“Malditas todas as propriedades privadas”

Encontro “Arena da Paz”, realizado na Arena da cidade de Verona no dia 18 de maio último

Este título estaria bem como lema de uma revolução ou congresso comunista, mas não para um encontro com o Papa Francisco, pois a propriedade privada é não só legítima, mas assegurada por dois mandamentos da Lei de Deus: “não roubar” e” não cobiçar as coisas alheias”.

  • Julio Loredo

O Papa Francisco não é novo na turma da extrema-esquerda latino-americana. Em duas ocasiões (2014 e 2016) ele foi anfitrião do Encontro Mundial dos Movimentos Populares no Vaticano, gesto interpretado por muitos como um endosso pontifício à esquerda populista e à Teologia da Libertação.

Entre os principais organizadores desses encontros estavam o argentino Juan Grabois, líder dos “cartoneros”, e o brasileiro João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Sem Terra (MST).

Partilham eles um ódio crescente ao capitalismo e à propriedade privada, e uma paixão não menos crescente pelo socialismo marxista. “A propriedade privada tem, na sua origem, um grande crime que o tempo nunca poderá lavar”, proclama Grabois, ecoando a famosa frase de Marx e Engels: “Se quisermos resumir o comunismo, é a abolição da propriedade privada”.

Papa Francisco abençoa uma bandeira do MST

Por sua vez, Stédile é muito claro: “Na formação política do MST estudamos Marx, Lenin, Gramsci. Nós nos inspiramos na escola dos marxistas históricos”. O objetivo do MST, segundo ele, é “estabelecer o socialismo”, “derrotar a burguesia”, “controlar o Estado”.

No encontro de 2014, realizado na Antiga Sala Sinodal do Palácio Apostólico, o Papa Francisco encorajou os participantes: “Prossigam com a vossa luta, queridos irmãos e irmãs, isso é bom para todos nós”.

Perguntado pelo Il Fatto Quotidiano sobre esse encontro, João Pedro Stédile respondeu: “O Papa deu uma grande contribuição com um documento irrepreensível, mais à esquerda do que muitos de nós. […] Em dois mil anos nenhum Papa organizou um encontro deste tipo com os movimentos sociais”.

Pedro Stédile no momento do seu discurso

Eis que, dez anos depois, Francisco abraça novamente Stédile, desta vez durante o encontro “Arena da Paz, realizado na Arena da cidade de Verona no dia 18 de maio último.

Dedicado ao tema da paz, o encontro terminou com a publicação de um Documento Final pedindo o fim do “sistema econômico que gera desigualdades e oligarquias” e uma “conversão em clave ecológica integral”.

No seu discurso de encerramento, Francisco não deixou de citar a si mesmo, recordando algumas palavras ditas por ocasião do II Encontro dos Movimentos Populares, realizado na Bolívia em 2015 sob a égide de Evo Morales, de quem recebera um crucifixo blasfemo em forma de foice e martelo.

         A menção não é acidental, uma vez que alguns dos líderes desses movimentos estiveram presentes ao encontro de Verona, a começar pelo próprio João Pedro Stédile.

Abraçando o Papa no ato final, Stédile pediu-lhe que abençoasse uma bandeira do MST, ao que Francisco aquiesceu prazeroso.

Lembremos que, segundo o magistrado Gilberto Thums, que há anos investiga o movimento, “eles [MST] empregam táticas de guerrilha rural para invadir territórios previamente escolhidos pelas lideranças. Mesmo que não sejam exibidos ao público, os manuais da guerrilha são best-sellers nos campos do MST” .

Em seu discurso perante o Papa em Verona, Stédile citou o falecido bispo de São Félix do Araguaia, Brasil: “Gostaria, Santo Padre, de citar um versículo do nosso bispo dos sem-terra, Pedro Casaldáliga. Ele nos disse: ‘Malditas todas as cercas, malditas todas as propriedades privadas

[longos aplausos do público]

que nos impedem de viver e amar’. Obrigado!”.

Dom Pedro Casaldaliga, durante a “Noite Sandinista”, recebe a jaqueta de guerrilheiro das mãos dos líderes sandisnistas, entre eles Daniel Ortega, hoje ditador da Nicaragua [na foto abaixo junto a Frei Betto]

Recordemos que durante a “Noite Sandinista”1 ato ecumênico-socialista realizado em 28 de fevereiro de 1980 no auditório da PUC em Taboão da Serra (SP), com a presença dos líderes sandinistas Daniel Ortega e Pe. Miguel D’Escoto, bem como de clérigos, leigos e pastores protestantes de 42 países, participantes do IV Congresso Internacional de Teologia, do qual aquele evento era parte —, Dom Pedro Casaldaliga, que se autodefinia como “Monsenhor Martelo e Foice”, vestiu o uniforme de guerrilheiro e declarou:

 “Gostaria de agradecer este sacramento de libertação que recebo com os fatos e, se necessário, até com sangue! Vestido de guerrilheiro sinto que estou vestido de padre. A guerra de guerrilha e a Missa são a mesma celebração que nos empurra para a mesma esperança. Devemos dar testemunho do nosso compromisso até à morte!”

O primeiro a analisar as maldições do Monsenhor Martelo e Foice contra a propriedade privada foi o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira no livro “A Igreja ante a escalada da ameaça comunista”2, publicado em 1976. O eminente líder católico traça a história da infiltração comunista na Igreja no Brasil, fazendo então um apelo aos bispos silenciosos para que a detivessem.

Segundo o especialista vaticano Rocco Morabito, então correspondente em Roma do jornal O Estado de S. Paulo, a obra alcançou lugares altos: “Em várias ocasiões foi possível ver nas mesas de trabalho do Vaticano exemplares do livro de Plinio Corrêa de Oliveira A Igreja ante a escalada da ameaça comunista, que contém longas citações de escritos e poemas de DomPedro Casaldáliga.”3

Parece que a infiltração agora atingiu um ponto muito mais alto.

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Notas:

1.Sobre a Noite Sandinista, ver reportagem completa no link https://catolicismo.com.br/Acervo/Num/0355-356/p00.html

2.Esse livro está disponível para download no seguinte endereço: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/Escalada_ameaca_comunista_Apelos_bispos_silenciosos.pdf ]]

3.Ver reportagem sobre a ação maléfica e subversiva do MST na ampla reportagem de Catolicismo disponível no link https://catolicismo.com.br/acervo/Num/0406-407/P01.html