“O alarmismo sobre a Amazônia não tem base científica”

  • Fonte: Alerta Científico e Ambiental

A visão catastrofista sobre a destruição da Amazônia e o seu suposto papel na dinâmica do clima global não têm fundamento científico, e não passam de instrumentos neocolonialistas, com o objetivo de preservar a região como uma vasta reserva de recursos naturais para usufruto futuro dos países desenvolvidos. A denúncia é do meteorologista e climatologista Luiz Carlos Baldicero Molion [foto], que, há mais de quatro décadas, estuda as mudanças climáticas e a Amazônia, sendo um duro crítico do alarmismo criado em torno das mudanças climáticas e das acusações de que o Brasil estaria sendo negligente em preservar a região. Com formação em Física pela Universidade de São Paulo (USP), Molion detém um doutorado em Meteorologia pela Universidade de Wisconsin (EUA) e um pós-doutorado em Hidrologia de Florestas pelo Instituto de Hidrologia de Wallingford (Reino Unido), sendo aposentado como pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e professor associado de Meteorologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Nos últimos anos, tem se dedicado a proferir palestras sobre tais assuntos em todo o País. Em um raro intervalo de descanso entre elas, concedeu ao Alerta Científico e Ambiental a entrevista a seguir.

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Alerta C&A — O Sr. estuda os fenômenos climáticos e as suas interações com os biomas brasileiros, com ênfase na Amazônia, há mais de três décadas. Em todo esse período, temos assistido a uma escalada de pressões políticas internacionais contra o Brasil, infelizmente, com muito apoio interno, baseadas na premissa de que o País estaria proporcionando uma devastação do bioma, o que, de acordo com esta visão, acarretaria um grande impacto no clima global. Estes argumentos têm procedência?

Luiz Carlos Molion — Não. O Bioma Amazônia constitui 5,5 milhões de km², enquanto a superfície do planeta Terra é de 510 milhões de km² e seus oceanos ocupam 361 milhões de km² dessa superfície. Portanto, o Bioma Amazônia corresponde a 1% da superfície da Terra e a 1,5% de seus oceanos. Em princípio, o desmatamento total da Amazônia — que é praticamente impossível de ocorrer — não afetaria o clima global, por ser a região de pequenas proporções em face da área oceânica (71%), que é um dos principais controladores do clima global. Essas pressões são baseadas em resultados obtidos por Modelos de Clima Global (MCG), que são falhos, não conseguem reproduzir o clima atual e, particularmente, o ciclo hidrológico, que é fundamental para a existência do Bioma Amazônia. Existe um debate acirrado na comunidade científica quanto à fidelidade dos resultados dos MCG nos testes de sensibilidade e quanto à sua utilidade em prognosticar climas futuros. Portanto, os resultados de simulação do desmatamento da Amazônia pelos MCG são altamente questionáveis e não merecem confiança. Uma curiosidade, apenas. Em geral, os melhores MCG têm um total de cerca de 64.000 pontos de grade representando a superfície do planeta, dos quais apenas cerca de 500 pontos (0,8%) estão na Amazônia. É intrigante, sob o ponto de vista físico, que apenas 0,8% dos pontos de grade tenham influência notória nas temperaturas e a chuvas globais resultantes das simulações dos MCG.

ACA — Grandes potências, como os EUA e a França, parecem dispostas a colocar a Amazônia no centro da sua agenda diplomática, política e econômica com o Brasil. O presidente Emmanuel Macron acaba de enviar à União Europeia uma lista de requisitos ambientais para a concretização do acordo comercial com o Mercosul, cujos itens equivalem a um autêntico ultimato. O presidente Joe Biden já anunciou a intenção de pressionar fortemente o Brasil quanto à agenda internacional de “proteção” da Amazônia, de acordo com os critérios estabelecidos pelos interesses políticos e econômicos por detrás dela. Ao seu ver, como o País deveria responder a essas pressões?

LCM — Pragmaticamente, o Brasil já tem respondido, em parte, a essas pressões ao longo dos anos. A taxa de desmatamento anual já esteve muito mais alta no passado. De acordo com os dados do INPE/MCTI, em 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso, chegou a 29.059 km² e, a 25.396 km² e 27.772 km², em 2003 e 2004, respectivamente, durante o governo Luís Inácio Lula da Silva. Segundo a mesma fonte, entre 01 de agosto de 2019 e 31 de julho de 2020, a área desmatada foi de 11.088 km². Em minha opinião, este número ainda é muito alto e se devem envidar todos os esforços para reduzi-lo ou mesmo zerá-lo. O problema é que os principais consumidores da madeira retirada ilegalmente são os próprios países desenvolvidos. São eles que deveriam tomar a iniciativa de proibir a comercialização dessa madeira. Isto é, não havendo clientes, não haverá desmatamento. Por outro lado, esses países já não possuem mais recursos naturais e, para eles, a Amazônia, não só por sua fantástica biodiversidade, como também por sua riqueza em recursos minerais, tem sido vista como uma “reserva” para o futuro e deve ser considerada “patrimônio da humanidade”, não podendo ser desenvolvida ou administrada pelos países amazônicos, que, segundo essa visão, não teriam capacidade para preservá-la. Ao meu ver, se não há evidências físicas de que o desmatamento possa provocar uma catástrofe global, a preocupação estrangeira/internacional parece não visar a conservação do meio ambiente amazônico, e sim impedir o desenvolvimento socioeconômico da região. E “acordos” como o de Paris, em 2015, que obrigam à redução das emissões de dióxido de carbono (CO₂), são instrumentos tipicamente neocolonialistas, pois 80% dos países do mundo, incluído o Brasil, ainda são subdesenvolvidos.

ACA — Há dois conceitos amplamente difundidos, que têm ganhado grande destaque nas discussões sobre a alegada devastação do bioma Amazônia. Um deles é o dos chamados “rios voadores”, a transferência de umidade atmosférica da Região Norte para o Centro-Sul do País, promovida pela floresta, e que estaria ameaçada pelo desmatamento. O outro é o chamado “ponto de inflexão” (tipping point), um suposto índice de desmatamento a partir do qual a floresta se converteria irreversivelmente em um ambiente de savana. Quais são as evidências científicas para eles? Esses riscos são reais?

LCM — Em primeiro lugar, “rios voadores” é uma expressão plagiada. Ela foi usada na década de 1950 por meteorologistas dos EUA, para descrever o transporte de umidade pelo jato polar, uma corrente de ventos muito forte, encontrada nos níveis altos da atmosfera em latitudes temperadas, que sopra de Oeste, os chamados ventos de Oeste. A afirmação que a floresta é a geradora do vapor d’água transportado para outras regiões do continente pelos chamados rios voadores, e que a transformação da floresta em pastagem reduziria em 25% as chuvas sobre o Brasil, é resultante dos MCG, sem verificação ou constatação. Amazônia não é essencial para a distribuição das chuvas para outras regiões remotas da América do Sul, porque a Amazônia não é fonte de umidade para a atmosfera. A fonte principal de umidade para as chuvas amazônicas é o Oceano Atlântico Tropical, principalmente, durante o verão do Hemisfério Sul [dezembro-março]. Dados de fluxo de umidade observados entre 1999-2014 sugerem que, em média e em números redondos, entram na Bacia Amazônica o equivalente a 500.000 m³/s de umidade trazidos pelos ventos do Atlântico, dos quais 80% são transformados em chuva localmente e os 100.000 m³/s restantes “passam direto” por sobre a região. Dos 400.000 m³/s de chuvas que caem na bacia, a metade sai pelo rio Amazonas (200.000 m³/s) e a outra metade é reciclada por evapotranspiração e incorporada ao fluxo de umidade que chega às outras regiões da América do Sul. Ou seja, em média, 300.000 m³/s, dos 500.000 m³/s (60%) originalmente saídos da evaporação do Atlântico, chegam a outras regiões ao sul da Amazônia, com os restantes 200.000 m³/s sendo devolvidos ao Atlântico pelo rio. Portanto, na escala de tempo climática, a Amazônia apresenta um balanço hídrico estável. Árvore, ou floresta, não é “máquina” de produzir água, apenas recicla a água da chuva anterior, que estava armazenada no solo. Embora haja uma interação floresta-atmosfera, a longo prazo, a floresta existe porque chove e não o contrário. Prova-se, por reductio ad absurdum, que, se a floresta fosse fonte de umidade, a região já teria se transformado num deserto desde que se estabilizou, após o término do último período glacial, há cerca de 15 mil anos. O elemento geofísico fundamental para direcionar a umidade do Atlântico para outras regiões da América do Sul é a formidável barreira ao fluxo de umidade imposta pela Cordilheira dos Andes. Outro elemento é uma célula de circulação de atmosférica direta, conhecida como Célula de Hadley-Walker, que se forma em média, e sempre se formará, pois o Sol, inevitavelmente, aquece a superfície do continente sul-americano durante o verão austral. Em consequência, o ar se torna menos denso e sobe (convecção), transportando umidade para cima e produzindo nuvens e chuva. É bem provável que a floresta interaja com a atmosfera, no sentido de intensificar essa célula de circulação em anos apropriados. Os anos em que essa célula não se forma são exceções. É observado, por exemplo, que, quando se tem um evento El Niño forte

[aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico Oriental – n.e.]

, como o de 2014-2016, essa célula de circulação é inibida e a Bacia Amazônica passa por uma forte estiagem. Isto não ocorreria se a floresta fosse a causa principal da existência dessa célula de circulação atmosférica. Porém, o aquecimento da superfície pelo Sol, e a consequente célula de circulação, sempre existirão, independentemente da existência da floresta. O bom senso físico sugere que, se houvesse um desmatamento generalizado, a superfície amazônica ficaria aerodinamicamente mais “lisa”, os ventos se acelerariam nos níveis baixos da atmosfera e transportariam mais umidade para as outras regiões do continente, aumentando o volume das suas chuvas. O “ponto de inflexão” seria o percentual de desmatamento além do qual a floresta não se recuperaria. Em 2016, foi sugerido, por Carlos A. Nobre e colegas, que esse ponto seria o desmatamento de 40% do Bioma Amazônia, mas este percentual se baseia em resultados dos MCG e, portanto, carece de base científica sólida, sendo meramente especulativo. Pelo que se tem observado ao longo dos anos, a floresta tem uma grande capacidade regenerativa.

ACA — Outra ideia bastante popular é a de que a Amazônia seria um sumidouro de carbono essencial para a dinâmica do clima global. Um documento enviado ao presidente Joe Biden por um grupo de políticos e ex-altos funcionários do governo dos EUA (Climate Principals) chega a afirmar que a Amazônia detém mais carbono do que as emissões mundiais “de muitos anos”, e que a liberação deste carbono na atmosfera teria “consequências climáticas catastróficas”. Estas afirmativas têm procedência?

