“Podemos testemunhar passivamente esse assassinato da Igreja na China por aqueles que devem protegê-la e defendê-la dos inimigos?” O Cardeal Joseph Zen, S.D.B., enviou uma carta a todos os cardeais do mundo, na qual expõe o problema do acordo secreto entre o Vaticano e o Partido Comunista da China.
- Por Fernando Beltrán *
Esta questão, diz o cardeal chinês, “não diz respeito apenas à Igreja na China, mas a toda a Igreja. E nós, os cardeais, temos a imensa responsabilidade de ajudar o Santo Padre na orientação da Igreja”.
A InfoVaticana teve acesso à carta, que oferecemos abaixo. A missiva tem como anexos o Dubia do Cardeal Zen, publicado em julho, e as diretrizes publicadas em junho pela Santa Sé:
Peço-lhe desculpas pelo inconveniente que esta carta possa lhe causar; mas, em consciência, acredito que o problema que abordo não diz respeito apenas à Igreja na China, mas a toda a Igreja. E nós, os cardeais, temos a imensa responsabilidade de ajudar o Santo Padre na orientação da Igreja.
A partir da minha análise do Documento da Santa Sé (26-6-19), “Orientações pastorais sobre o registro civil do clero na China”, está bastante claro que o mesmo empurra os fiéis na China para entrar em uma igreja cismática (independente do Papa e sob as ordens do Partido Comunista).
Em 1º de julho apresentei meu “Dubia” ao Papa. Em 3 de julho Sua Santidade me prometeu que estava interessado nela, mas até hoje eu ainda não soube de nada.
O Cardeal Parolin diz que, quando falamos hoje sobre a Igreja independente, não devemos entender essa independência como absoluta, porque o acordo reconhece o papel do Papa na Igreja Católica.
Primeiro, eu não posso acreditar que essa afirmação exista no acordo se não o vejo (entre outras coisas, por que esse acordo deve ser mantido em segredo e não posso vê-lo nem eu, um cardeal chinês?); mas, o que é ainda mais evidente, toda a realidade após a assinatura do acordo mostra que nada mudou, pelo contrário…
O Cardeal Parolin cita uma frase da carta do Papa Bento XVI, tirando-a completamente do contexto; mais, ela é diametralmente oposta ao parágrafo inteiro.
Essa manipulação do pensamento do Papa Emérito é um sério desrespeito; ou melhor, é um insulto deplorável à pessoa do manso e gentil Papa, que ainda vive.
Também me repugna que eles frequentemente declarem que o que estão fazendo está em continuidade com o pensamento do Papa anterior, quando o oposto é verdadeiro. Tenho motivos para acreditar (e espero um dia provar isso com documentos de arquivo) que o acordo assinado é o mesmo que o Papa Bento, em sua época, se negou a assinar.
Prezada Eminência, podemos testemunhar passivamente esse assassinato da Igreja na China por aqueles que devem protegê-la e defendê-la dos inimigos?
Suplica-lhe, de joelhos, seu irmão
Cardeal Joseph ZEN, S.D.B.
_____________
(*) Fonte: “InfoVaticana”, 8-1-2020. Matéria traduzida do original inglês por Hélio Dias Viana.