À margem da Intervenção no Rio: Valores Morais (IV)

Idade MediaMarcos Costa

Temos abordado em artigos anteriores, sempre “à margem da intervenção no Rio”, a verdadeira causa da crise que grassa em nosso País: a perda dos valores morais.

O assassinato da vereadora Marielle (PSOL) e de seu motorista, na semana passada, em nada altera a objetividade dos nossos comentários, antes os  reforça. O alarde das esquerdas, tentando industrializar politicamente o bárbaro assassinato (por exemplo, com cartazes contra a Intervenção), não sensibilizou o grande público, vai decaindo aos poucos e a ação da Justiça saberá punir os criminosos. Lamentamos profundamente que em todas as declarações e manifestações da esquerda não se fale de orações pelas almas dos falecidos. Esquerdismo e ateísmo são termos conexos.

 

Tecido social e valores morais

Queremos hoje tratar do “tecido social”: consequência dos valores morais.

É célebre a imagem, traçada por Santo Agostinho, de uma sociedade em que todos os membros fossem bons católicos. Imagine-se — escreve ele — “um exército constituído de soldados como os forma a doutrina de Jesus Cristo, governadores, maridos, cônjuges, pais, filhos, senhores, servos, reis, juízes, contribuintes e cobradores de impostos como os quer a doutrina cristã! E ousem [os pagãos] ainda dizer que essa doutrina é oposta aos interesses do Estado! Pelo contrário, cumpre-lhes reconhecer sem hesitação que ela é uma grande salvaguarda para o Estado, quando fielmente observada.” (Epist. 138 ad Marcellinum, cap. II, nº 15, Opera omnia, tomo II, Migne, col. 532).1

Ora, o que é o “tecido social”? É exatamente a resultante dos valores morais aplicados à sociedade tal qual nos ensina o grande bispo de Hipona.

No século IV, Santo Agostinho provava aos romanos decadentes que a doutrina de Nosso Senhor edificaria uma civilização — e assim foi com a Idade Média, tal qual nos descreve o Papa Leão XIII na encíclica Immortale Dei.2

No século XXI, trata-se de relembrar que esta mesma doutrina, esses mesmos princípios soerguerão o Brasil da crise agravada por 13 anos de petismo. Só petismo?  Não! A crise brasileira é consequência direta da deterioração moral, ou seja, do apodrecimento do “tecido social”.

Seria possível a História voltar atrás. Seria um retrocesso?

Lembro-me da impressão vivaz produzida no público, em Belo Horizonte, quando o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira demonstrou que a História volta atrás. Resumo-a aqui com minhas palavras.

É possível que a algum espírito evolucionista e cético pareça impossível que a História possa voltar atrás e que por isso mesmo sonhamos com uma quimera.

A isso respondemos que a Renascença foi ela mesma uma volta atrás: recusou a Idade Média e foi inspirar-se na Antiguidade pagã. Sim, a Renascença é o ressurgimento do paganismo anterior a Jesus Cristo.

São Pedro não voltou atrás depois de ter negado seu Mestre?

E o que têm de novo o aborto, a imoralidade desenfreada de nossos dias, o culto idolátrico a pseudo-valores, a perda da honra, o abuso dos cargos públicos, o enriquecimento ilícito? Sim, a História voltou atrás e renegou os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Santa Igreja.

Como o filho pródigo do Evangelho, também hoje os povos precisam voltar à Casa Paterna. Sejamos sensíveis a esse convite da Divina Providência e saibamos lutar, trabalhar e rezar nesta intenção.

Família e tecido social

Ensina Funck-Brentano que “a matéria prima do tecido social é, portanto, a família”. Ele desenvolve a tese de que o Estado francês — e ele subentende o mesmo para todos os Estados do Ancien Régime — nasceu de uma ampliação da família, e que, de fato, os Estados não são senão “famílias em ponto grande.”3

A sociedade é constituída sobretudo de famílias e não de indivíduos. Se queremos regenerar o “tecido social”, combatamos o aborto, a imoralidade, a agenda homossexual, a ideologia de gênero.

Assim acontece no “tecido social”: enquanto a imoralidade grassar como peste mortífera, todo o povo gemerá e terá muito que sofrer. Mas a promessa de Nossa Senhora, em Fátima, cumprir-se-á: “Por fim o meu imaculado Coração Triunfará”.

Basta regenerar a família? Não. A família tem um nexo muito íntimo com a tradição e a propriedade. Mas isso fica para outra ocasião.

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  1. http://www.pliniocorreadeoliveira.info/livros/1993%20-%20Nobreza%20-%20Parte%20I.pdf
  2. Encíclica “Immortale Dei”, de 1º-XI-1885, Bonne Presse, Paris, vol. II, p. 39.
  3. http://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_SD_660601_As_Estirpes_nas_origens_da_Idade_Media.htm#.WrHISojwYuU

 

Um comentário para "À margem da Intervenção no Rio: Valores Morais (IV)"

  1. MARIO HECKSHER   23 de março de 2018 at 14:08

    Ótimo artigo. A perda dos valores morais está na base de todos os problemas que vivemos atualmente no Brasil e no mundo. Nada terá solução sem a retomada dos valores morais que compõem a integridade de caráter: honra, honestidade, disciplina, lealdade, respeito e outros,