LCM — Outra vez, não têm! São 550 milhões de hectares cobertos pelo ## Bioma Amazônia ##. A quantidade de carbono [Q] contida nessa floresta é calculada pela formula Q= %CAD, onde %C é o percentual de carbono encontrado em uma árvore e, usualmente, o valor de 45% é aceito, A (550 milhões ha) é a área do bioma e D, a densidade da biomassa, dada em toneladas de matéria seca por hectare (t/ha). Essa última variável é a grande incógnita, pois, dentro do bioma, há áreas com distintas densidades de biomassa. Uma consulta à literatura mostra valores que vão de 180 t/ha a 720 t/ha. Se se aceitar que o Bioma Amazônia tenha uma densidade de biomassa média de 300 t/ha — valor considerado plausível empiricamente —, empregando-se a fórmula acima, chega-se a um valor de cerca de 75 bilhões de toneladas de carbono (GtC) contidas na floresta. Pelos números recentes (2019) de emissões por regiões, a Ásia, América do Norte e Europa, emitem um total de 7,5 GtC/ano, donde se conclui que apenas essas três regiões emitem uma “Floresta Amazônica inteira” para a atmosfera em cerca de 10 anos. Se o estoque de carbono da Amazônia fosse totalmente liberado para a atmosfera, poderia aumentar, teoricamente, a concentração do CO₂ atmosférico em cerca de 35 ppmv [partículas por milhão em volume], menos de 10% da concentração atual, que é 400 ppmv. Considerou-se que a emissão de 2,13 GtC acarreta um aumento de 1 ppmv na concentração atmosférica, de acordo com a literatura. Entretanto, um cálculo simples mostra que, na atual taxa de desmatamento de 11.000 km² por ano, a liberação total desse estoque levaria cerca de 500 anos para se completar, admitindo zero acréscimo de qualquer tipo de cobertura vegetal durante esse período. Por outro lado, as medições feitas na Amazônia Central, em 1987, durante o Experimento ABLE-2B (Atmospheric Boundary Layer Experiment, NASA/INPE) revelaram uma assimilação pela fotossíntese de 4,4 quilogramas de carbono por hectare por hora (kgC/ha/hora) durante o período diurno e uma perda por respiração de 2,57 kgC/ha/hora durante o período noturno. Admitindo que esses números possam ser generalizados para os 550 milhões de hectares do Bioma Amazônia, ter-se-iam 4,4 GtC/ano de assimilação de carbono, obviamente, subtraída a taxa de respiração noturna. Considerando que as atividades humanas emitam cerca de 10 GtC/ano atualmente, tal assimilação corresponde a 44 % das emissões de carbono antropogênicas. Se se admitir a hipótese absurda defendida pelo IPCC, de que o CO₂ seja o grande controlador do clima global, é desejável que sua cobertura vegetal amazônica seja conservada. Na realidade, os impactos no clima global e na concentração global de CO₂ (vide o Acordo Climático de Paris, 2015) não são argumentos fortes para se manter a floresta. Os principais argumentos são a conservação da biodiversidade e a proteção dos solos, evitando a sua erosão, assoreamento dos leitos dos rios, mudança da qualidade de suas águas e de toda vida que delas depende.

ACA — O mesmo documento afirma que as emissões causadas pelo desmatamento da Amazônia constituem uma grande fonte de “poluição climática” — seja lá o que isto significa — tão grande quanto à de economias avançadas, como o Japão e a Alemanha.

LCM — O Brasil detém cerca de 65% do Bioma Amazônia dentro da Amazônia Legal. Nessa região, estabelecida para fins de incentivos fiscais, os 35% restantes são constituídos de biomas diversos, como Cerrado, Cerradão e Campinarana, por exemplo. A área sob pressão antrópica não é o Bioma Amazônia e, sim, os 35% restantes, que possui uma densidade de biomassa muito menor que a da floresta tropical chuvosa. Como foi dito, a taxa de desmatamento anual já esteve pior no passado. Usando-se uma taxa de desmatamento atual de 11 mil km², ou 1,1 milhão de hectares, sendo essa área de desmatamento do Bioma Amazônia, e não da Amazônia Legal, com a densidade de biomassa acima citada de 300 t/ha, e admitindo, ainda, que as queimadas teriam 100% de eficiência na emissão do carbono contido na floresta para a atmosfera — o que é fisicamente impossível num clima extremamente úmido — a emissão de carbono seria de 150 milhões de tC por ano (MtC/a), contra 1.100 MtC/a do Japão e 700 MtC/a da Alemanha. Na melhor das hipóteses — queima de floresta tropical úmida com 100% de emissão de carbono — as emissões anuais desses países são 7 e 5 vezes maiores que as queimadas na Amazônia, respectivamente.

ACA — A pandemia de Covid-19 está ensejando o temor de que o desmatamento na Amazônia possa ser a causa de uma nova pandemia global. O documento do grupo Climate Principals e até mesmo a Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatizam que a maioria das novas doenças infecciosas têm emergido nas fronteiras florestais, onde ocorrem interações entre as pessoas e a vida selvagem. Há evidências desse risco, no caso da Amazônia?

