
Crises atuais e esperanças no futuro
♦ Carlos Eduardo Sodré Lanna
Até meados do século passado as festividades religiosas tinham no Brasil importância análoga à das celebrações nacionais. A população católica saía em peso às ruas para comemorá-las condignamente.
As procissões eram imponentes, concorridíssimas, com cunho oficial, acompanhadas por todo o povo, sendo os andores e pálios carregados pelas mais altas autoridades civis e militares.
As de maior importância eram as realizadas durante a Semana Santa e a procissão de Corpus Christi.
Esplendor e pujança
As cidades e vilas eram enfeitadas, as ruas varridas e os trechos por onde passaria o cortejo cobertos com flores perfumadas, pétalas de rosas, ramos de alecrim, begônias e magnólias em homenagem a Nosso Senhor Jesus Cristo. Nas casas havia iluminação do lado de fora, enfeites nas janelas e portas, e os moradores que nelas permaneciam se apresentavam vestidos a rigor nas escadarias.
Acompanhando as procissões, bandas de músicas, irmandades em seus trajes de gala, cavalarianos, autoridades civis, militares e eclesiásticas, estandartes e bandeiras diversas que davam colorido especial ao conjunto. Tudo isso ao som das solenes badaladas dos sinos das diversas igrejas.
Pelo ambiente, um discreto perfume de manjerona e de incenso, e por toda a parte um inefável enlevo religioso dominando e afervorando as almas.
As procissões de Corpus Christi eram as mais festivas e esplendorosas, próprias à ocasião em que a sociedade presta homenagem solene e um culto de adoração ao Rei dos reis e Senhor dos senhores, Nosso Senhor Jesus Cristo, realmente presente na Eucaristia.
As festas religiosas
As datas dos padroeiros das cidades grandes e pequenas eram também muito comemoradas.
Às vezes os festejos começavam dias antes, com tríduos ou novenas. As ruas eram ornamentadas com bandeiras, flores de papel de seda, arcos de bambu e ramos de palmeira. Junto à Igreja realizava-se uma quermesse com barraquinhas de comidas e bebidas típicas da região, além de jogos e diversões variadas.
No dia do Padroeiro, em geral feriado, havia uma alvorada com foguetes e repicar de sinos, lançamento de balões e desfiles folclóricos, culminando com uma grande procissão do padroeiro ou da padroeira da localidade.
E pelas igrejas do Brasil inteiro havia ainda, em outras épocas, Missas diárias muito frequentadas, novenas, terços, coroações de imagens de Nossa Senhora e adorações do Santíssimo Sacramento.
Hoje em dia, infelizmente, com as igrejas semi-desertas e o povo cada vez mais paganizado, o que ainda existe dessas cerimônias não é senão uma sombra do que houve no passado, quando o Brasil era autenticamente católico.
O IV Congresso Eucarístico Nacional
Em quaisquer circunstâncias e sem dificuldade, a Igreja conseguia reunir enormes multidões.
Um exemplo disso foi o IV Congresso Eucarístico Nacional, realizado em São Paulo. Na sessão solene de seu encerramento, no dia 6 de setembro de 1942,mais de 500 mil pessoas — numa cidade então com 1.400.000 habitantes — congregaram-se no Vale do Anhangabaú.
Naquela noite memorável, o então jovem líder católico Plinio Corrêa de Oliveira, que fundaria anos mais tarde a TFP, pronunciou inspirado discurso, cheio de fé e esperança, perante a multidão presente no centro de São Paulo.
Destacamos alguns trechos desse discurso, que poderiam ser perfeitamente adaptados aos dias de hoje, em que o Brasil passa por uma de suas maiores crises política, socioeconômica, religiosa e moral.
Em determinado momento de sua saudação às autoridades civis e militares, ele disse:
“Talvez não fosse ousado afirmar que Deus colocou os povos de sua eleição em panoramas adequados à realização dos grandes destinos a que os chama. E não há quem viajando pelo nosso Brasil, experimente a confusa impressão de que Deus destinou para teatros e grandes feitos esse Pais cujas montanhas trágicas e misteriosas parecem convidar o homem às supremas afoitezas do heroísmo cristão, cujas verdejantes planícies parecem querer inspirar o surto de novas escolas artísticas e literárias, de novas formas e tipos de belezas, e na orla de cujo litoral os mares parecem cantar a glória futura de um dos maiores povos da Terra.
“Quando nosso poeta cantava que ‘nossa terra tem palmeiras onde canta o sabiá, e que as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá’, percebeu, talvez confusamente, que a Providência depositou na natureza brasileira a promessa de um porvir igual aos dos maiores povos da Terra.
“E hoje, quando o Brasil emerge de sua adolescência para a maturidade, e titubeia nas mãos da velha Europa o cetro da cultura cristã, que o totalitarismo queria destruir, aos olhos de todos se patenteia que os países católicos da América são na realidade o grande celeiro da Igreja e da Civilização o terreno fecundo onde poderão reflorir com brilho maior do que nunca as plantas que a barbárie devasta no velho mundo. A América inteira é uma constelação de povos irmãos. Nessa constelação, inútil é dizer que as dimensões materiais do Brasil não são uma figura de magnitude de seu papel providencial.
“Tempo houve em que a história do mundo se pôde intitular Gesta Dei per francos. Dia virá em que se escreverá Gesta Dei per brasilienses. [Agesta de Deus pelos brasileiros].
