Um príncipe rico, médico dos pobres

  • Plinio Maria Solimeo

Como funesta herança da Revolução Francesa, espalhou-se pelo mundo uma legenda negra contra a nobreza e as elites autênticas. Seus membros eram — e, em muitos casos ainda são — considerados sanguessugas de seus pobres vassalos, pessoas egoístas, voltadas somente para si mesmos, vivendo uma vida de luxo e de prazer.

Por mais que se venha mostrando a unilateralidade desse julgamento, e apesar dos inúmeros exemplos em sentido contrário tanto na hagiografia quanto na História em geral, essa legenda continua a encontrar eco entre gente desavisada, trabalhada que é por quase todos os órgãos da mídia, e pelos partidários da esquerda.

Para contrarrestar essa tendência, apresentamos a vida de um nobre, muito rico, que se formou em medicina para poder socorrer gratuitamente àqueles que não tinham meios para um tratamento de saúde. Trata-se de Ladislau Antônio Luís Batthyány Von Nemest-Ujvar [foto acima e abaixo], nascido na mais alta aristocracia húngara no ano de 1870.

Em 1876 seus pais se mudaram para a Áustria. Foi então que um infortúnio se abateu sobre a família. O pai para se casar com outra mulher, abandonou esposa e numerosa prole e, para “legitimar” sua nova união se perverteu ao protestantismo. Pouco depois faleceu a mãe. Na ocasião, Ladislau tinha 12 anos.

Depois de agricultura, estudou química, filosofia e música, mas faltava-lhe algo que desse sentido à sua existência. Depois de muito pensar e rezar, decidiu estudar medicina para poder servir aqueles que não tivessem recursos. Começou os seus estudos em 1896, formando-se na virada do século.

Em 1898, Ladislau se casou com a condessa Maria Teresa Coreth [foto], mulher de profunda piedade. Contrário ao controle artificial da natalidade, como condenado pela Igreja, o casal aceitou todos os filhos que a Providência lhes destinou, isto é, treze. Reinava a melhor das harmonias no lar e a família vivia em perfeita união. Todos assistiam diariamente à Missa, e à noite, recitavam em conjunto o santo Rosário.

Em 1902 Ladislau fundou um hospital, onde começou a trabalhar como clínico geral. Depois se especializou em cirurgia, e por fim se dedicou à oftalmologia, disciplina na qual se tornaria especialista, e cujos conhecimentos lhe seriam muito úteis para assistir aos soldados feridos durante a Primeira Guerra mundial.

O honrado médico experimentou uma profunda renovação espiritual. Em 1914, o Dr. Ladislau herdou de um tio, o castelo de Körmend, na Hungria. E pouco depois recebeu o título de príncipe. No ano seguinte se mudou para o castelo herdado, reservando parte dele para um consultório de oftalmologia para atender os pobres.

O número de pobres que acorriam ao seu consultório em busca de ajuda para outros males, ele passou a exercer também a medicina geral. Em troca, o caridoso médico pedia a eles pela terapia recebida, que rezassem um Pai Nosso por ele. Pois, além do cuidado da saúde física, esse médico visava também o bem espiritual dos seus doentes.

Antes que eles tivessem alta do hospital, ele lhes apresentava uma imagem de Nosso Senhor e um livro espiritual intitulado: “Abra os olhos e veja”, sobre a prática da religião. Essa era uma forma de orientá-los em suas vidas. Por isso e sobretudo por causa de sua piedade, o Dr. Ladislau era considerado “santo” por seus pacientes, e até pela própria família.

Ele tinha consciência de que o resultado de seus atendimentos não dependia de sua perícia, mas da assistência divina. Por isso, antes de fazer uma operação, pedia a bênção e ajuda de Nosso Senhor, convencido de que, como médico, não realizava a obra sozinho, e que a cura era um verdadeiro dom do Deus, de quem se sentia um instrumento.

Mas era necessário que ele, como discípulo de Cristo, participasse também mais de sua Cruz. Ela é o maior tesouro que um homem pode receber. Assim, tinha ele 60 anos quando lhe foi diagnosticado um câncer na bexiga. Para extirpá-lo, ele foi internado no sanatório Low, em Viena.

Na biografia dele,o Vatican News informa que os seus sentimentos cristãos haveriam de se manifestar com força na sua grave doença. Durante ela o doente se correspondia com os seus familiares, escrevendo, entre outras coisas: “Sou feliz. Sofro atrozmente, mas amo as minhas dores e me consola o fato de as poder suportar por Cristo”.

Durante um ano e dois meses o Dr. Ladislau sofreu com paciência e resignação e espírito sobrenatural, falecendo no dia 22 de janeiro de 1931, com fama de santidade, o que levou muitos, especialmente seus antigos pacientes, a invocá-lo como seu intercessor celeste.

Como Vox populi é geralmente a Vox Dei, atendendo a esse clamor popular, no ano de 1944, o arcebispo de Viena e do bispo de Szombathely, na Hungria, começou o seu processo ordinário para a beatificação do “médico dos pobres”. Mas ele não teve sequência, a não ser quando, em 1982, por iniciativa do bispo de Eisenstadt, na Áustria, o processo recomeçou.

Em 11 de julho de 1992 Ladislau fosse declarado Venerável, primeiro passo para a beatificação, que se deu no dia 23 de março de 2003. Agora os devotos do novo beato, aguardam o momento em que a Santa Igreja o coloque no rol dos Santos da Igreja Católica.