
- Jorge Saidl
Rezando há alguns anos em Fátima, nos fundos da casa da Irmã Lúcia, junto ao local da segunda aparição do anjo, deparo-me com um grupo fazendo uma leitura, a qual começa assim: — “Antrasis Angelo apsireiškimas” (segunda aparição do anjo).

Ao final da leitura, aproximei-me do grupo para conversar: era um grupo de peregrinos lituanos [foto ao lado], dirigido por um sacerdote que lia na sua língua a descrição do que ocorrera naquele exato local no verão de 1916.
Uma bela iniciativa! Ou seja, meditar a história das aparições em cada local correspondente.
Quantos têm esta ideia?
Claro que não é um procedimento obrigatório, mas pergunta-se em que medida cada visitante de Fátima tem presente, ao longo da visita, as veementes mensagens da Mãe de Deus na Cova da Iria, precedidas das visões do anjo no ano anterior.
Que muitos visitem um local de peregrinação à procura de paz interior, da cura de alguma doença, está bem, mas mas — como bem observa a pesquisadora Ana Lígia Lira numa de suas lives — o importante das aparições é a mensagem.
Não se pode dizer que um turismo religioso seja uma coisa má. Contudo, para um bom católico, uma visita a Fátima, por exemplo, deveria valer como um retiro no qual se deve ter presente a mensagem manifestada no local, examinar se estamos sendo fiéis às palavras da Mãe de Deus, e fazer propósitos de emenda na medida em que não estejamos andando bem.

Pode-se dizer a mesma coisa de Cimbres, no distrito de Pesqueira (PE) [foto ao lado], que é a versão brasileira de Fátima.
Os bons livros a respeito de Fátima, de Cimbres e de outras apariçoes marianas devem ser não apenas material de leitura, mas manuais de exame de consciência, de meditação séria.
Em 1917, a Mãe de Deus adverte para grandes castigos, caso o mundo não rezasse, fizesse penitência e se convertesse.
O flagelo da Primeira Guerra estava por acabar, mas alguns anos depois veio outra pior.

Em 1936, a mesma Virgem Santíssima, sob outra invocação, aparece em Cimbres, no nosso Nordeste brasileiro, repetindo as mesmas palavras adaptadas à Terra de Santa Cruz.
De onde se deduz que as mensagens do início do século passado não foram inteiramente ouvidas.
No dia 18 de julho de 1972, uma das quatro imagens peregrinas internacionais de Fátima verte lágrimas em Nova Orleans, nos Estados Unidos. Parece ser a atitude de uma mãe que, não tendo mais o que dizer, limita-se a chorar…
Se um filho vê a sua boa mãe chorando, o que ele deve fazer? Não deve correr para consolá-la e se perguntar se ele não tem uma parcela de culpa nestas lágrimas? Seria a atitude normal.
Assim se deve agir.
Mas há mais um ponto importante: O demônio, que não descansa, vendo os bons frutos das verdadeiras aparições, naturalmente trata de inventar as dele ou de promover versões inautênticas.
A Sagrada Escritura diz claramente que Satanás sabe se “vestir em anjo de luz” (2 Coríntios 11,14). É como um falsificador refinado que sabe dar ares de aparência surpreendente para suas obras.
O espírito das trevas tem todo o empenho em criar falsas aparições, a fim de desviar as almas das verdadeiras e explora muito os sentimentos. Nossa Fé, entretanto, deve basear-se em princípios. A Igreja é muito prudente nesta matéria e tem critérios seguros para distinguir o falso do verdadeiro.
Sentir uma paz aparente não é prova da autenticidade de um fenômeno sobrenatural.
Muitos dizem: “Eu acredito em tal aparição porque no local houve muitas conversões”. Até aí deve haver cautela: a escritora Diana García Bayardo, em artigo publicado em junho de 2002 na revista semanal “O Observador da Atualidade”, do México, comenta a este propósito que os bons frutos não são suficientes para determinar a veracidade de uma aparição. Há alguns anos — diz ela — em Palmar de Troya, Espanha, as que pareciam ser autênticas aparições marianas e foram motivos de muitas conversões, terminaram com o surgimento de um antipapa…
A Santa Igreja é muito prudente no considerar fenômenos místicos. Nós, como seus filhos, devemos agir como Ela e também sermos cautos para não embarcarmos em canoas que vão nos conduzir por caminhos errados.

Fátima e Cimbres são reconhecidas pela Igreja e há literatura confiável para nos aprofundarmos nas respectivas mensagens. Sobre os acontecimentos na Cova da Iria temos, por exemplo, o best-seller de Antonio Borelli Machado, As Aparições e a Mensagem de Fátima – Profecias de Tragédia ou de Esperança? Sobre Cimbres, dispomos dos relatórios confiáveis dos sacerdotes Josef Kehrle e Frei Estêvão Röttger O.F.M., reproduzidos nos livros O Diário do Silêncio e O Inquisidor de Cimbre, escritos por Ana Ligia Lira.
Os castigos vindouros anunciados pela Mãe de Deus em suas diversas aparições do século passado e deste, como bem sabemos, são condicionais: “Se não rezarem e fizerem penitência…”
Hodie si vocem ejus audieritis, nolite obdurare corda vestra (Ps.94:8). “Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração”, diz o salmista.
Ouçamos, pois, as advertências do Céu manifestadas por nossa Mãe, e assim afastaremos de nós os castigos que nós mesmos atrairemos sobre nós se não formos fiéis.
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Para melhor entender as Aparições de Cimbres: