O Concílio aberto pelo Papa João XXIII em outubro de 1962 foi o marco da desastrosa política de distensão do Vaticano em relação aos regimes comunistas que naquele ano subjugavam tiranicamente, a partir de Moscou, muitos países que gemiam atrás da Cortina de Ferro na miséria, escravidão e vergonha.
Plinio Corrêa de Oliveira, no seu histórico manifesto “Comunismo e anticomunismo na orla da última década deste milênio”, publicado em 1990 em diversos jornais do Brasil e do exterior, dedica um trecho (abaixo) àquele Concílio Ecumênico — do qual a opinião pública católica esperava uma condenação do comunismo, mas que permaneceu num desconcertante silêncio em relação a esse regime despótico.
Nossos leitores podem tomar conhecimento de sua íntegra em nossa edição de março de 1990, ou em nosso site no link:
Da Redação de Catolicismo
Imensa modificação na linha diplomática do Vaticano, relativamente ao mundo comunista
- Plinio Corrêa de Oliveira
Não temos dúvida em afirmar que as vantagens obtidas pela causa comunista com a Ostpolitik vaticana não foram apenas grandes, mas literalmente incalculáveis. É exemplo disso o ocorrido no Concílio Vaticano II (1962-1965).
De fato, foi na atmosfera da incipiente Ostpolitik vaticana que foram convidados representantes da Igreja greco-cismática (“Ortodoxa”) russa para acompanharem, na qualidade de observadores oficiais, as sessões daquele Concílio. Vantagens da Santa Igreja nisto? Segundo até o momento se sabe, magérrimas, esqueléticas. Desvantagens? Mencione-se uma só.
Sob a presidência de João XXIII e depois de Paulo VI, reuniu-se o Concílio Ecumênico mais numeroso da História da Igreja. Nele estava assente que iriam ser tratados todos os mais importantes assuntos da atualidade, referentes à causa católica.
Entre esses assuntos não poderia deixar de figurar — absolutamente não poderia! — a atitude da Igreja face ao seu maior adversário naqueles dias. Adversário tão completamente oposto à sua doutrina, tão poderoso, tão brutal, tão ardiloso como outro igual a Igreja não encontrara na sua História então já quase bimilenar. Tratar dos problemas contemporâneos da religião sem tratar do comunismo seria algo tão falho como reunir hoje em dia [1990] um congresso mundial de médicos para estudar as principais doenças da época, e omitir do programa qualquer referência à AIDS…
Pois foi o que a Ostpolitik vaticana aceitou da parte do Kremlin. Este declarou que se nas sessões do Concílio se debatesse o problema comunista, os observadores eclesiásticos da igreja greco-cismática russa se retirariam definitivamente da magna assembleia. Estrepitosa ruptura de relações que fazia estremecer de compaixão muitas almas sensíveis, pois tudo fazia temer, a partir daí, um recrudescimento das bárbaras perseguições religiosas para além da cortina de ferro. E, em atenção a essa possível ruptura, o Concílio não tratou da AIDS comunista!
A mão estendida era coberta por uma bela luva: a luva aveludada da cordialidade. Mas, por dentro da luva, a mão era de ferro. Sentiam-no as mais altas autoridades da Igreja. Mas isto não impediu que prosseguissem na Ostpolitik. O que foi levando crescente número de católicos a tomar em relação ao comunismo uma atitude interior equivalente a uma verdadeira “queda de barreiras ideológicas”.
E, no terreno da ação concreta, a colaborar cada vez mais com as esquerdas na ofensiva contra o capitalismo privado e em favor do capitalismo de Estado, na ilusão de que o primeiro era oposto à “opção preferencial pelos pobres”, ao passo que o segundo tinha várias afinidades (ou até mais do que só isto) com tal opção tão preconizada pelo atual Pontífice [João Paulo II]. Oh que cruel desmentido lhes infligiu o capitalismo de Estado!
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Fonte: Catolicismo, Nº 863, Novembro/2022