
Reproduzimos a seguir a tradução de uma oportuna entrevista concedida pelo jornalista peruano, presidente da TFP italiana, residente em Roma, Julio Loredo de Izcue ao portal “Caballero del Pilar” (blog do site InfoCatólica). Tal entrevista foi feita pelo jornalista espanhol Javier Navascués Pérez. Link para o texto original em espanhol:
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Julio Loredo fala sobre o canal “Direto de Roma”, uma análise profunda da vida da Igreja à luz da tradição
- Javier Navascués
Julio Loredo nasceu em Lima, Peru. Jornalista, Presidente da Associazione Tradizione Famiglia Proprietà, Diretor da revista de mesmo nome. Nesta breve entrevista, ele nos fala sobre a razão de ser do canal “Direto de Roma”.
- Como nasceu o canal “Direto de Roma” e com que objetivo?
O canal italiano “Visto da Roma”, e sua versão em espanhol “Visto desde Roma”, nasceram por dois motivos: para informar um amplo público católico, diretamente de Roma, sobre o que está acontecendo na Igreja; e para fortalecer a fé daqueles que, talvez desorientados pelo caos reinante, vacilam em suas convicções católicas e em seu amor à nossa Santa Igreja. Também faço uma versão em português “Direto de Roma”, que é transmitida pelo canal do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, no Brasil.
Mesmo sem muita promoção, esses canais cresceram bastante, mostrando uma sede espiritual generalizada. Seu sucesso também é medido pelo número de aprovações (likes) e comentários, aos quais sempre tento responder. É evidente que existe um movimento de despertar religioso que cresce a cada dia.
De minha parte, faço-o como um apostolado. Desde a minha juventude, em 1973, dedico-me exclusivamente ao apostolado católico nas fileiras da TFP (Tradição Família Propriedade), como voluntário em tempo integral. Hoje, no limiar do meu 70º aniversário, posso olhar para trás com profunda satisfação, porque percebo que, com a graça de Deus, o caminho percorrido foi o certo, um caminho cheio de boas batalhas espirituais. Mas, acima de tudo, olho para as batalhas futuras, porque, como dizem, o guerreiro morre com as botas postas. E no meu futuro imediato está o apostolado através desses canais.
Gostaria de ajudar as pessoas a compreender o que está acontecendo na Igreja, para que não percam a Fé, mas a fortaleçam e se tornem propagadoras da Verdade.
- Que tipo de conteúdo específico o senhor oferece?
Os vídeos, publicados semanalmente, oferecem notícias e comentários sobre os acontecimentos da Igreja e, em particular, sobre o pontificado do Papa Francisco. Essas notícias e comentários vêm tanto de fontes internas (estamos em Roma há meio século e, portanto, conhecemos bem os meandros do Vaticano), quanto do mundo dos “vaticanistas”, ou seja, daqueles jornalistas especializados em acompanhar as coisas no Vaticano, muitos dos quais são inteligentes, perspicazes e bem informados. Para preparar o programa, toda semana leio dezenas de blogs, agências, revistas etc., além de ter fontes diretas.
Mais de uma pessoa me escreveu dizendo que ouvir esses vídeos é como ter uma agência de notícias privada em Roma. Quem não gosta de ter uma fonte de informação privilegiada?
- A versão do canal em espanhol, “Visto desde Roma”, é marcante, pois mostra uma clara vocação hispânica.
A Espanha fez um trabalho providencial de levar ao Novo Mundo, e a partes da África e da Ásia, o evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, e com ele a verdadeira religião, criando assim aquela imensa realidade transnacional que se chama “Hispanidad”, e que inclui dezenas de países em vários continentes, e grandes áreas culturais em outros, como os Estados Unidos.
Paradoxalmente, acredito que as novas mídias digitais deram um novo impulso ao conceito de Hispanidad, porque através delas podemos nos comunicar, em nossa língua, com pessoas de todo o mundo. Eu mesmo dou entrevistas frequentes a canais hispânicos não apenas na Espanha e na América Latina, mas também nos Estados Unidos. É como falar em seu próprio país, para seu próprio povo.
