificada de qualquer mancha, de qualquer pecado. Como filhos de Deus, devemos procurar aliviar as penas, e mesmo obter de nosso Divino Redentor o livramento das almas que padecem no Purgatório, especialmente as de nossos mais próximos, parentes, amigos.

Como aliviar seus padecimentos? — Rezando e sofrendo por elas, pedindo a intercessão de Maria Santíssima para que leve as almas dos fiéis defuntos o quanto antes para a glória da bem-aventurança eterna.

Dia de Finados
em Guanajuato (México).

Nessa intenção, devemos rezar todos os dias do ano, mas de modo particular no Dia de Finados. Daí o costume de em 2 de novembro visitar os cemitérios e rezar junto à sepultura de nossos entes queridos. Os que o fizerem de 1º a 8 de novembro podem ganhar uma indulgência plenária, nas condições estabelecidas pela Santa Igreja.

Infelizmente, em nossos tempos, procura-se desviar a atenção de assuntos relacionados com a morte. Entretanto, quem de nós sabe se viverá até amanhã? A cada passo a morte roça em nós — é um parente, um amigo, um vizinho que é chamado ao Tribunal de Deus —, mas procuramos não pensar nesse tema tão sério, como se não nos dissesse respeito.

Essa não é uma atitude cristã. “Como? Morreu?”, fingimos surpresa. “Como se pudesse causar surpresa a morte de um mortal” (Bossuet, Le sermon sur la mort).

Também se procura cada vez mais esquecer esta lembrança de Finados, substituindo-a pelo Halloween (dia das bruxas), festividade evocativa de cultos do antigo paganismo, trazendo à tona recordações hediondas e sinistras — sobretudo quando associam o Halloween com as Marchas dos Zumbis (ou dos mortos vivos, como na foto ao lado), que desfilam pelas cidades seus horrores asquerosos, macabros e infernais.

As pessoas que amam tais coisas repugnantes deveriam começar a rechaçá-las a fim de não se aplicar a elas a censura do Profeta Oséias (9,10): “tornaram-se tão abomináveis como as coisas que amavam”. Especial cuidado devem ter os pais em não fantasiar seus filhos com esses horrores do inferno. O Padre Gagriel Amorth, que foi o principal exorcista de Roma, advertiu que esses horrores servem ao diabo para dominar as almas.

No Brasil, Halloween faz parte do programa de descristianização das famílias e da sociedade em geral. Na Europa, berço da Cristandade, a onda impondo artificialmente o Dia das Bruxas deu-se há 20 anos. Esforçava-se então para levar as famílias a festejá-lo, adotando suas imagens repugnantes, conferindo uma importância semelhante à do Natal. Programas de rádio e televisão, artigos de jornais e revistas — de festejos escolares abusando da inocência até papéis de embrulho recomendados pelas associações comerciais — ostentavam morcegos dentuços, esqueletos, cadáveres ambulantes, bruxas e gatos pretos, aranhas negras e serpentes, monstros saídos de cavernas infernais.

As músicas afins com este horror, tocadas em muitos ambientes, restaurantes, livrarias etc., causam calafrios. Aos poucos trouxeram repulsa. Crianças choravam. Velhos viravam o rosto. Sorriam, de um sorriso amarelo, somente donos das lojas, num esforço de passar imagens das trevas.

Contou-me um Amigo, que, há uns dez anos, num posto de gasolina, na auto-estrada A-4, que liga Paris à Alemanha, uma jovem mãe hesitava em receber como brinde de um dos empregados um monstro cadavérico, típico de Halloween. O casal de filhos, a quem se destinava o “brinde”, dependurando-se na barra de sua saia, tal náufragos amedrontados pela morte: “Não, mãe. O Natal já vai chegar. Já temos o Menino Jesus”, disse o menino. “E os boizinhos e o burrico. E também os anjos”, acrescentou a menina.

Enquanto o Halloween e a Marcha dos Zumbis nos impelem para as coisas cadavéricas, para o horrendo próprio ao Inferno e seus precitos e demônios, as celebrações nos dias de Todos os Santos e de Finados elevam nossos olhos para o Céu e seus Anjos e Santos.

“Sete Santos”, pintura de Filippo Lippi (1406-1469)