LCM — As principais doenças, que eventualmente teriam sua origem na floresta, como malária e leishmaniose, são as que são transmitidas por vetores, como mosquitos, por exemplo, e podem estar associadas a qualquer tipo de vegetação, águas paradas e não necessariamente à floresta. Essas doenças são bem conhecidas e têm tratamento eficaz há tempo, estão sob controle e nunca provocaram ou dispararam pandemias globais recentemente. Varíola (Orthopoxvirus, encontrado na tumba do faraó Ramsés II), Peste Negra (Yersinia pestis), Gripe Espanhola (H1N1), Gripe Aviária (H5N1) e a atual Covid-19 (Sars-Cov-2) não tiveram sua origem em florestas tropicais.

ACA — O Sr. tem sido um crítico ferrenho do alarmismo que envolve as questões referentes ao clima global, desde a década de 1980. Esta é uma área em que, a despeito da pletora de evidências científicas em contrário, prevalece a visão catastrofista de que as emissões de carbono de origem humana estariam ameaçando causar um aquecimento descontrolado da atmosfera. Pode-se fazer um paralelo com as discussões sobre a Amazônia, quase invariavelmente orientadas por premissas alarmistas?

LCM — A afirmação é que as queimadas na Amazônia contribuem para o aumento da concentração de CO₂ na atmosfera e para aquecimento global decorrente ou para as “mudanças climáticas”, expressão utilizada atualmente uma vez que os dados de satélite mostram que não houve aquecimento nos últimos 20 anos. Os prognósticos alarmistas pretensamente resultantes do desmatamento sofrem do mesmo mal: resultados de MCG. Na realidade, o clima da Terra varia por causas naturais e passa por períodos de aquecimento e de resfriamento. Por exemplo, as temperaturas já estiveram cerca de 4°C mais altas que às atuais há sete-oito mil anos de acordo com o artigo de Shaun Marcott e colegas em 2013, período conhecido como Ótimo do Holoceno, o interglacial que estamos vivendo. O período Quente Medieval (900-1250 d.C.) foi seguido de um período frio, conhecido por Pequena Idade do Gelo (PIG) que durou até início do século XX, possivelmente, até 1915. Entre 1916 e 1945, houve um aquecimento, bem documentado, em que as concentração e emissão de carbono pelas atividades humanas e pelo desmatamento eram muito pequenas. Portanto, torna-se difícil atribuir esse aquecimento à concentração de carbono na atmosfera. Paradoxalmente, entre 1946 e 1975, quando as emissões de carbono antrópicas aumentaram significativamente devido ao grande desenvolvimento industrial pós-guerra, o clima se resfriou. O aquecimento desde 1976, e que possivelmente tenha terminado há 15-20 anos atrás, está sendo atribuído às emissões de carbono pelas atividades humanas, incluído aí o desmatamento de florestas nativas. Porém, há grande probabilidade desse aquecimento recente ter tido causas naturais, como os 5% de redução da cobertura de nuvens global observada por satélites e a alta frequência de eventos El Niño que, reconhecidamente, aquecem o clima. Em síntese, não há evidências científicas de que haja uma relação entre a concentração de carbono na atmosfera e a temperatura de superfície do Planeta. Em adição, fica muito claro que o clima do planeta é extremamente complexo, depende de fatores internos e externos, e que o CO₂ não controla o clima global. A participação do CO₂ no aquecimento global ocorrido entre 1976-2005 foi ínfima. Portanto, reduzir emissões de carbono, como quer o Acordo Climático de Paris 2015, é inútil no que se refere ao impacto no clima global.

ACA — Essa percepção sobre uma visão catastrofista parece se estender até mesmo ao meio científico. Por que isto ocorre neste meio, que deveria primar pela objetividade?