Não é uma Hispanidad virtual, mas pessoas reais que, cada uma em seu próprio país, se comunicam e se sentem unidas a outras pessoas que compartilham a mesma religião, a mesma língua, a mesma cultura, eu diria a mesma mentalidade. O senhor teria que ver o número de mensagens que recebo: “saudações desde Monterrey”, “um abraço desde Tegucigalpa”, “rezamos por você em Lima” etc. Há um sentimento de pertencer à mesma família, todos filhos do que o poeta peruano José Santos Chocano chamou de “a boa mãe Espanha”. Na verdade, também recebo muitas mensagens da Espanha. E também aqui há muitas “saudações desde Valência”, “escrevo desde Pamplona” etc. O que não acontece com as mensagens do canal em italiano.
Acredito que esta nova realidade abre horizontes inimagináveis para o apostolado católico. Se o senhor adicionar a isso o fato de que os hispânicos são muito comunicativos, o senhor pode entender como a maioria das mensagens chega através do canal em espanhol.
- Em que medida a visão de mundo do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira está presente?

Proclamo-me com honra discípulo de Plinio Corrêa de Oliveira [foto]. Dele aprendi o amor à Santa Igreja e à Civilização Cristã. Fui formado nessa escola e, por isso, raciocino e ajo a partir dessa cosmovisão, que nada mais é do que a católica, apostólica, romana, aplicada aos nossos dias.
Gostaria, no entanto, de salientar um ponto. E eu o apresento com uma memória. Na Santa Missa de Réquiem celebrada por Plinio Corrêa de Oliveira em Milão em 1995, o oficiante Mons. Luigi Villa disse: “Não devemos lembrar de Plínio apenas como um intelectual. Ele foi acima de tudo um grande profeta, enviado pela Providência para nos trazer esperança”. Acho que ele acertou em cheio. O próprio Dr. Plinio escreveu certa vez:
“Quem somos nós? “Na tormenta, na aparente desordem, na aparente aflição, na quebra aparente de tudo aquilo que para nós seria a vitória, somos aqueles que confiaram, que jamais duvidaram, mesmo quando o mal parecera ter vencido para sempre. Somos filhos e seremos heróis da confiança, os paladinos desta virtude! Quanto mais os acontecimentos parecerem desmentir a voz da graça que nos diz — “vencereis” —, tanto mais acreditaremos na vitória de Maria Santíssima!”
Diante da tremenda crise que está abalando a Igreja e a sociedade, uma crise que atinge até os lugares eclesiásticos mais altos e as instituições mais altas, mais de um pode ser tentado a perder a esperança: tudo está perdido, não há mais nada a fazer…
Esta é a pior coisa que pode acontecer a um católico, porque é uma virtude teologal. Quando a esperança se perde, a fé e a caridade também são quebradas.
Este é um ponto central, que distingue o canal “Direto de Roma” de outros canais, talvez bons, mas que se dedicam simplesmente a denunciar a crise e lamentar como as coisas vão de mal a pior, sem se alegrar com as coisas boas e sem indicar uma saída. Quase parece que eles pensam: “quanto pior, melhor, porque me permite me queixar mais”. Pelo contrário, acredito que temos que ter certeza de que, além da crise de hoje, e dos castigos que certamente cairão sobre esta humanidade pecadora e inveterada, temos a promessa do triunfo do Imaculado Coração de Maria.
O canal “Direto de Roma” não só descreve e comenta a crise, mas, acima de tudo, traz uma mensagem de esperança. Um intelectual italiano uma vez descreveu Plinio Corrêa de Oliveira como “pensador da crise, profeta do amanhecer”.
- Como é que Dr. Plinio infundiu nos senhores o amor pela Igreja e pelo ministério petrino?
