Considerações da Irmã Lúcia sobre o valor do Terço

  • Plinio Maria Solimeo

Deparei-me no site católico Aleteia (em 17-2-20) com uma carta da Irmã Lúcia, de dezembro de 1970, dirigida a uma senhora portuguesa responsável por um movimento de piedade, versando sobre o valor da recitação do Terço. Como o tema é muito atual, voltamos a ele.

Tendo esta vidente de Fátima tido a graça de receber várias vezes a visita da Mãe do Céu, ela se torna competente para falar com autoridade sobre esse sacramental, tão prezado por Nossa Senhora.

Por isso a Irmã Lúcia recomenda à referida senhora que insista junto aos de seu movimento na recitação do Terço, porque

“Nossa Senhora pediu e recomendou que se reze o Terço todos os dias, repetindo o mesmo em todas as Aparições, como que prevenindo-nos para que, nestes tempos de desorientação diabólica, nos não deixemos enganar por falsas doutrinas, diminuindo na elevação da nossa alma para Deus, por meio da oração”.

Deixar de pregar sobre o Terço, segundo a vidente, privaria as almas, sobretudo as mais simples, de um alimento divino. Ela diz:

“O Terço é, para a maioria das almas que vivem no mundo, como que o pão espiritual de cada dia; e privá-las ou tirar-lhes esta oração, isto é, diminuir nos espíritos o apreço e a boa fé com que o rezavam é, na parte espiritual […] como se na parte material privassem as pessoas do pão necessário à vida física” […].

“Será bom que à oração do Terço se dê um sentido mais real do que aquele que se lhe tem dado até aqui, de simples oração ‘mariana’. Todas as orações que rezamos no Terço são orações que fazem parte da Sagrada Liturgia; e, mais que uma oração dirigida a Maria, é dirigida a Deus:

A Irmã Lúcia acrescenta:

“O Pai-Nosso nos foi ensinado pelo próprio Jesus Cristo”. E o “Glória ao Pai é o hino que cantaram os Anjos enviados por Deus para anunciar o nascimento do Seu Verbo, Deus feito homem”.

“A Ave-Maria, bem compreendida, não é menos uma oração dirigida a Deus: ‘Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco’. […] Estas palavras foram, com certeza, ditadas pelo Pai ao Anjo, quando o enviou à Terra, para que com elas saudasse Maria. Sim! O Anjo veio dizer a Maria, que ela era cheia de Graça não por ela, mas porque com ela estava o Senhor! […] Quem poderá negar que isto é uma oração e um louvor dirigido a Deus?!”

Continua a Irmã Lúcia:

“Bendita sois vós entre as mulheres e Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus’: Estas palavras, com que Isabel saudou a Maria, foram-lhe ditadas pelo Espírito Santo, diz-nos o Evangelista: ‘Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, […] ficou cheia do Espírito Santo’. Assim, esta saudação é um louvor a Deus: És bendita entre as mulheres, porque é Bendito o fruto do teu ventre; e porque tu és a Mãe de Deus feito homem, em Ti adoramos a Deus como no primeiro Sacrário, no qual o Pai encerrou o Seu Verbo; como primeiro Altar, o teu Regaço; primeira Custódia, os teus braços, diante dos quais se ajoelharam os Anjos, os pastores e os reis, para adorar o Filho de Deus feito homem! E porque tu, ó Maria, és o primeiro Templo vivo da Santíssima Trindade, onde mora o Pai, o Filho e o Espírito Santo; ‘o Espírito virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a Sua sombra. Por isso mesmo é que o Santo, que vai nascer, há-de chamar-se Filho de Deus’ (Lc. 1, 35). E, já que és um Sacrário, uma Custódia, um Templo vivo, morada permanente da Santíssima Trindade, Mãe de Deus e Mãe nossa, ‘roga por nós, pobres pecadores, agora e na hora da nossa morte’”.

A Irmã Lúcia passa a responder a uma objeção: Jesus não é nosso único medianeiro junto ao Pai Celeste? A isso responde ela:

“Certo é que São Paulo diz que há um só Medianeiro junto do Pai. Sim! Como Deus, há um só, que é Jesus Cristo. Mas o mesmo Apóstolo pede que roguem por ele e recomenda que roguemos uns pelos outros. Poderia, então, o Apóstolo crer que a oração de Maria não fosse tão agradável a Deus, como a nossa?! É a desorientação diabólica que invade o mundo e engana as almas! É preciso fazer-lhe frente”.

Escrevendo para uma senhora portuguesa, diz a vidente:

“Portugal, que é tão devoto da Eucaristia e de Maria, seja o primeiro a reconhecer que a oração do Terço não é somente uma oração mariana, mas também Eucarística. E, por isso, nada deve impedir que se possa rezar diante do Santíssimo Sacramento. Em prova disto está que o Santo Padre Pio XI havia concedido indulgência plenária a quem rezasse o Terço diante do Santíssimo. E recentemente foi de novo concedida a mesma indulgência por Sua Santidade Paulo VI”.

Aqui vale a pena dar uma explicação. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “indulgência é a remissão da pena temporal devida pelos nossos pecados já perdoados quanto à culpa, que a Igreja concede fora do sacramento da penitência”. As indulgências podem ser parciais, segundo perdoam parcialmente nossas culpas, ou plenárias, quando perdoam todas nossas dívidas para com Deus.

Por isso é de suma vantagem para os fiéis ganhar uma indulgência plenária. Se eles morrem logo depois de a terem recebido, irão diretamente para o Céu sem passar pelo Purgatório. Essas indulgências têm a vantagem de poder ser aplicadas às almas do Purgatório.

Voltando à Irmã Lúcia, ela insiste sobre o Terço:

“É a oração acessível a todos, e que todos podem e devem rezar. Há muitos que diariamente não assistem à oração litúrgica da Santa Missa; se não rezam o Terço, que oração fazem?! E, sem oração, quem se salvará?! ‘Vigiai e orai para não entrardes em tentação’ […]. É preciso, pois, orar, e orar sempre. Isto é, que todas as nossas atividades e trabalhos sejam acompanhados de um grande espírito de oração, porque é na oração que a alma se encontra com Deus; e é nesse encontro que se recebe graça e força, ainda mesmo quando ela é acompanhada de distrações. Ela leva sempre às almas a um aumento de Fé, ainda que não seja mais que a recordação momentânea dos mistérios da nossa Redenção, lembrando o Nascimento, Morte e Ressurreição do nosso Salvador; e Deus saberá descontar e perdoar o que toca à humana franqueza, ignorância e pouquidade”.