ECOLOGIA COM ECONOMIA

Agência Boa Imprensa

Agencia Boa ImprensaRecebo pela internet informações surpreendentes. Algumas são simplesmente inventadas, por vezes montagens fotográficas “photoshopadas”, com qualidade geralmente insuficiente para convencer. Memorizo algumas, porém marcando-as com um sinal gráfico de advertência.

Uma delas me diz que o grasnar dos patos e seus parentes — aquele quá-quá gutural e fanhoso — não pode ser reproduzido pelo eco. Como eu não disponho de pato nem de eco para checar se isso é verdade, pensei em indagar do onisciente Google se existe um filme do pato Donald locado numa região de ecos. Acatando piamente como verossimilhante o que Hollywood despeja torrencialmente na cabeça dos incautos, inclusive a proverbial sabedoria dos animais falantes, eu logo saberia se o Donald ouviu o eco daquela sua voz. Mas…

Por que será que entrei nesse labirinto? Ah! Por causa dos dois ecos aí no título. Não é bem o meu tema de hoje, mas acaba vindo a calhar, pois tanto a ecologia como a economia têm tudo a ver com animais falantes. Um escritor declarou que estaria disposto a entender a economia, se o convencessem de que alguém entende. Se os economistas falam do que não entendem, julgo-me no direito de qualificá-los como animais falantes. E as previsões de ecologistas sobre catástrofes climáticas merecem também o crédito de animais falantes. De outra espécie, claro.

Durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil se posicionou contra o eixo Roma-Berlim-Tóquio, os japoneses aqui residentes tornaram-se logo suspeitos e alvo de animosidade injustificada. No relato de uma japonesa sobre a época, chamou-me a atenção que a família dela quase só tinha como alimento as bananas cultivadas em casa, e economizavam comendo até as cascas. Comparando isso com a situação no próprio Japão, onde alguns tiveram de alimentar-se com a grama, a daqui não era tão ruim. Afinal de contas, muitas frutas podem ser comidas com a casca, e a emergência tornava mesmo gostosa a casca de banana.

A esta altura você deve estar achando que novamente me desviei do assunto, e não tenho nada de útil a dizer-lhe sobre ecologia e economia.

(Comer casca de banana!? Eu?!)

Não sejamos radicais, caro leitor, pois em situações de emergência vale o provérbio o que não mata, engorda. Muitos relatos de guerra mostram remanescentes dos exércitos cozinhando as próprias botas para se alimentar, e um filme de Charlie Chaplin apresenta a situação de modo cômico.

Tudo bem, dá para aplicar isso a uma economia de emergência, mas qual a utilidade para a ecologia? Muito simples, quando se considera que a quase totalidade do lixo pode ser reaproveitada ou reciclada. A casca de banana e muitos outros componentes do lixo têm algum tipo de utilidade. Ninguém vai sugerir cascas de banana e de outras frutas como alimentos humanos habituais, mas nada impede que alimentem os animais. Em propriedades rurais, até a água de lavagem dos pratos e talheres alimenta os porcos, e devo supor que eles e as galinhas não farão cara feia se a alimentação incluir cascas de banana, mamão, manga, maçã, pera, uva, caqui, etc.

O lixo urbano equivale a cerca de um quilo e meio por pessoa por dia, e contém grande variedade de resíduos como esses. Quase todo o lixo poderia ser reciclado, ao invés de alimentar a poluição; e no mínimo se pode dizer que isso reduziria o volume de lixo – uma conclusão acaciana. É claro que um economista vai logo perguntar: Compensa? Parece que o conselheiro Acácio não frequentou escolas de economia, e tanto ele quanto eu nutrimos a mesma suspeita: economia não tem nada a ver com o que todos entendem por economizar.

Para responder se compensa, quem não tem preconceitos contra os métodos tradicionais de trabalho dirá que sempre compensou, quando aplicado em pequenas comunidades. E se compensa quando a comunidade é pequena, por que não compensará se for corretamente implantado nas grandes?

Não espere nenhuma resposta coerente de economistas e ecologistas. Acho que vou indagar se o pato Donald tem explicação para isso.

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