Plinio Corrêa de Oliveira foi um personagem muito prolífico: intelectual, escritor, jornalista, professor, político, fundador e líder de movimentos cívicos, mestre da vida espiritual. Sua característica central, que une todas essas facetas, é sua fé católica, apostólica e romana. Ele escreveu:
“Não desejo nada mais do que ser um filho da Santa Igreja, um membro da Igreja e obediente à Igreja. Esta é a minha definição. A palavra católica contém tudo o que é bom, belo, verdadeiro e justo no vocabulário humano, nada mais pode ser dito! Se alguém escrevesse como meu epitáfio ‘Fuit vir catholicus’, eu tremeria de alegria de dentro do meu túmulo!”
Este é o amor que Ele nos ensinou. Em uma conferência em 1978, na qual eu estava presente, ele disse:
“Meus caros, há vários aqui eu conheço há trinta anos, conheço há mais do que trinta anos. Eu calculo mal os tempos e as distâncias. Eu conheço talvez há quarenta anos… A esses todos continuamente eu não tenho feito outra coisa senão dizer: ‘Amai a Santa Igreja Católica Apostólica Romana!’… Aquela Igreja a quem amo tanto, que fico até incapaz de falar sobre Ela. E simplesmente ao Lhe pronunciar o nome, eu já sou incapaz de dizer depois o mundo de elogios e de amor que em minha alma existe…
Este é um momento de emoção. Mas esta é a atitude de minha alma em todos os dias, em todos os minutos, em todos os instantes: é procurar com os olhos a Igreja Católica, estar imbuído do espírito d’Ela, tê-lA dentro de minha alma, ter-me inteiro dentro d’Ela. E se Ela for abandonada por todos os homens, na medida em que isto seja possível, sem que Ela deixe de existir, tê-lA inteira dentro de mim. Mas viver só para Ela, de tal maneira que eu possa dizer, ao morrer: ‘Realmente, eu fui um varão católico e todo apostólico, romano! Romano e romano! Apesar de todas as misérias e todas as tristezas que a palavra ‘romano’ possa apresentar’”.
- Quão delicado é ter que relatar sobre Roma em tempos difíceis para a barca de Pedro?
A resposta a esta pergunta decorre diretamente do que foi dito acima. Qualquer análise do que está acontecendo na Igreja, especialmente se for uma análise crítica, deve partir de uma posição de veneração pela Santa Igreja como uma instituição divina fundada pelo próprio Jesus Cristo, que é sua verdadeira Cabeça. Uma instituição que já passou por dois milênios cheia de glória e triunfos, mas também de lacerações e dificuldades. Hoje, a crise moderna na Igreja parece ter atingido um paroxismo.
É evidente que, em muitos pontos, o atual pontificado se afastou, tanto na pastoral quanto na doutrina, da ortodoxia tradicional e até mesmo do Magistério dos dois últimos papas. Com a Declaração Fiducia Supplicans, que permite a bênção religiosa de duplas homossexuais, um extremo sem precedentes foi alcançado. Tudo isso para criar a “nova Igreja sinodal” sonhada pelo Papa Francisco. Uma Igreja que, na opinião de prelados importantes como o cardeal Gerhard Müller, teria pouco a ver com a Igreja de Cristo.
Se somarmos a isso a perseguição sistemática dessas realidades e pessoas que não se curvam a esse projeto devastador, podemos entender por que o número de pessoas que simplesmente não aguentam mais está crescendo exponencialmente. Assistimos, assim, a uma reação cada vez mais ampla e profunda, sobretudo entre os jovens, contra algumas orientações do atual Pontificado. A frente da resistência está progredindo.
Infelizmente, essa reação, que é saudável em si mesma, foi infectada em algumas de suas manifestações por uma espécie de frenesi, fomentado por uma certa propaganda, criando um estado de espírito agitado e arrogante, que muitas vezes dificulta uma análise equilibrada da situação.
Aproveitando o clima frenético, surgiu uma infinidade de “comentaristas” online, alguns com pouca cultura teológica ou canônica, que espalham teorias, cada uma mais rebuscada. Cegos pelo frenesi, um certo número de pessoas, obviamente boas, mas não muito preparadas doutrinariamente, acabam acreditando nessas teorias.
