Estranha novena na Basílica de Aparecida

Nossa Senhora Aparecida

Ao mesmo tempo em que tribunais brasileiros procuram retirar os crucifixos de seus recintos, permitindo apenas símbolos pagãos ou laicos — como a famosa “deusa da justiça” —, esses símbolos começam a penetrar em ambientes católicos.

Na Basílica de Aparecida, em procissão solene realizada no último dia 5 de outubro, a estranha imagem da “deusa da justiça” (representada por uma mulher vendada, segurando uma balança ou uma espada) ocupou lugar de destaque [foto acima] durante a novena preparatória para a festa de Nossa Senhora Aparecida.

Durante séculos, a Igreja foi substituindo os símbolos pagãos, cristianizando as festas populares, impregnando todas as instituições com o orvalho bendito da Cruz de Cristo.

Sob o influxo dessa Cruz, o paganismo primitivo cedeu lugar ao catolicismo, a barbárie foi vencida pela civilização, e uma miríade de santos percorreu toda a Terra dando testemunho da Verdade, muitos dos quais com o próprio sangue.

Entre esses mártires, não poucos foram mortos pela Justiça dos homens, cega não por uma venda que lhe tapa os olhos, mas pelas máximas do mundo — pagão ou neopagão —, pelas paixões suscitadas por um conceito de justiça estranho à Verdade.

A Cruz de Cristo, por sua vez, nos recorda o julgamento iníquo por excelência, onde o Inocente foi condenado pelos culpados, onde o Justo foi julgado pelos injustos e crucificado por seus pecados.

Poucos atos humanos são tão próprios de Deus onipotente como a administração da Justiça. Por isso, sua prática é revestida de tanta cerimônia e cuidado, de tanta seriedade. Desse ofício participaram santos como Santo Ivo, padroeiro dos advogados, ou mesmo São Tomás Morus, que resistiu ao rei inglês Henrique VIII, em sua rebeldia contra a Igreja.

Fruto dessa ação evangelizadora, o cristianismo elevou a Justiça ao mais alto grau ao subordiná-la à Verdade e temperá-la com a Caridade.

Sem isso, a Justiça não passaria de uma mulher vendada, segurando uma espada, inerte em seu trono de pedra às portas dos Tribunais. Uma Justiça alheia à Verdade, incapaz de conhecer o certo e diferenciá-lo do errado. Distinção esta alcançada através das leis — da Lei divina, da Lei natural e das leis positivas, subordinadas às anteriores. Leis positivas que, contudo, no Brasil, podem mudar como mudam os ventos ou como são interpretadas pelos novos juízes…

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Voltando à Basílica de Nossa Senhora Aparecida, não consta que a referida procissão tenha incluído o símbolo pagão da Justiça (a deusa grega denominada por alguns Dice e, por outros, Têmis) como objeto de culto. O que seria não apenas escandaloso, mas gravemente herético.

Entretanto, o que fica evidente é a existência de um novo influxo: já não é mais o da Igreja cristianizando o mundo, aspergindo com as bênçãos da Cruz todas as instituições, mas sim o mundo neopagão que penetra paulatinamente nos ambientes católicos com suas doutrinas e seus símbolos.

O mais triste é ver como esses fatos ocorrem com inteira “normalidade” entre aqueles que foram chamados a ser o “sal da Terra” e a “luz do mundo”.

Que Nossa Senhora Aparecida — em cuja basílica se adora o “Sol da Justiça”, Nosso Senhor Jesus Cristo (Malaquias 3, 20) e se venera a Rainha e Padroeira do Brasil, possa aquecer os corações dos católicos de nossa época, transformando-os em novos apóstolos capazes de moldar a face da Terra.