LCM — Infelizmente, há colegas de profissão, reconhecidamente muito bem treinados nessa área do conhecimento, que conhecem as limitações dos argumentos em que se baseia a hipótese do aquecimento global antropogênico, tem ciência da complexidade do clima terrestre, estão convictos que o CO₂ não controla o clima global, mas que preferem ficar do lado da corrente predominante atual, a chamada mainstream, que não é científica e sim político-econômica, ditada por quem controla as fontes de recursos. É claro que a maioria deles se beneficia por meio de aprovação de projetos de pesquisas, publicações de seus artigos em revistas de destaque, recebimento de premiações, destaque social entre as classes política e/ou administrativa, e outras benesses. Outros adotam a hipótese com medo de perderem os seus empregos, como já vimos acontecer em outros países, como EUA e Austrália, ou serem ridicularizados ou mesmo pressionados por uma fração da sociedade. As previsões catastróficas feitas nos últimos 30-40 anos não se concretizaram, nenhuma delas. Com relação à ciência do clima, infelizmente, temos que acumular séries longas de observações para entender a sua tendência, isso leva tempo e, muitas vezes, não temos a frequência de amostragem e cobertura espacial necessárias para conhecer a fenomenologia. A tendência do clima atual aponta para um clima relativamente mais frio, semelhante ao período de 1946-1975, em que, em média, os invernos eram mais rigorosos e algumas semanas mais longos, particularmente no Hemisfério Norte, reduzindo a estação de cultivo e prejudicando a produção de grãos e todas atividades que dependem dessa produção, como a produção de proteína animal. Com o passar do tempo é que será demonstrado que a visão catastrofista não tinha base científica. Vamos esperar que não demore muito para que isso aconteça.

ACA — A maioria das propostas para a Amazônia, principalmente, as oriundas do movimento ambientalista e dos interesses políticos e financeiros que o sustentam, propõe que toda a região seja virtualmente “congelada” em seu desenvolvimento socioeconômico, sendo vedadas praticamente quase todas as atividades econômicas tradicionais, como a implementação de infraestrutura moderna, mineração, exploração de madeiras, indústrias etc. Em troca, fala-se muito da chamada bioeconomia, a industrialização dos recursos da vasta biodiversidade da região. Como o Sr. vê esta questão?

LCM — Com o aumento da população global esperado para as próximas duas décadas, 9 bilhões de habitantes, e considerando os cerca de 25 milhões de habitantes já existentes na região, a Amazônia não poderá permanecer intocada, à margem desse desenvolvimento social e econômico por vir. E todos concordam em que a dificuldade é se definir um conjunto de estratégias de desenvolvimento regional que seja distinto dos que têm sido utilizados até agora. Não gosto da expressão “desenvolvimento sustentável”, acho pleonástica. Todo desenvolvimento obrigatoriamente tem que ser sustentável, do contrário, é destruição e não desenvolvimento. Utilizar a fantástica biodiversidade da região é uma das estratégias, que vai desde extração de substâncias químicas, farmacêuticas e cosméticas produzidas pelas plantas até a utilização de microrganismos, sobre os quais o conhecimento atual é praticamente zero. É possível, sim, explorar as reservas minerais. Países desenvolvidos, que dependem do carvão mineral como fonte de energia, como a Alemanha, exploram o carvão e, uma vez a mina esgotada, se faz a recuperação ambiental local. Na Amazônia, esse tipo de operação pode ser mais complexa, mais cuidadosa, porém, é factível. Florestas “geométricas” para a produção de madeira podem ser implantadas dentro da própria cobertura florestal, obviamente, alimentando-se as árvores plantadas com nutrientes/ insumos agrícolas. Óleos vegetais de palmáceas nativas, como buriti, ou de dendê cultivado em área degradadas recuperadas, podem ser utilizados como combustíveis renováveis, uma vez que o motor diesel queima qualquer tipo de óleo vegetal sem necessidade de modificação. Algumas rodovias, certamente, devem ser implantadas onde sejam necessárias e onde haja condições de terreno e ambientais propícias para tanto, procurando sempre, prioritariamente, conservar os solos. É possível, por exemplo, se estabelecer a ligação entre municípios sem o uso de rodovias ou rios. Atualmente, se dispõem de balões dirigíveis, como o “Airship LMH-1” (P-791), com capacidade de carga de 21 toneladas mais 19 passageiros e dois tripulantes, se deslocando a uma velocidade de 140 km/h, que pousa e decola em qualquer tipo de terreno. Esses só alguns poucos exemplos. Certamente, desenvolver a Amazônia é uma necessidade e esse, sem dúvida, é um grande desafio!