Assim, vemos tendências crescentes para o sedevacantismo e até mesmo para a apostasia. Há até pessoas que dizem que por amor à Igreja temos que deixá-la… Como dizer: por amor ao barco de Pedro temos que pular na água e deixá-lo à sua sorte… O Evangelho nos ensina o contrário. No meio da tempestade que ameaçava virar o barco, Cristo estava dormindo (São Mateus 8, 23-27). Nenhum apóstolo pensou em pular na água. Quando acordou, Nosso Senhor acalmou a tempestade e advertiu seus discípulos: “Por que estão com medo?”
Devemos lembrar: non in commotione Dominus (1 Reis 19:11), o Senhor não está no frenesi.
- Por que é importante divulgar a boa doutrina e os padrões de discernimento que nos são ensinados pelos santos?
Precisamente por causa do clima descrito na minha resposta anterior, torna-se cada vez mais urgente e necessário difundir a boa doutrina. Quantas dores de cabeça nos pouparíamos se, antes de lançar uma opinião para o ar, estudássemos o Magistério da Igreja em questão!
Difundiu-se a falsa ideia de que o Magistério é o que o Papa diz. Assim, haveria tantos Magistérios quantos Papas na história…
Esta não é uma doutrina católica. O critério da verdade é aquele definido por São Vicente de Lerins já no século V: quod semper, quod ubique quod ab omnibus — aquilo que sempre foi acreditado, em todos os lugares e por todos, isso é verdade. É o conceito de Tradição.
Em vez de seguir cegamente o primeiro comentarista que salta no YouTube, por que não ler os documentos do Magistério tradicional e a vida dos santos?
- O que significa para você viver em Roma, no próprio coração da Igreja?
Roma é verdadeiramente caput mundi. Roma não deveria ser a capital da Itália, e de fato não foi até a Unità liberal e maçônica de 1870, mas a capital da cristandade. Todos os católicos somos romanos, e em Roma encontramos nosso lar natural. É por isso que, no tempo dos Estados Pontifícios, cada país católico tinha sua igreja, sua praça, seu bairro. Roma era uma espécie de quebra-cabeça de nações e línguas. A Piazza Spagna, por exemplo, pertencia à Coroa Espanhola, assim como a Piazza Farnese pertencia à França e o Santo Spirito in Sassia ao Ducado da Saxônia. Ainda hoje, muitas áreas de Roma são extraterritoriais.
Paradoxalmente, embora mantenha em muitos aspectos um ambiente de vilarejo, especialmente em seus bairros tradicionais, como Trastevere, Roma é de longe a cidade mais cosmopolita do mundo. Estudantes de todo o mundo vêm aqui para estudar. Padres, bispos e cardeais de todo o mundo vêm aqui para discutir assuntos eclesiásticos com o Vaticano. Caminhando por suas ruas, podemos encontrar um cardeal alemão que vem discutir com o Dicastério para o Clero, um padre mexicano com um grupo de peregrinos de Oaxaca ou um bispo chinês convocado pela Secretaria de Estado.
Acima de tudo, Roma é o fulcro das notícias sobre a Igreja e o Papado. Não apenas com canais oficiais, como a Sala Stampa do Vaticano, mas também com “fontes internas”, “vazamentos de notícias” e simplesmente fofocas.
- Como se pode colaborar com os senhores?
A TFP é uma associação civil sem fins lucrativos, composta exclusivamente por voluntários. Dependemos totalmente da generosidade de nossos amigos para poder realizar nosso apostolado, inclusive no canal “Direto de Roma”. Você pode fazer uma doação clicando neste link: https://www.atfp.it/donazioni
Como é o site da TFP italiana, o link está neste idioma, mas acho que está entendido. De qualquer forma, eles sempre podem enviar um e-mail em espanhol para info@atfp.it
Por Javier Navascués