1. A recente visita do presidente Obama à ilha-prisão de Cuba é o desfecho de um processo de aproximação com os ditadores comunistas. Processo incentivado pelo Papa Francisco e impulsionado pela diplomacia vaticana.
2. Para a causa da liberdade em Cuba, a viagem do Pontífice (em 2015) já tinha constituído um desastre político, devido a seus silêncios e concessões surpreendentes em relação ao regime comunista. Com seu silêncio, o Papa lavou as mãos; contribuiu para sustentar o “muro” comunista; e abraçou os lobos. Muitos fiéis católicos cubanos, da ilha e do exílio, recordam com horror a “peregrinação” do Pastor dos Pastores à toca do velho lobo dos lobos, em cuja consciência pesa a destruição de Cuba, e em cujas mãos há manchas do sangue de jovens católicos que ele mandou fuzilar no “paredón” (pelotão de fuzilamento – imagem abaixo). [Cfr. Matérias de “Destaque Internacional”, em 14, 22 e 27 de setembro de 2015, e artigo de Armando Valladares de 3 de outubro de 2015. Estes textos estão disponíveis em www.cubdest.org).
3. Para a causa da liberdade em Cuba, a recente viagem do presidente Obama, com suas referências públicas à falta de liberdades políticas e econômicas na ilha, pareceria à primeira vista destinada a ser objeto de um balanço diferente. Entretanto, foi tal a legitimação do regime comunista decorrente da visita do presidente norte-americano, que as referências à falta de liberdade ficaram totalmente ofuscadas pelas substanciosas vantagens publicitárias, obtidas gratuitamente, pelos chefes da ilha-presídio.
4. Por exemplo, em reiteradas ocasiões, Obama elogiou as supostas “conquistas” do regime em matéria de “educação” e “saúde”, apesar de ambos os itens constituírem duas garras implacáveis de controle mental e social dos desditosos cubanos desde a mais tenra infância [imagem ao lado]. Além disso, o presidente dos Estados Unidos aderiu totalmente a retórica comunista, que culpa o “embargo” econômico do seu país pela miséria em Cuba, quando a verdadeira causa dessa miséria e opressão é o implacável “embargo” interno do regime comunista contra o povo cubano. Especialmente simbólico foi o fato de Obama fazer-se fotografar na Praça da Revolução, tendo como pano de fundo um gigantesco mural com o rosto do sanguinário guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara [foto abaixo].
5. Desse modo, Obama contribuiu não apenas para legitimar os lobos castristas, mas para colocar o gigante norte-americano psicologicamente de joelhos diante dos pigmeus comunistas cubanos.
6. De outro lado, poucas vezes a fragilidade da retórica comunista ficou tão manifesta como na conferência de imprensa concedida por Obama e Raúl Castro. O ditador foi interrogado por um repórter da CNN, filho de exilados cubanos, sobre os presos políticos em Cuba. As filmagens mostram o descontrole que se apoderou de Castro ao ouvir a pergunta sobre esse tema. O ditador começou nervosamente a colocar e a tirar os audífonos. No final, respondeu em tom arrogante e agressivo, negando a existência de presos políticos, desafiando o jornalista a mostrar os nomes dos prisioneiros para supostamente mandá-los soltar antes de terminar o dia.
7. Logo após a extemporânea reação verbal de Castro, a TV Martí, dos Estados Unidos, entrevistou Elizardo Sánchez, antigo opositor do regime comunista cubano, conhecido por ter uma das mais completas, documentadas e atualizadas listas de presos políticos. Sánchez insistiu várias vezes com seus entrevistadores que algum jornalista estrangeiro apresentasse naquele dia às autoridades comunistas uma lista de presos políticos — que ele estava disposto a fornecer —, a fim de cobrar de Castro o cumprimento de sua promessa. Insistiu ainda que não se podia deixar passar a oportunidade, chegando a oferecer o número de seu celular para combinar a entrega da lista de presos políticos a algum jornalista que desejasse levar adiante essa ideia. Protocolizar a entrega da carta com os nomes dos prisioneiros no Palácio da Revolução, com jornalistas de todo o mundo filmando a cena e servindo como testemunhas, teria sido uma merecida desmoralização do ditador e do regime cubano, caso sua promessa de soltar os presos não se cumprisse. Apesar da insistência de Elizardo Sánchez em não deixar passar tal oportunidade de ouro, não consta que ela tenha se concretizado; passou e quase não mais se falou sobre o episódio.
8. Outro momento da conferência de imprensa, na qual ficou evidente o primitivismo retórico de Raúl Castro, ocorreu quando o ditador começou a enumerar os “direitos” que eram supostamente respeitados em Cuba. Primeiramente citou os propagandeados “direitos” à educação e à saúde. Como já foi explicado, na realidade não são direitos, mas sim instrumentos de controle mental e social. Em seguida, Castro não conseguia enumerar outros “direitos”, balbuciando que eram “dezenas” e “centenas”… No final, com grande esforço, conseguiu acrescentar a igualdade salarial entre cubanos e cubanas. De fato, uma igualdade na miséria, a pior das igualdades [foto ao lado, na capital cubana].
9. É importante mencionar que o presidente Obama convidou 13 dissidentes cubanos para um encontro na sede da embaixada americana em Havana [foto abaixo]. Ocorreu que vários deles expressaram respeitosamente, mas com firmeza, a Obama, a legítima preocupação de que a aproximação com o regime castrista sem exigir sérias contrapartidas em matéria de direitos humanos e de liberdades políticas, está levando a um fortalecimento político do regime; o que, por sua vez, poderá resultar no endurecimento da repressão. Aparentemente, Obama não se impressionou com esses valiosos testemunhos e está disposto a continuar com sua “operação de resgate” do regime cubano. Desse modo, o presidente norte-americano está fazendo ouvidos moucos às advertências dos opositores cubanos.
10. Obama também parece desprezar advertências de importantes figuras do exílio cubano, como o lendário ex-preso político Armando Valladares. Este, em recente artigo no “Washington Post”, advertiu: “A viagem de Obama a Cuba foi um erro gravíssimo, porque concedeu uma perigosa legitimidade a um regime que só em 2015 realizou 8 mil detenções por motivos políticos. A viagem de Obama a Cuba deixa em evidência seu favoritismo para com os mais fortes e seu desprezo pelos mais fracos” (A visita de Obama a Cuba é um erro, “Washington Post”, 21 de março de 2016).
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(*) Notas de “Destaque Internacional” — uma visão “politicamente incorreta” feita a partir da América do Sul. Documento de trabalho (Sábado, 26 de março de 2016). Este texto, traduzido do original espanhol por Paulo Roberto Campos, pode ser divulgado livremente.
Obama nada mais é que um socialista fabiano. Um lobo em pele de cordeiro, que governa o país mais poderoso do mundo. É lamentável!
Excelente artigo!!