“A missão providencial do Brasil consiste em crescer dentro de suas fronteiras, em desdobrar aqui os esplendores de uma civilização genuinamente Católica, Apostólica Romana, e em iluminar amorosamente todo o mundo com o facho desta grande luz que será verdadeiramente o lumen Christi que a Igreja irradia. Nossa índole meiga e hospitaleira, a pluralidade das raças que aqui vivem em fraternal harmonia, o concurso providencial dos imigrantes que tão intimamente se inserem na vida nacional, e mais do que as normas do Santo Evangelho, jamais farão de nossos anseios de grandeza um pretexto para jacobinismos tacanhos, para racismos estultos, para imperialismos criminosos. Se algum dia o Brasil for grande, sê-lo-á para o bem do mundo inteiro.
“‘Sejam entre Vós os que governam como os que obedecem’, diz o Redentor. O Brasil não será grande pela conquista, mas pela Fé; não será rico pelo dinheiro tanto quanto pela generosidade.
“Realmente, se soubermos ser fiéis a Roma dos Papas, poderá nossa cidade ser uma nova Jerusalém, de beleza perfeita, honra, glória e gáudio do mundo inteiro.”
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Bibliografia:
- Lendas e tradições brasileiras, F. Brigueiet e Cia. Editores, Rio de Janeiro, 1937
- Folclore das Festas Cíclicas, Rossini Tavares de Lima, Irmãos Vitale Editores, São Paulo,1980
- Gesta Dei per brasilienses, Catolicismo, setembro/1982.
Muito interessante todo o conjunto do artigo linguagem fácil e leve de ser lido com uma análise real do nosso Brasil de outrora autenticamente católico. Do que mais gostei foram as eloquentes palavras deste grande brasileiro e líder católico Plínio Corrêa de Oliveira, que apesar de todas as crises por que temos passado faz um discurso cheio de fé e esperança sobre o futuro do nosso povo.É assim quando diz que na “orla do nosso litoral os mares parecem cantar a glória futura de um dos maiores povos da terra.Se algum dia o Brasil for grande sê-lo-a para o bem do mundo inteiro”, coisas que hoje em dia nenhum político se refere e nem mesmo os dirigentes da Igreja Católica.
Realmente nos dias de hoje o Brasil passa por uma de suas maiores crises politica,socioeconomica, religiosa e moral como escreve o autor deste artigo.Antes de tudo podemos apontar o Partido dos Trabalhadores (PT) como
o grande culpado por este caos em que entramos após treze anos de um total desgoverno que arruinou a economia de nosso país com uma enorme corrupção
em todos os níveis e um saque sistemático dos bens públicos.
Dentro da Igreja Católica uma grave crise se instalou há décadas e a CNBB passou a dar apoio aos governos do PT com as igrejas católicas semi-desertas
e o povo cada vez mais paganizado. Hoje o clero já não representa quase mais
ninguém em um enorme processo de auto-demolição,que não é mais nem sombra de um passado quando o Brasil era autenticamente católico.
Com certeza o Brasil nasceu para ser um país predestinado, no sentido teológico do termo, ou seja: eleito de Deus. Não por acaso foi nele que a Divina Providência fez com que houvesse um homem chamado Plínio Corrêa de Oliveira. Veja-se a Europa, o “velho continente”: França, a “primogênita da Igreja”. Itália, o local que abriga “a cadeira de Pedro”. Espanha, a heroína de grandes batalhas católicas. Portugal, local de gloriosas conquistas. Os quatro, a seu modo, envolvidos no descobrimento e no desenvolvimento do “novo mundo”. Tiveram seu auge. Mas, o que é deles a partir dos últimos dois séculos? A personificação do envelhecimento, não do envelhecimento no sentido de maturidade, mas no sentido de decrepitude. Quase que como um velho que resolveu desistir de viver e se entregar. Enquanto o velho mundo, depois de quase treze séculos de existência se entrega a todo tipo de inimigo, interno e externo, o novo mundo tem empregado seus cinco séculos de vida na formação de sua identidade. Ainda mal adentrou na adolescência em termos de História da humanidade. Mas, como no processo de crescimento de um ser humano, um país, ou um continente, enquanto estrutura orgânica, forçosamente atravessa momentos conturbados. E, quando o indivíduo é predestinado, os obstáculos que se apresentam diante dele podem parecer insuperáveis. O fato é que com intensidade crescente o Brasil vem agonizando desde meados do século dezenove, para não ir muito longe, como se algo quisesse impedi-lo de cumprir sua missão de eleito de Deus. É o objetivo da Criação: conhecer, amar e servir a Deus. Nesse sentido andavam as manifestações culturais do país, como se fosse uma alma humana em formação. De repente a alma é tentada e começa a se desviar do caminho: daquele ser que amava e servia a Deus, surge o ser que só conhece, ama e serve seu próprio umbigo, as paixões, o frenesi. E o amor pela vida se transforma em um desejo mórbido de autodestruição, como uma revolta da criatura contra o criador. O mundo se torna um parque de diversões cheio de brinquedos alucinantes. E Deus é esquecido. Mas aqui, já que se trata de uma “terra em que se plantando tudo dá”, sabemos que a semente do Bem já foi plantada. De tudo o que se conhece, sabe-se que este país nasceu de pais católicos, foi batizado na Igreja Católica, teve um homem cuja memória, cuja obra equivale a ter aceso uma tocha olímpica, iluminando a alma católica deste país. Pessoalmente considero Dr Plínio um farol. Acredito que se todo brasileiro, algum dia, convergir seu pensamento, sua alma, para Aquela que é a Mãe do Bom Conselho, a Virgem Prudentíssima, a Sede da Sabedoria, o Auxílio dos Cristãos, tudo o que hoje se vê com nostalgia, todo esse “choro sobre o leite derramado” há de se tornar a próxima realidade. A realidade da Civilização Católica, aquela que todos desejamos, assim que essa fuligem toda que a cobre for dispersa por força daquela tocha iluminada, que mostra o caminho para Fátima.