“Não peçam a Deus uma vida mais fácil, mas ombros mais largos”

Louis Saillans
  • Plinio Maria Solimeo

Grande parte da juventude de nossos dias está desorientada e não sabe o que buscar na vida. Procura então nas drogas um mundo irreal, sem responsabilidade, compromisso ou plano definido para o futuro.

Um ex-militar francês, Louis Saillans, depois de passar dez anos nos Commando Marine, uma das unidades mais rigorosas da Marinha Francesa, dedicou-se a partilhar com os jovens sua experiência da vida.

Ele é autor do best-seller Chef de Guerre, que vendeu mais de 50 mil exemplares em um ano. Desde o lançamento do livro, em janeiro de 2021, a pedido de muitos responsáveis de estabelecimentos de ensino, educadores e associações culturais — como também militares, bombeiros e instrutores policiais —, Saillans multiplica conferências por toda a França, falando sobre a necessidade de se ter na vida um horizonte superior, objetivos definidos e gosto pela responsabilidade. “Eu queria ser útil a este mundo tanto quanto possível. Ensinar foi uma forma de concretizar o meu interesse pela ciência e pelo trabalho com crianças e jovens”.

Saillans prossegue: “Os jovens vivem em um ambiente niilista que mata suas ambições, seus sonhos e os deixa por assim dizer no chão. Quero dizer-lhes que eles têm que forçar um pouco esse destino e levantar-se moralmente, pois valores como esforço, dedicação, honra ou sacrifício estão em claro declínio no Ocidente, o que por sua vez provoca o declínio da própria civilização”.1

Por isso ele incentiva os jovens a serem corajosos, não terem medo de agir contra a funesta tendência niilista: “Quanto mais responsabilidade você assumir na vida, em sua família, em suas atividades, tanto mais você crescerá, melhor você se tornará”.2

O experiente ex-militar aconselha, então: “Não recusem as responsabilidades! Não peçam a Deus uma vida fácil, mas ombros mais largos”. Como “a sociedade de hoje produz cada vez mais adultos que querem ser eternamente adolescentes, muitos jovens vivem sem regras elementares de higiene de vida”.3

Aos ouvintes que lhe perguntam o que fazer diante desse quadro negativo, Saillans aconselha coisas aparentemente muito simples, mas que têm sua importância: “Estabelecer primeiro metas muito pequenas, ao seu alcance: arrumar a cama de manhã, ir deitar-se e acordar cedo, pôr em ordem seu quarto, vestir-se bem, chegar sempre na hora, sorrir e cultivar a cortesia. São pequenas vitórias sobre si mesmo que fortalecem a vontade, têm um impacto positivo na vida e lhe permitem seguir em frente, pouco a pouco”.4

Louis Saillans fala com conhecimento de causa, pois serviu durante dez anos em uma unidade operacional da Marinha Francesa especializada em assaltos por mar, contraterrorismo marítimo e extração de nacionais de lugares em perigo, que inclui um grupo especializado na libertação de reféns em alvos marítimos ou terrestres, denominado grupo CTLO (contraterrorismo e libertação de reféns). A seleção de comandos é tão rigorosa que, dos cerca de 170 recrutas que se apresentam anualmente, apenas uma trintena termina o curso.

Nesses dez anos de serviço ativo, Saillans participou de quase todas as ações em que a França esteve envolvida, incluindo seis operações no Exterior, em particular a Operação Barkhane, no Sahel, região que compreende todos os territórios limites do Saara, onde lutou contra os islamitas jihadistas.

Elevado a chefe de comando das forças especiais da Armada francesa, ele diz que essa unidade de elite lhe ensinou “muitas habilidades e valores muito fortes, como a honestidade, o compromisso, o sentido do dever e a responsabilidade”.

Em entrevista a Pamela Ramos5, que lhe pergunta como deve ser um líder, Saillans confirma: “Acho que certos valores são inevitáveis para quem quer ser líder: senso de responsabilidade (responsável pelas vitórias e fracassos de seus homens e dos seus), coragem (manter-se firme quando ninguém mais o faz), carisma (porque é a expressão do caráter) e discernimento (ou ‘deixar agir a fidelidade ao bom senso’ como diz Luís XIV)”.

Ele explica o porquê de tudo isso: “É difícil em nosso mundo, onde tudo passa tão rápido, deter-se e refletir para tomar consciência de nossa sorte. […] É um equilíbrio precário que muitos dos nossos contemporâneos não têm em conta por preguiça ou desinteresse […] Hoje devemos redescobrir o sentido da responsabilidade e reinverter em cada um de nós o sentido do dever, para lutar contra o niilismo ambiental que está aplainando o caminho para o salafismo” (movimento ultra-rígido dentro do islamismo sunita). Sobretudo, “você precisa ter ideias claras, caráter, senso de lealdade e confiança significativa em seus líderes e homens. Este conjunto forma uma grande máquina humana que é muito eficiente e resiliente para lidar com situações muito difíceis. […] Ao contrário do que está na moda hoje, o exército é uma hierarquia de competências por excelência. Ele empurra o melhor para cima, e descarta o menos bom, na busca dos melhores interesses da pátria”.6 Por isso é que tantos jovens são atraídos pela carreira militar, seja nas Forças Armadas, seja nas polícias militares locais.

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Notas:

1.https://www.religionenlibertad.com/personajes/138244914/louis-saillans-fuerzas-especiales-jovenes-nihilismo-dios.html

2. https://www.ouest-france.fr/bretagne/saint-aubin-du-cormier-35140/bretagne-apres-l-ecole-des-forces-speciales-le-commando-fait-classe-683ab452-92d1-11eb-b7ad-118f2f0ec24d.

3.Religionenlibertad

4.https://www.famillechretienne.fr/38297/article/ne-demandez-pas-a-dieu-une-vie-plus-facile-le-message-choc-dun-ancien-militaire

5.https://www.unepageaecrire.fr/chef-de-guerre-entretien-louis-saillans-commando-marine-service-idees/

6.https://www.breizh-info.com/2021/02/28/159747/louis-saillans/).